Crônicas de conteúdo histórico-cultural sobre artistas, personalidades, políticos e acontecimentos em Duque de Caxias, RJ, projeto concebido pelos jornalistas Alberto Marques e Josué Cardoso.

sexta-feira, novembro 25, 2005

NO LANÇAMENTO DO AUTOMÓVEL GALAXIE, O DIRETOR DE FAZENDA ROUBOU A CENA (Coluna 149)



Lázaro de Carvalho, depois de ocupar a Fazenda, elegeu-se deputado estadual e depois federal

► Ele era um dos poucos homens públicos do Município que conseguia proeza da unanimidade, unindo numa só posição amigos e inimigos, correligionários e adversários: todos o consideravam um homem de difícil trato. Embora figura de destaque do velho PSD-Partido Social Democrático - que tinha em suas fileiras homens da estatura moral e política como Benedito Valadares, José Maria Alckmin, Cristiano Machado, Juscelino Kubitschek - tidos e havidos como os mestres do "jogo político", ele era um homem de posições firmes e inabaláveis. Eleito vice de Joaquim Tenório em 1962, afastou-se do Governo recém empossado por discordar do comportamento do prefeito que ajudara a eleger, mas se negou a liderar uma campanha pelo seu afastamento. E isso tudo apesar do prefeito ser primo e integrante do grupo do deputado Tenório Cavalcante, adversário do PSD de Amaral Peixoto e Coronel Barcelos Feio..

Ele preferiu se dedicar ao seu escritório de contabilidade, cuja carteira incluía os principais empresários do município. Graças a isso, ele integrava a Associação Comercial, a Associação dos Contabilistas e desfrutava de grande prestígio policio. Ele era Lázaro José de Carvalho e, em 1966, filiado ao PMDB devido ao fechamento de todos os partidos pela Ditadura de 64, participou da vitoriosa campanha do Dr. Moacyr do Carmo e, por via de conseqüência, foi convidado e aceitou ocupar a chefia do Departamento de Fazenda, hoje transformado em Secretaria. Eram dias difíceis, pois entrara em vigor o novo Código Tributário Nacional, que acabara com o Imposto de Vendas e Consignações - o tristemente célebre IVC - substituído pelo Imposto sobre Circulação de Mercadorias - mais conhecido como ICM - em que os Municípios tinha uma participação de 25% sobre o que o Estado arrecadava. Como era um imposto novo, havia dúvidas sobre o seu potencial de arrecadação, pois, sendo cobrado em cascata, permitia a dedução do imposto pago em operação anterior.

Homem de fibra e de posições firmes, Lázaro José de Carvalho era do tipo durão, daí conquistar a unanimidade de amigos e adversários. Uma concessionária de automóveis instalada na cidade, pertencente a um conhecido grupo empresarial, decidiu fazer o lançamento de um novo modelo, o mais luxuoso da categoria, em que havia até uma versão com teto de vinil. Era o Galaxie, fabricado pela Ford e o mais caro do País naquela época.

Para exibir esse caríssimo troféu, a agência alugou duas lojas do recém-construído Edifício Cohen, na esquina da Rua Conde de Porto Alegre com a Praça Roberto Silveira, onde hoje funciona a lanchonete La Guimarães. Para atrair a presença dos comerciantes, a agência escolheu a manhã de uma segunda-feira, quando as lojas só abriam as portas a partir das 13h, para o solene lançamento. A cerimônia contou com a participação do prefeito Moacyr do Carmo, do vice-prefeito Ruyter Poubel, vereadores e deputados, como Waldir Medeiros e Carlos de Sá Rego. A cerimônia foi marcada para as 10:00 horas, com o Dr. Moacyr do Carmo cortando a fita simbólica. A seguir, primeiro o prefeito, a seguir o vice, as autoridades presentes foram convidadas a darem uma volta no potente e luxuoso automóvel, o que foi feito no percurso entre a Praça Roberto Silveira e o início da Av. Brigadeiro Lima e Silva, onde hoje fica uma agência da Fiat. Era um avanço tecnológico, pois os carros que serviam ao Gabinete do Prefeito em 1967 era duas caminhonetes do tipo Rural.

Ao saber que a agência abrira a loja às 10h, ao invés das 13h como determinado pela "Lei da Semana Inglesa" aprovada pela Câmara, o diretor do Departamento de Fazenda chamou um dos fiscais e determinou que fosse até a loja, vizinha ao prédio da Prefeitura, autuasse a empresa e determinasse o imediato fechamento da loja. O advogado Mário Miranda, um dos donos da concessionária, tentou argumentar que ali se realizava apenas uma cerimônia de lançamento de um novo modelo de veiculo, sem vendas, pois todos ali, a começar pelo Prefeito, eram apenas convidados. A muito custo e com a intervenção do próprio Moacyr do Carmo, ficou decidido que, tão logo as autoridades deixassem o local, a loja seria fechada, só reabrindo às 13h, como previa a lei da "Semana Inglesa".

Esse era Lázaro José de Carvalho, que se elegeu deputado estadual e federal pelo MDB, que marcou a sua carreira política por uma forma peculiar de atuação: posições sempre firmes, por mais espinhoso que fosse o assunto. Ele morreu em 1996, mas, até os últimos dias de vida, sempre foi reverenciado por amigos e respeitado por adversários por ser um homem não só de coragem, mas de posições firmes!

(Publicada em O MUNICIPAL, Edição Nº 9050 (25-11 a 02-12-2005, pg. 5. CONCEPÇÃO: ALBERTO MARQUES E JOSUÉ CARDOSO. FOTO: ACERVO DO INSTITUTO HISTÓRICO VEREADOR THOMÉ SIQUEIRA BARRETO-CÂMARA MUNICIPAL DE DUQUE DE CAXIAS)

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

FAZENDO JUSTIÇA

Fui testemunha do episódio envolvendo o saudoso Lázaro de Carvalho e os donos da agência de automóveis e o relato foi fiel. Num momento em que tanto se fala em "Caixa Dois" e negócios escusos, faz falta um homem da estirpe do saudoso deputado, querido pelos amigos e respeitado pelos adversários por exibir uma qualidade rara em nossos políticos: a firmeza de atitude!
Parabens ao autor que foi muito feliz na escolha do personagem, uma justa homenagem a um homem de uma só palavra"

10:36 PM, novembro 25, 2005

 
Blogger Unknown disse...

Sou neto do deputado lázaro, estava fazendo uma busca pelo nome dele na internet e encontrei esta matéria. Antes de mais nada, muito obrigado pelas palavras, ele foi e sempre será um grande homem, muito bem descrito em suas palavras.
Ele também foi muito importante na minha formação, ainda me lembro quando andava pelas ruas de Caxias com ele, hábito diário que ele mantinha, e eu criança, ficava impressionado como as pessoas faziam questão de falar com ele e como ele sempre foi solicito com todas.
Realmente, nos dias de hoje, faz muita falta um homem de sua estirpe.

12:12 AM, novembro 24, 2010

 

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