tag:blogger.com,1999:blog-179968452024-03-13T16:55:39.571-03:00PEDAÇOS DA HISTÓRIA DE DUQUE DE CAXIASCrônicas de conteúdo histórico-cultural sobre artistas, personalidades, políticos e acontecimentos em Duque de Caxias, RJ, projeto concebido pelos jornalistas Alberto Marques e Josué Cardoso.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.comBlogger40125tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-82612101297742378842014-12-14T17:42:00.000-02:002014-12-14T17:43:35.147-02:00<h1 style="margin-left: 0cm; text-align: left; text-indent: 0cm;">
<span style="color: cyan;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-large;">ARMANDA ÁLVARO ALBERTO E</span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif; text-align: right; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: x-large;"> </span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif; text-align: right; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: x-large;">A ESCOLA REGIONAL DE
MERITY</span></span></span><b style="text-align: right; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="color: cyan;"> </span> </span></b><b style="text-align: right; text-indent: 1cm;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></i></b><b style="text-align: right; text-indent: 1cm;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> <span style="font-size: small;">Guilherme Peres</span></span></i></b></h1>
<h1 style="margin-left: 0cm; text-align: left; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Naquela manhã do ano de 1920, uma
locomotiva puxando alguns carros de passageiros envolvidos no vapor, parou na
pequena estação de Merity, hoje Duque de Caxias. Dentre os poucos passageiros
que desembarcaram estava uma jovem bem vestida, que olhava curiosa as casas
aninhadas ao longo da via férrea. A visita seria breve. Seu pai, tenente da
Marinha, Álvaro Alberto, a convidara para conhecer a fábrica de explosivos
“Rupturita”, funcionando em uns barracões a poucas quadras afastada do centro,
onde hoje se ergue o edifício “Giupponi”. </span></i></b></h1>
<h1 style="margin-left: 0cm; text-align: left; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Ao chegar àquele lugarejo, ficou
sensibilizada com a população marginalizada que revoava em torno do pequeno
comércio ali estabelecido. Crianças pedintes, jovens em andrajos, alcoólatras,
mulheres e homens envelhecidos prematuramente no trabalho diário do corte de
lenha para abastecer os balões de carvão que salpicavam ao longo da via férrea.</span></i></b></h1>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-eUBC1nRdrnY/VIreyMSjOsI/AAAAAAAAmYs/OqsnPXwCSxA/s1600/ARMANDA%2BALVARO%2BALBERTO.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-eUBC1nRdrnY/VIreyMSjOsI/AAAAAAAAmYs/OqsnPXwCSxA/s1600/ARMANDA%2BALVARO%2BALBERTO.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Armanda Álvaro Alberto, professora, 28
anos, nascida no Rio de Janeiro, filha de um médico, Dr. Álvaro Alberto,
professor e homem de ciência, trazia uma experiência em 1919 na região de Angra
dos Reis. Durante sua permanência ali, iniciou o ensino para cerca de 50
crianças, filhos de pescadores “para as quais não existiam escolas em toda a
redondeza”, diz a própria D. Armanda, “adolescentes mesmo, que não sabiam
sequer dar nomes às cores, salvo as das frutas verdes e maduras, que ignoravam
sua condição de brasileiros”.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Aquela escola ao ar livre, à sombra dos
bambus, sem mobiliário, se foi a escola que iniciou alguns brasileirinhos foi
também a nossa própria escola, a que preparou essa outra, a de Merity”, diz D.
Armanda. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em um barracão doado por Bernardino
Jorge, pai de D. Ondina Jorge Romeiro, esposa do Dr. Romeiro Júnior, que se
notabilizou como médico e político no município, situado no alto de um morro,
D. Armanda instalou a Escola Proletária Merity. O jornal “Tópico” editado em
Duque de Caxias, datado de 23 de agosto de 1958, em reportagem de página
inteira, intitulada “Uma Instituição que Honra a Cidade”, exibe uma fotografia
desse barracão sem paredes onde se vêem os alunos sentados nos bancos e a
cobertura de sapé. Ao fundo uma casa humilde coberta com telhas de canal.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-63ss0K1m4jg/VIrfPVMvAvI/AAAAAAAAmY0/cPPk4_ISXzY/s1600/estal%C3%A7%C3%A3o%2Bde%2Bmeriti.png" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-63ss0K1m4jg/VIrfPVMvAvI/AAAAAAAAmY0/cPPk4_ISXzY/s1600/estal%C3%A7%C3%A3o%2Bde%2Bmeriti.png" height="211" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">Estação de Caxias no Estado Novo</span></b></td></tr>
</tbody></table>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Inaugurada a 13 de fevereiro de 1921, foi a
“célula mater da Fundação Álvaro Alberto”. No discurso apresentado pelo Dr.
Belizário Pena na “Primeira. Conferência Nacional de Educação” realizada em
Curitiba em dezembro de 1927, D. Armanda assim se expressou: “sem um só
programa escrito, tomou desde o começo, no entanto, a feição de um lar-escola,
embora externato com número limitado de alunos, a quem não se dão notas,
prêmios ou castigos. A orientação geral apresentava-se resumida em quatro
cartazes com os dizeres: Saúde – Alegria – Trabalho – Solidariedade”.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Anexo à escola foi fundada a Biblioteca
Euclides da Cunha e organizado um museu “com contribuições trazidas pelos
alunos, da natureza local”, todos mantidos por um grupo de amigos da fundadora
e pela firma F. Venâncio & Cia. (Explosivos Rupturita), da qual nasceu
também um time de futebol, o “Rupturita Futebol Club” composto de operários da
própria fábrica.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Desde o início, dona Armanda havia
planejado dar aulas noturnas para os operários da fábrica de Rupturita.
Entretanto, as dificuldades encontradas esbarravam na falta do professor e a
ausência de luz elétrica que, naqueles idos de 22, ainda era uma esperança; “É
questão de tempo”, diz D. Armanda, “desde que a luz elétrica está a
chegar”. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Em seu relatório no final do primeiro ano
letivo, dona Armanda registra fatos curiosos em relação aos alunos. A
modificação do horário das aulas no próximo ano “será das dez da manhã às duas
da tarde”, justificando que muitas crianças precisavam prestar serviço em casa,
já que era rotina a excessiva ausência por ter que “tomarem conta da casa”,
“estarem sujos seus vestidos” ou “terem ido fazer lenha”. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<br /></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> ENDEMIAS<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> As doenças também eram causas de ausência.
Rodeada de regiões pantanosas onde proliferavam os mosquitos anofelinos, febres
palustres motivavam a fraca assiduidade num universo de 40 alunos. “Em novembro, 17 alunos faltaram às aulas
por esse motivo, num período de dois a sete dias cada um, ao lado do
impaludismo, dos resfriamentos etc”, diz D. Armanda no final do primeiro
ano letivo. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> A
partir de 1922, com a fundação da “Caixa Escolar Dr. Álvaro Alberto”, foi
possível fazer visitas domiciliares periódicas às famílias dos alunos mais
carentes, prestando-lhes assistência médica, com orientação sobre limpeza,
higiene, alimentação e a valorização da vida instituindo o “1º. Concurso de Janelas
Floridas”. “As crianças chegavam pela
manhã” diz a prof. Maria José, ex-aluna e colaboradora de d. Armanda, “e já encontravam um tabuleiro de angu doce
e um latão cheio de mate, que lhes eram oferecido”, surgindo daí o apelido
carinhoso: “Mate com Angu”. A escola era alcançada por uma trilha coleando
entre o capim. “O barro escorregadio dificultava a subida em dias de chuva”,
o que era compensado na chegada, pelo visual da imensa buganvília florida no
portão. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Uma das mais importantes
criações de dona Armanda na Escola Regional de Meriti foi o “Círculo de Mães”, continua a profª. Maria José, “onde os alunos e as mães aprendiam
trabalhos manuais e recebiam noções de higiene. Para isso ela distribuía com os
participantes do curso, sabonetes, pente fino (nesse tempo havia muito piolho),
mercúrio e tamancos. Insistia no banho diário com as pessoas e que as crianças
usassem lencinhos para suar o nariz. Os alunos ela chamava “meus passarinhos”.
Era incapaz de aborrecer-se com eles”. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<br /></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> NOVO PRÉDIO<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Com a transformação da “Caixa Escolar”
em Fundação Álvaro Alberto mantenedora da Escola, da biblioteca e do museu, a
escola em 1924 passou a chamar-se Escola Regional de Merity, lançando um ano
depois, a pedra fundamental para construção do prédio próprio, no amplo terreno
doado pelo Dr. Bernardino Jorge e o Sr. Manoel Vieira (40 x 50), sob o projeto
do arquiteto Lúcio Costa.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-y0Y7TdRzCH8/VIrgDBh6d4I/AAAAAAAAmY8/zsC5BaybGG0/s1600/MATE%2BCOM%2BANGU%2BPROJETO%2BDE%2BLUCIO%2BCOSTA.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-y0Y7TdRzCH8/VIrgDBh6d4I/AAAAAAAAmY8/zsC5BaybGG0/s1600/MATE%2BCOM%2BANGU%2BPROJETO%2BDE%2BLUCIO%2BCOSTA.jpg" height="194" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">Sede da escola o projetado pelo recém <br />formado arquiteto Lúcio Costa</span></b></td></tr>
</tbody></table>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Nascido na França em 1902, filho de pais
brasileiros que exerciam atividades diplomáticas, Lúcio Costa estudou as
primeiras letras na Europa, vindo formar-se em arquitetura pela Escola Nacional
de Belas Artes no Rio de Janeiro. Amigo de D. Armanda aceitou o convite para
elaborar o projeto de construção da Escola, o que fez gratuitamente. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Erguido com donativos em dinheiro e material
de construção “angariados pela” Campanha
de Nossa Casa” na então Capital Federal. O município de Nova Iguaçu ofertou
500$000 (quinhentos mil réis), o único dinheiro do governo recebido pela Escola”, (diz Custódio de Aquino), sendo
entregue ainda inacabada à comunidade em 1928.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Infelizmente ao longo dos anos, com os
processos de reformas e ampliação, teve seu projeto original de linha simples
em estilo rural descaracterizado, perdendo assim a Baixada Fluminense a
oportunidade de possuir em sua área, o único exemplar arquitetônico elaborado
pelo famoso arquiteto. </span></i></b><b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Vencida mais essa etapa de sua luta a
favor do ensino gratuito, D. Armanda assim se manifestava:</span></i></b><b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 45pt 0.0001pt 14.2pt;">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> “Pretendemos,
sim, caminhar passo a passo, de acordo com os recursos que de que formos
dispondo. A base material da obra está aí...Agora...Um símbolo...encontrado, e
de pronto bem interpretado pelas crianças, faz pouco tempo, numa excursão,
exprimirá melhor do que a minha pobre palavra.</span></b></i><i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></b></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 45.0pt; margin-top: 0cm;">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Era um formigueiro em plena, em ordenada atividade. O grupo de
alunos parado, observando. De repente, a professora bate de leve com uma
varinha no formigueiro, lançado pânico entre os insetos. Mas não se deu um
“salve-se quem puder”! Cada formiga adulta, ao fugir, apanhava primeiro na boca
uma larva ou uma ninfa, na ânsia de salvar os pequeninos de sua comunidade.
Evidentemente é este o mesmo mistério sentimento que anima quantos trabalham
pela Escola Regional de Meriti”. (1)<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 45.0pt; margin-top: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Antigas colegas do Colégio
Jacobina se revezavam na coleta de donativos angariados com pessoas e
instituições, participando também a Liga Feminina Contra o Analfabetismo e a
Associação Cristã Feminina, divulgando que essas doações não tinham cunho
caritativo, e sim uma tomada de consciência da sociedade contra o abandono em
que se encontrava o ensino público na área da alfabetização. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 45.0pt; margin-top: 0cm; text-indent: 21.25pt;">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> “O trabalho de Armanda traduziu um
novo olhar para a criança num momento de valorização social da infância. Ela
deixava de ser vista como um adulto em miniatura passando a ser considerada em
sua especialidade. Em 1921, quando a escola começou a funcionar, resultava
muito mais dessa compreensão e do entusiasmo pela educação, do que de um
projeto específico que se desejasse colocar <st1:personname productid="em pr£tica. O" w:st="on">em prática. O</st1:personname> objetivo, no
entanto, era claro: promover a educação integral. Lourenço Filho chamou a
atenção para a independência intelectual de Armanda, característica que
permitiu a singularização de sua obra”. <o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="text-indent: 21.25pt;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Abandonando os métodos do ensino
convencional, D. Armanda usava uma nova forma de lidar com os alunos.
Respeitando sua realidade sócia econômica, a educação era dirigida em forma de
liberdade, porém, associando-se às famílias das crianças, delegava também para
eles, a responsabilidade de conceder seu tempo de recreação, higiene e
deveres. </span></i></b><b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Sem nenhum auxílio oficial, a Escola
Regional de Merity nasceu e cresceu graças ao trabalho abnegado de um grupo de
amigos liderado por D. Armanda, recebendo prestimosos auxílios que nunca
faltaram desde o início: seu irmão almirante Álvaro Alberto e Francisco
Venâncio Filho. Seguindo-se Belisário Pena, Corina Barreiro, Heitor Lira,
Coriolano Martins, Otávio Veiga e o jovem professor Edgard Sussekind de
Mendonça, que se tornaria mais tarde seu esposo, todos pertencentes à
Associação Brasileira de Educação em apoio pedagógico à “Escola Nova”, baseada
na pedagogia Montessoriana criada na Itália por Maria Montessore, e aplicada na
Escola, adaptada às condições sociais brasileiras. “Aprender a fazer, fazendo”,
eliminando-se competições tão presentes na sociedade capitalista. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<br /></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> PROGRESSO<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ainda em 1928, novas realizações vieram
melhorar as condições físicas da região, com a inauguração da nova estrada
Rio-Petrópolis cortando o centro do Distrito, e a construção da ponte de acesso
sobre o rio Meriti, completava com a via férrea, a ligação definitiva ao antigo
Distrito Federal. Acompanhados das professoras, os alunos dessa escola
fizeram-se presentes ao ato festivo organizado pelo povo, recebendo naquela
ocasião, a promessa do governo quanto à chegada da água encanada para o próximo
ano. Promessa não cumprida, e contornada com ajuda da comunidade na abertura de
um novo poço mais profundo. O combate à saúva era preocupação constante, pois a
destruição das hortas e jardins trazia desânimo ao trabalho de professores e
alunos.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O início dos anos trinta encontrou
Getúlio Vargas no poder. Seu interventor no Rio de Janeiro, Ary Parreiras,
tomou conhecimento do trabalho realizado na Escola Regional de Merity, nomeando
em abril de 1932 duas professoras para ali estagiarem, e levarem a prática do
ensino rural às escolas públicas. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Também nesse mesmo ano foi saudada a
chegada da água encanada, junto com a reforma que o prédio exigia a expensas do
Dr. Flávio Lyra. “Finalmente o combate às
saúvas, com o auxílio do Horto Frutícula da Penha, novas mudas puderam ser
plantadas, reconstituindo o “Calendário da Árvores Floridas”. Além de ser
iniciada a criação de galinhas”, diz Ângela Machado em sua monografia: “A
Escola Regional de Meriti”. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Bem relacionada no Rio de Janeiro, dona
Armanda levava frequentemente pessoas ilustres dos meios artísticos e
intelectuais para conhecerem a Escola. “Cada
um plantava uma árvore”, diz ainda a profª. Maria José, “Entre as muitas personalidades que subiram o
morro para ver o trabalho que ela realizava com meninos pobres, de duas me
recordo muito bem, plantaram árvores e retornavam sempre: Roquette Pinto e o
professor Lourenço Filho”. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-Ts8N8ee3Bcg/VIrhDMc1uDI/AAAAAAAAmZE/pAmN5LALXuw/s1600/roque%2Bpinto.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-Ts8N8ee3Bcg/VIrhDMc1uDI/AAAAAAAAmZE/pAmN5LALXuw/s1600/roque%2Bpinto.png" /></a></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em 1934, com a chegada da luz elétrica,
novo ânimo animou aquele empreendimento, com a instalação de um motor na
oficina de carpintaria. Junto com um projetor de cinema (Kodascópio), oferecido
pelo Dr. Roquette Pinto, que exibia semanalmente filmes educacionais fornecido
pelo Instituto Nacional do Cinema Educativo, a Escola também recebeu um rádio. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Médico, antropólogo, etnólogo e
professor, Edgard Roquette Pinto é considerado o pai da radiodifusão
brasileira. Junto com Henrique Morize, ambos criadores e dirigentes da Academia
Brasileira de Ciências, fundaram a primeira emissora do Brasil: a Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Lutou para que os equipamentos de
radiotelefonia instalados na Feira Internacional de 1922 no Rio de Janeiro,
para comemorar o centenário da independência não voltasse para os Estados
Unidos. Convicto do valor educativo e cultural do sistema foi ao ar no dia 1º.
de maio de 1923 sob sua direção: a Rádio Sociedade. Explorando sua
potencialidade para a instrução e educação, serviu de referência para várias
emissoras que surgiram pelo país com o título de “educadora” até 1932, quando
através de um decreto federal criou-se o modelo de radiodifusão comercial que
predominou desde então. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Outro amigo da Escola era o professor
Manoel Bergstrom Lourenço Filho, educador e escritor brasileiro nascido <st1:personname productid="em S ̄o Paulo" w:st="on">em São Paulo</st1:personname> em 1897 onde,
depois de formado, organizou o ensino normal e profissional desse Estado.
Mudando-se para o Rio de Janeiro, planejou e estruturou as atividades do
Instituto de Educação, dirigindo mais tarde o Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos. Deixou alguns trabalhos publicados: “Testes” (1933) “Tendências da
Educação Brasileira” (1940); “Pedagogia de Rui Barbosa” (1954) e livros de
literatura infantil: “Histórias do Tio Damião” (1946); “Pedrinho” (1953). <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Além da educação gratuita”, diz
Custódio de Aquino, acompanhante do trabalho de D. Armanda desde o início, em
artigo escrito para o jornal “Folha da Cidade”, nos trinta anos de emancipação
do município “a Escola Regional de Meriti
fornecia merenda, calçados e assistência médica; promovia campanha pelo
saneamento através de conferências populares, sempre realizadas na sala do
cinema local, proferidas quase todas pelo Dr. Belizário Pena – Apóstolo do
Saneamento Rural”. Esse cinema a que Custódio se refere, era com certeza o
“Cinema Merity”, o único que existia na Cidade, cujo prédio fica próximo à Escola,
na Av. Duque de Caxias, transformado na década de cinquenta <st1:personname productid="em um Hospital Municipal" w:st="on">em um Hospital Municipal</st1:personname>,
e onde hoje funciona um supermercado.
<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<br /></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> REPRESSÃO<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Foram muitas as decepções sofridas por
dona Armanda. Vítima de perseguições políticas injustas no governo Getúlio
Vargas, foi presa em dezembro de 1935 junto com seu marido, o Prof. Sussekind
de Mendonça e com as dirigentes da União Feminina do Brasil, Maria Werneck e
Eugênia Álvaro Moreira, e várias personalidades militantes políticas do mundo
acadêmico e intelectual, entre as quais Olga Benário, mulher do líder comunista
Luiz Carlos prestes. O ”crime” de preocupar-se com o povo era considerado
subversivo. “Mesmo na prisão pedia que
lhes mandassem os cadernos de seus passarinhos”, que era como tratava
carinhosamente seus alunos, que acreditavam estar doente durante sua
ausência. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ainda nesse período, escrevia cartas a
eles dirigidas:</span></i></b><b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-AXppZpJmoeA/VIrhhP0K2sI/AAAAAAAAmZM/2cO7HKNBx5U/s1600/carta%2Bda%2Borus%C3%A7ai%2Bde%2B%2Bd%2Barnabda%2Balvaro%2Balberto.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-AXppZpJmoeA/VIrhhP0K2sI/AAAAAAAAmZM/2cO7HKNBx5U/s1600/carta%2Bda%2Borus%C3%A7ai%2Bde%2B%2Bd%2Barnabda%2Balvaro%2Balberto.jpg" height="320" width="241" /></a><i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Rio de Janeiro, 1 de
março de 1937<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<br /></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Como não posso ir hoje aí
para receber vocês todos no dia da reabertura da nossa Escola, ao menos em
pensamento quero estar perto de vocês.<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Sei que D. Zulmira e D.
Dulce vão fazer tudo para que vocês não sintam a minha falta.<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E sei que vocês também vão
fazer um esforço muito grande para trabalhar, para estudar, para brincar, para
viver na Escola como se eu fosse aparecer de um momento para o outro e abrir os
braços, dizendo o que sempre digo quando chego aí: Bom dia meus passarinhos!<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Meus queridos: alunos não
há de custar muito a chegar o dia em que vocês vão me ver de novo. Enquanto
esse dia não chega, quero ter a certeza de que vocês se lembram de mim: quero
receber cadernos com exercícios feitos por vocês, todas as vezes que o
professor Edgar for dar aula aí.<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Lembre-se mais uma vez que
em nossa escola todos os alunos são irmãos, brancos pretos e mulatos; quero ver
todos trabalhando juntos, ajudando-se um ao outro, brincando sem brigar.<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Tudo que vocês quiserem de
mim, é só me pedir por carta, que para vocês faço com alegria o que é possível
fazer. Que cada semana um aluno, ou mais de um, me escreva, contando o que se
passa por aí: Excursões jogos. Comissão de cada um, doenças etc.<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Escutem: organizem as
comissões de trabalho muito direitinho, por eleição. Só podem votar os alunos
de 10 anos <st1:personname productid="em diante. Os" w:st="on">em diante. Os</st1:personname>
menores podem ser votados, porém não podem votar. Muito cuidado com o museu,
com os livros, com a vitrola. E o nosso jardim? As nossas árvores de frutas? As
nossas flores?<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Para as mães do círculo de
mães e para todas as mães dos meus alunos mando um abraço de amiga.<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Para vocês minhas
crianças, todo o carinho de sua professora muito amiga.
Armanda.
<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></i></b><b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> SANEAMENTO E AMPLIAÇÃO
<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Os anos quarenta foram férteis para a
Escola. A Diretoria de Obras e Saneamento, cujo diretor em 1944 era o
engenheiro Hildebrando de Araújo Góis, mandou abrir a rua dando melhor acesso à
escola e capinar periodicamente o matagal que vicejava nas encostas. Elogiado
por dona Armanda em um de seus registros, assinala que “dentre as campanhas em que se tem empenhado a Escola em favor da
comunidade, certamente a do saneamento é a mais importante. Este ano
satisfez-nos essa aspiração – a maior do povo meritiense – a Diretoria de
Saneamento Rural”. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em 1946 comemorando o Jubileu de Prata,
inaugurou-se com a varanda do prédio que abriga a Escola o pavilhão da
biblioteca, a oficina de trabalhos manuais, e a Rua Belizário Pena recebeu uma
placa com essa justa homenagem, sendo calçada em 1950, pelo então prefeito
Gastão Reis. Anteriormente denominada Rua Santos Dumont, por sugestão da
própria Dona Armanda. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Inserido em sua monografia a “Escola Regional
de Meriti”, a Professora Ângela da Conceição nos mostra um texto original em
manuscrito, que fez parte do programa das festividades do dia 21 de abril do
ano de 1947, realizadas na Escola. Após a abertura da alvorada com o canto do
Hino Nacional, falou sobre a data o Dr. Edgard Sussekind de Mendonça, como
presidente de honra do Centro Cívico. Seguiu-se a leitura do texto da sentença
condenatória de Tiradentes, inauguração do retrato do patrono do Centro, José
Bonifácio de Andrada e Silva, distribuição de doces etc. Dentre os presentes
identificados pela assinatura, destacamos encabeçando a lista: Abdias Rodrigues,
Solano Trindade, o poeta que viveu alguns anos nessa cidade e seguindo-se a de
D. Armanda Álvaro Alberto, inúmeros visitantes.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A primeira subvenção do Governo
Fluminense deu-se na festa dos trinta anos, quando Roberto Silveira, Secretário
do Interior em visita à Escola, ofereceu Cr$ 10.000,00 do Orçamento Estadual,
seguido na promessa pelos vereadores Waldir Medeiros e Zulmar Batista que
submeteram um projeto ao plenário, e aprovado (o primeiro do Município)
oferecendo uma subvenção de Cr$ 20.000,00, recebida integralmente no primeiro
mês, a metade desse valor no segundo mês e no mês seguinte, cortado do
orçamento.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-8GOLhK6y7gA/VIriV5reJ7I/AAAAAAAAmZU/Vqje0Pqs8xk/s1600/ESCOLA%2BMATE%2BCOM%2BANGU2.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-8GOLhK6y7gA/VIriV5reJ7I/AAAAAAAAmZU/Vqje0Pqs8xk/s1600/ESCOLA%2BMATE%2BCOM%2BANGU2.png" /></a></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mais uma vez sem nenhuma ajuda do
governo, “a Escola conseguiu terminar seu
prédio atual de dois pavimentos, com amplas dependências. O mobiliário de suas
instalações foi oferecido pelos moradores de Duque de Caxias, numa campanha
organizada por D. Martha Ignês Rossi, senhor Albino Vaz Teixeira com a
colaboração do jornal “Folha da Cidade”, segundo o jornal “Tópico” de
23/08/58. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Com inauguração festiva no dia 18 de setembro
de 1955, “marcada pela presença de muitos
convidados e amigos, entre eles os professores Zilda Farriá e Luiz Alves de
Mattos, da Associação Brasileira de Educação; Sra. Dina Venâncio Filho, da
Associação Cristã Feminina; Sra. Heloisa Medeiros, Liga Pró-Fraternidade; Sr.
José Giupponi, do Clube dos Quinhentos, em Caxias; Sr. Plínio Armando Baptista,
da Congregação Mariana; Sr. Santos Lemos, do Jornal Luta Democrática; Sra.
Gilda Sussekind de Mendonça e o professor Ovídio Gouveia da Cunha”. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-807_y3D_c7k/VIrjZike5xI/AAAAAAAAmZc/BplM6xYaY7o/s1600/foto%2Bdo%2Bgrupo%2B2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-807_y3D_c7k/VIrjZike5xI/AAAAAAAAmZc/BplM6xYaY7o/s1600/foto%2Bdo%2Bgrupo%2B2.jpg" height="320" width="287" /></a></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O pavilhão da Biblioteca Euclides da
Cunha assim como a Oficina de Trabalhos Manuais Heitor Lyra, que passou a
funcionar num prédio anexo, foi valorizada com a chegada do saudoso José
Montes, professor de marcenaria e entalhador das oficinas Leandro Martins, que
permaneceria fiel a Escola até 2003, quando uma doença ceifou-lhe a vida. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Estive presente a esse evento aceitando
o convite do Dr. Ruyter Poubel. Jovem estudante escrevia uma crônica semanal no
jornal “Folha da Cidade”, e apesar da memória me falhar um pouco, lembro-me de
ter encontrado a Escola festiva como uma adolescente no dia de seu aniversário.
A figura de D. Armanda, com óculos de lentes grossas e vestido florido era
envolvida por todos. Dirigi-me a ela me identificando e recebendo carinhosa
atenção. Apesar da idade, mantinha nos lábios finos um baton carmim, que
realçava seu sorriso e irradiava uma simpatia que até hoje se mantém em minhas
lembranças.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<br /></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> ECOLINHA DE
ARTE<o:p></o:p></span></i></b></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-P6Yb4kumsfI/VIrkcfYbrDI/AAAAAAAAmZk/SBElYO37Uj4/s1600/mate%2Bcom%2Bangu%2Bnova2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-P6Yb4kumsfI/VIrkcfYbrDI/AAAAAAAAmZk/SBElYO37Uj4/s1600/mate%2Bcom%2Bangu%2Bnova2.jpg" height="223" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><b>Vilma, irmã da professora Olga Teira, Barboza <br />Leite, Josias, Menezes, Guilherme, e Nélio <br />Menezes, ao término de uma aula na <br />Escolinha de Arte, que funcionava aos<br /> domingos pela manhã no "Mate-com-Angu"</b>.</span></td></tr>
</tbody></table>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A Escolinha de Arte iniciada em 1957 e que
permaneceu em atividade quase dois anos, dirigida pelo artista plástico Barboza
Leite, reunia aos domingos pela manhã, inúmeras crianças que se espalhavam em
mesas ao ar livre, agitando pincéis com plena liberdade de criação. Participei
a convite de Barboza como seu “assessor”, dissolvendo e distribuindo tintas,
selecionando trabalhos etc., recebendo freqüentemente visitas de incentivo dos
amigos: Josias Muniz, Newton Menezes, Custódio de Aquino, Waldair José da
Costa, Plínio Baptista, Alberto Marques, Nélio Menezes e outros. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-807_y3D_c7k/VIrjZike5xI/AAAAAAAAmZg/e3a1veJ1GeA/s1600/foto%2Bdo%2Bgrupo%2B2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-807_y3D_c7k/VIrjZike5xI/AAAAAAAAmZg/e3a1veJ1GeA/s1600/foto%2Bdo%2Bgrupo%2B2.jpg" height="320" width="287" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;"><b>Plínio Armando Baptista, Nilton Menezes, <br />Waldair José, Alírio, Alberto Marques <br />e Guilherme Peres, fundadores <br />do movimento cultural "Grupo"</b></span></td></tr>
</tbody></table>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em 24 de fevereiro de 1958, uma grande
perda entristeceu os amigos da Escola. Edgar Sussekind de Mendonça falecia
deixado uma lacuna difícil de ser preenchida. O jornal “Tópico” na edição de 10
de maio daquele ano dedicou-lhe um necrológio afirmando que “perdemos mais que
um mestre e escritor. Perdemos um amigo que compreendia e incentivava os
moços... Caxias muito deve a este homem. Aí está a fundação Álvaro Alberto,
mantenedora da Escola Regional de Meriti, que o tinha como secretário e
principal colaborador. Assim Edgard Sussekind de Mendonça, que em vida foi além
de professor do Instituto de Educação, membro da Academia Carioca de Letras,
presidente do Grêmio Cultural Euclides da Cunha, colaborador do Instituto
Nacional do Cinema Educativo, deixa entre os amigos e sua família uma profunda
saudade”. <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">
DESPEDIDA<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em 1963, cansada e sem condições físicas
para continuar o trabalho, dona Armanda resolveu doar a instituição ao Estado.
Entretanto, as exigências burocráticas foram tantas que, em reunião, a
Assembléia Geral Extraordinária dos sócios por unanimidade votou pela retirada
da proposta, aprovando a doação para o Instituto Central do Povo.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em sua festa de despedida no dia 15 de
dezembro de 1963, quando ainda havia a esperança de sua aceitação na rede de
ensino Estadual, a ex-aluna Raquel Solano Trindade, filha do poeta Solano
Trindade, escolhida para proferir o discurso assim se expressou:<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“E
lhes peço, senhores representantes do Estado, quando dirigirem esta Escola,
deixe-a como está: com esses móveis, com esses quadros, com o balanço e as
flores daquelas árvores lá fora, com os concursos Monteiro Lobato, Euclides da
Cunha, com as músicas de natal e São João.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<i><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Tornem a fazer a horta, o
pomar, a sopa do meio dia feita pelos próprios alunos. Voltem ao antigo horário
da Escola, de 9 às 17 horas. E então, senhores, assistirão a outros dois
grandes milagres, o primeiro será ver uma geração de caxienses mais
esclarecida, mais culta, mais trabalhadora. O segundo milagre é que vai dar
nova vida a um coração cansado, que confiou nos senhores, Se os senhores
fizerem isso, darão alegria e juventude ao coração desta grande mulher que é
dona Armanda Álvaro Alberto”.<o:p></o:p></span></b></i></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Edgard Sussekind
de Mendonça” – Jornal “Grupo” – 10\05\1958<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“O Rádio
Educativo no Brasil” - Prefeitura da
Cidade do Rio de Janeiro - Série Memória
– Volume 6 – 3\2003 <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Silva, Ângela da
Conceição Machado da – “A Escola Regional de Meriti: Uma
Experiência Pioneira na Educação” – Monografia. FEUDUC – 2002 - RJ <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Dutra, Maria José
Trindade – “Lição de Mestre / Lição de Vida” Depoimento (Fragmento s\
identificação)<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Aquino, Custódio –
“Escola Regional de Meriti” “Folha da Cidade” - 1973 – Duque de Caxias <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Morais, Dalva
Lazaroni de – “Esboço Histórico Geográfico do Município de Duque de Caxias”.
Arsgráfica -1978 RJ<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Mate com Angú” –
Jornal “Grupo” – Junho 1957 – Duque de Caxias RJ<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Uma Instituição
que Honra a Cidade” – Jornal “Tópico” – 23\08\1958 Duque de Caxias RJ<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="left" class="MsoBlockText">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> (Fotos: Arquivo da Escola Armanda Alvaro Alberto e do Instituto Histórico da Câmara de Vereadores de Duque de Caxias)<o:p></o:p></span></i></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-21525977684647931012012-01-05T03:53:00.002-02:002012-01-05T04:27:47.265-02:00BAIXADA CULTURAL<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-large;">A NAU DOS INFELIZES</span></i></b><br />
<div class="MsoNoSpacing">
<b style="text-align: center;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: orange; font-size: large;"><br /></span></span></i></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<b style="text-align: center;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: orange; font-size: large;"> TRAGÉDIA A BORDO </span></span></i></b><b style="text-align: center;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: orange; font-size: large;">DE UM NAVIO </span></span></i></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<b style="text-align: center;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: orange; font-size: large;"> NEGREIRO BRASILEIRO</span></span></i></b></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> <span style="color: cyan;"> </span></span></i></b><br />
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #f6b26b;">Senhor Deus dos desgraçados!</span></span></i></b></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #f6b26b;">
Dizei-me vós, senhor Deus!<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #f6b26b;">se é loucura... se é verdade <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #f6b26b;">tanto horror perante os céus?!<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: #f6b26b;"> Castro
Alves em “Navio Negreiro” </span><o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Na manhã do dia 6 de setembro de 1842, uma belonave
britânica de 26 canhões denominada H.M.S
.Cleópatra, adentrava a baia de Guanabara para uma escala de alguns dias
destinados ao abastecimento. Sua missão nessa viagem era transportar o
tenente-general sir William Gomm, que ia tomar posse como governador nas ilhas
Maurício.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/--C0hDcYeta4/TwVB8MApbFI/AAAAAAAAMxY/smbkPLDsaFI/s1600/senzala1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/--C0hDcYeta4/TwVB8MApbFI/AAAAAAAAMxY/smbkPLDsaFI/s1600/senzala1.jpg" /></a><b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Ancorado próximo ao porto estava o barco “Malabar”, também
de bandeira inglesa com 64 canhões, no qual fazia parte da tripulação o
reverendo inglês Pascoe Grenfell Hill que por questões pessoais, pediu
transferência para o “Cleópatra”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Extasiado diante da imensidão da baia, o pastor
registrou em seu diário: “A magnificência incomparável da baia do Rio, apertada
na entrada, depois se abrindo em uma circunferência de dezessete léguas; suas
cem ilhas; as montanhas que a envolvem mostrando cada mudança de contorno,
coberta por uma riqueza de verdura do litoral até os cimos... misturando seus
cumes com as nuvens; tudo isso compõe uma variedade e beleza que dificilmente
cansa a vista. A cidade do lado esquerdo da entrada fica a quatro ou cinco
milhas de distância da entrada”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Ao desembarcar em frente ao Hotel Pharoux, comenta o
grande movimento do cais, nos barcos que saíam ou chegavam levando e trazendo
passageiros e víveres dos navios ancorados ao largo. Contemplou uma praça na
qual observou uma grande profusão de frutas e verduras espalhadas pelo chão
apregoadas por escravos.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;"> “Uma alegria
cordial se misturam ao redor de um pequeno fogareiro de carvão onde eles fritam
seus peixes ou cozinham sua raiz de mandioca e batata doce. O trabalho mais
pesado que se vê na rua é o do carregador de café que leva sacos pesados na
cabeça com seus passos acelerados, ao som de chaqualhantes substâncias dentro
de uma bexiga que o chefe do grupo sacode e os outros acompanham cantando”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Critica com veemência o Brasil por sua condição de país
escravista, comentando que os casos de tortura e crueldade não eram divulgados
pelos jornais do Rio de Janeiro, apenas anunciando casos de negros fugidos de
uma jornada sobrecarregada de trabalho e subnutridos “dependendo dos caprichos
do mau humor ou da avareza de seu dono”. Assistiu a um leilão de “mais ou menos
vinte e cinco escravos de ambos os sexos, decentemente vestidos sentados em
bancos atrás de uma mesa comprida, onde um de cada vez subia para ser melhor
examinado pelos arrematadores. Um ar de obstinação parecia expressar seus
sentimentos de degradação por estarem sendo postos à venda.”<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">No dia 14 de setembro daquele ano o “Cleópatra”
levantou ferros singrando majestosamente em direção ao oceano Atlântico,
buscando o continente africano. Ao iniciar essa viajem o pastor Hill não
suspeitava que fosse testemunhar para a posteridade através de seu diário,
talvez o mais contundente registro que temos conhecimento das condições
degradantes de um navio brasileiro destinado ao transporte de escravos, após
ser aprisionado pelos ingleses. Num tom seco e direto, o pastor narra a ventura
desse barco “tumbeiro” denominado “Progresso”, que seguia para o Rio de
Janeiro. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;"> </span><span style="color: orange;">O
APRISIONAMENTO</span><span style="color: cyan;"><o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Deixando as ilhas Maurício, o ‘Cleópatra” dirigiu-se à
foz dos rios da região da costa de Moçambique, infestada de barcos negreiros.
“Um novo interesse aqui se ligava a cada nau que fosse vista. O mercado de
escravos na costa da África no presente momento, está quase confinado aos
distritos de Quelimane e Sofala, tendo cessado no Porto, graças aos zelosos
empenhos dos últimos e do presente governador”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Ancorado fora da barra, no dia 23 de março de 1843 o
comandante mandou uma barca subir o rio em direção a cidade de Quelimane,
trazendo na volta uma carta do governador narrando que dois barcos brasileiros,
o “Desengano” e o “Confidência”, foram capturados pelo brigue “H. M. Lily”,
cuja tripulação composta de brasileiros e portugueses, apresentara-se a ele,
tendo sido devolvidos aos seus respectivos países. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">No dia 31, uma embarcação de dois mastros foi avistada
ao longe “indo furtivamente ao longo da margem” tendo sido fracassada a
tentativa do Cleópatra em contatá-la, alguns escaleres foram enviados “para
vigiarem os pequenos rios ao longo da costa.”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-a90k7fVqXg8/TwVAaD8kuAI/AAAAAAAAMxM/_UQcm9SgEMg/s1600/cais+do+valongo2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="242" src="http://3.bp.blogspot.com/-a90k7fVqXg8/TwVAaD8kuAI/AAAAAAAAMxM/_UQcm9SgEMg/s400/cais+do+valongo2.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">As obras de revitalização da área portuária do Rio revelaram o antigo cais do Valongo, onde desembarcavam os escravos vindos da Áfica.</span></i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;"><br /></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Ao amanhecer do dia 12 de abril “ao voltarmos para
Quelimare, o vigia no alto do mastro principal percebeu a sotavento uma
embarcação que pela distância mal era visível; mas sua localização tendo sido
considerada muito suspeita, a ordem foi de dirigir-se para ela”. Um vento forte
seguido de chuva dificultava a perseguição à estranha embarcação. Após algum
tempo o sol voltou a brilhar revelando próximo um “bergantim de linhas
arrojadas como nós... desmastrado durante a ventania”. De repente o barco içou
as velas pôs-se em fuga desfraldando a bandeira brasileira, em resposta a
bandeira britânica que tremulada no mastro perseguidor. Posicionaram-se os
homens da tripulação em torno aos canhões e ouviu-se o primeiro tiro de advertência
em direção ao bergantim. Seguiu-se mais alguns outros, sendo ignorados pelo
perseguido até que, perdendo distância, arriou as velas e aguardou aproximação
de seu captor.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Um escaler conduziu um oficial para tomar posse do
navio, e substituir a bandeira brasileira pela bandeira britânica, pois
aparentemente não havia dúvidas quanto sua atividade de navio negreiro.
Seguiu-se o capitão acompanhado do narrador deste diário e “um cirurgião para
examinar o estado de saúde a bordo da presa”.
<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">A visão do quadro degradante que o pastor viu, mesmo em
sua narrativa fria é horripilante. Negros nus e famintos se atropelavam no
convés do navio arrebentando barricas de farinha, “a raiz da mandioca em pó;
outros tendo quebrado os caixotes seguravam grandes pedaços de carne de porco e
de boi; e alguns pegaram aves das gaiolas e as devoravam cruas”. Panos torcidos
eram enfiados nos tonéis de aguardente, “um forte rum brasileiro do qual
beberam em excesso”. Os gritos ensurdecedores de alegria foram ouvidos depois
que toda a tripulação inglesa subiu a bordo para livrá-los das correntes de
ferro, as quais muitos deles ainda estavam presos.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Após a tripulação de dezessete homens ser transferida
para o barco inglês composto de três espanhóis e o restante de portugueses e
brasileiros, foi avaliado a situação: tratava-se do navio brasileiro “Progresso”,
deslocando cerca de 140 toneladas procedente de Paranaguá e seguia em direção
ao Rio de Janeiro. Sua carga era composta de 447 negros. “Desses 189 eram
homens, poucos, no entanto, passando dos vinte anos; 45 mulheres e 213
meninos”. Havia um grande número de doentes a bordo, suspeitando-se que a
princípio fosse de 25, mais tarde descobriu-se uma quantidade maior.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Segundo a tripulação o comandante havia perecido
afogado no porto de embarque. Tempos depois se descobriu que ele permaneceu
escondido entre seus subordinados para fugir ao rigor das leis inglesas. Dois
espanhóis e um português voltaram para o barco “Progresso” com a tarefa de
cozinharem para os negros, juntamente com nove marinheiros, um tenente, um
mestre quarteleiro, um contramestre e o pastor Hill, autor do diário do qual
estamos seguindo seu roteiro.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;"> </span><span style="color: orange;"> A VOLTA PARA A ÁFRICA</span><span style="color: cyan;"><o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Ao longo do tombadilho o pastor descreve os negros
recentemente libertados, dormindo, enquanto a nave desliza suavemente à brisa
do mar calmo. Corpos esqueléticos, uns sobre os outros, disputam o pequeno
espaço. De repente, “o céu começou a se encher de nuvens e um nevoeiro
espalhou-se pelo horizonte para barlavento”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Os fortes ventos seguidos de chuva provocaram as cenas
de horror que se seguiram, com os marinheiros querendo chegar até as cordas
para recolher as velas, e a pisotearem os negros que se alvoroçaram aos gritos
acompanhados da ordem de mandar todos descer para o porão. Durante a noite, o
calor sufocante agitou “quatrocentos infelizes seres humanos apertados em um
porão com doze jardas de comprimento... rapidamente começaram a fazer um
esforço para voltar ao ar livre” através das escotilhas fechadas em cima deles.
<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">“A única passagem de ar, o calor sufocante do porão, e,
talvez o pânico da situação inusitada fez com eles pressionassem... se
acumularam nas grades, e agarravam-se a ela lutando por ar. Mas com isso
barravam completamente a sua entrada. Posso afirmar sem exagero que os gritos,
o calor “a fumaça do tormento deles” que subia não pode ser comparadas a nada
desse mundo. Um dos espanhóis avisou-se que a conseqüência disso seria de
muitas mortes.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Pela manhã, cinqüenta e quatro corpos de homens, mulheres
e crianças foram conduzidos para o tombadilho e jogados ao mar. “Era uma cena
horrorosa vê-los passar um a um, os membros enrijecidos cobertos de sangue e de
sujeira” Outros estavam feridos ou fracos demais para se erguer. Haviam sidos
pisoteados. “Alguns ainda tremendo foram deitados no tombadilho para morrer,
água salgada eram jogada sobre eles para revivê-los, e um pouco de água
entornada em suas bocas”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">A refeição daquele dia consistia de farinha e água,
“quase metade de meio litro que eles agarravam com inconcebível avidez... suas
gargantas deviam estar ressecadas pelos choros e gritos que vararam a noite
adentro”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Na véspera de Páscoa, o pastor parece desabafar diante
de tanta degradação: “O mundo não consegue apresentar um espetáculo mais chocante
da desgraça humana do que esse nosso navio apresenta. Parece que uma cena tão
angustiante possa ser testemunhada sem causar um efeito prejudicial no
espectador”. Depois familiarizando-se, ele vai em certo grau insensibilizando
seus sentimentos.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Dia de Páscoa, domingo, 16 de abril. Avistou-se o
“Cleópatra” com sinais de que queria se comunicar, sendo feito a aproximação.
Receberam “um velho português chamado Valerian, para ajudar a reparar nossas
velas que eram velhas e fracas”, e um cirurgião assistente “que começou a
examinar os doentes. A maioria dos casos era de disenteria e de ferimentos
ulcerados. Um homem tinha uma profunda escara infeccionada causadas por
chicotadas. Uma pobre criança de seis ou sete anos perdeu quase todo o dedo
grande do pé comido por “niguas”, ou seja, bicho de pé”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-drIX4ps3a8Y/TwVAOFbjDhI/AAAAAAAAMxA/gPUM4-ZqVCY/s1600/porao+de+negreiro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://4.bp.blogspot.com/-drIX4ps3a8Y/TwVAOFbjDhI/AAAAAAAAMxA/gPUM4-ZqVCY/s400/porao+de+negreiro.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;"><br /></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Na manhã de segunda feira, os meninos que anteriormente
haviam sidos rejeitados à bordo do “Cleópatra” por suspeitas de varíola,
finalmente foram aceitos cerca de cinqüenta, pois se tratava de “violenta
espécie de coceira”. Acompanhados de víveres para alimentá-los, consistindo de
“dois sacos de arroz, um de milho moído, uma boa quantidade de carne-seca...
que só desse último artigo o “Progresso” carregava um estoque suficiente para
alimentar os negros durante dois meses”, além de seiscentos sacos de feijão
miúdo, guardado abaixo do tombadilho dos escravos, arroz inferior, farinha, e
“22 enormes tonéis, cada uma comportando cinco ou seis barricas cada”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Referindo-se ao depósito de provisões o pastor
registra: “armários trancados cheios de cerveja comum e de cerveja preta forte;
barris de vinho; licores de várias espécies; macarrão; vermiceli; tapioca da
melhor qualidade; caixas de picles ingleses, cada uma contendo doze vidros;
caixas de charutos; uva moscatel; tâmaras, amêndoas, nozes etc.etc. Os viveiros
no tombadilho estão cheios de aves e patos e tem onze porcos”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">O “Cleópatra” afastou-se rapidamente dando o último
adeus de despedida. Durante a jornada o espanhol que fazia parte da tripulação
anterior em atividade no navio brasileiro “Progresso”, revelou ao pastor dados
interessantes de sua vil profissão. Narrou que durante os “dois ou três meses”,
em que ficaram à espera do embarque da carga humana na praia, os negros ficaram
muito doentes, “Alguns deles tinham vindos de longe no interior e chegaram em
condições deploráveis e cinqüenta foram rejeitados como incapacitados para
viajar”. Curiosa a resposta do tripulante quando perguntado se acreditava no
fim do tráfego de escravos, que cada vez mais era combatido pelas nações que
assinaram um pacto para esse fim, “ele achava que no Brasil, onde havia grandes
enseadas isoladas que facilitavam o contrabando, haveria uma grande dificuldade
em suprimir o tráfego, embora se a autoridade do governo simpatizasse com a
causa poderia fazer muito”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-W5qhPWCBhVA/TwU_3BxGHzI/AAAAAAAAMw0/MjkJqLANulI/s1600/Rugendas+Slave+Market+Brazil+unknown+artist.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="306" src="http://2.bp.blogspot.com/-W5qhPWCBhVA/TwU_3BxGHzI/AAAAAAAAMw0/MjkJqLANulI/s400/Rugendas+Slave+Market+Brazil+unknown+artist.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Rugendas retratou o mercado de escravos no centro do Rio</span></i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;"><br /></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">O “Progresso” havia sido o quarto navio apreendido
naquele ano. “Em Quelimane, oito ou nove navios pegam sua carga anualmente”
continua o espanhol “e, calculando por baixo, com quinhentos escravos em cada
um... agora nenhum escapa, é um trabalho para homens desesperados... Na costa
leste os negros geralmente são pagos em dinheiro, às vezes em “fazendas”,
algodão grosseiro a um custo mais ou menos de dezoito dólares por homem e doze
por meninos. No Rio de Janeiro, seu valor estimativo é de 500 mil réis por
homens, 400 mil réis por mulheres e 400 mil réis por meninos. Assim sendo uma
carga de quinhentos escravos, a um preço vil, o lucro vai passar de <st1:metricconverter productid="19.000 libras" w:st="on">19.000 libras</st1:metricconverter>”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Uma manhã um negro morreu e foi jogado ao mar. Seu
corpo flutuou em torno do navio batendo contra o casco “de barriga para cima
durante meia hora”. A tripulação ficou temerosa que algum tubarão pudesse
alcançá-lo. Finalmente o cadáver se afastou para todo o sempre. O maior
sofrimento dos negros era a sede. Com a água racionada eles sorviam as gotas de
chuva que pingavam das velas. “Colam seus lábios nos mastros molhados e
engatinham até as gaiolas das aves para compartilhar os alimentos”. Na hora da
refeição, constando de feijão cozido com arroz, a comida era distribuída em
tinas “ao redor das quais eles estão sentados em grupo de dez, e, a um sinal,
começam a mergulhar suas mãos na mistura e com grande habilidade levam o
conteúdo até suas bocas”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">.Um tubarão de grande tamanho foi pescado pela guarnição
e serviu de refeição para os negros que se arregalaram com alegria durante a
refeição. Porém, antes de abrir o peixe, ficaram temerosos “de encontrar restos
dos nossos camaradas falecidos”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Uma febre estranha atacou seis homens da guarnição, inclusive
o pastor. Manoel, o cozinheiro português, foi o primeiro acamar-se com
delírios. “Nessas febres da costa da África é necessário não ficar acovardado;
por que se alguém se acovarda, em quatro dias morre”. E foi o que aconteceu com
Manoel. “O corpo foi costurado dentro de um saco, com um chumbo para fazê-lo
afundar, depois foi trazido para a popa, onde os ingleses e os espanhóis
esperavam, eu li o modelo de Serviço Fúnebre para ser usado no mar: “Entrego
seu corpo com honras no mar, esperando pela sua ressurreição, quando o mar
deverá entregar seus mortos e a vida do mundo ocorrer”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">No final de abril durante uma noite, todos acordaram
com gritos ouvidos no convés dos escravos. Ao verificar o motivo, denunciaram:
“estão roubando água”. Confirmada a denúncia, foram responsabilizados sete
elementos como autores do furto. “O mal resultante dessa delinqüência não é só
da água retirada e sim a sujeira que fica dos trapos que eles mergulham nos
barris para tirar o líquido”. Pela manhã os acusados foram amarrados no convés
“e cada um recebeu de quinze a vinte chibatadas: um espanhol, um inglês e um
negro forte se revezavam na tarefa”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Após vários dias de calmaria o “Progresso” velejava
sereno, acompanhado de cardumes de toninhas com os marinheiros tentando arpoá-las.
Em poucos momentos o céu encheu-se de
nuvens carregadas com os relâmpagos rasgando o horizonte, sinalizando o
recolhimento das velas. Trovões rolaram acompanhando o vento e as ondas que
varriam o convés. Os gritos dos negros recolhidos apressadamente ao porão, o
ranger de cordas e do tabuado faziam crer que o navio estava prestes a se
partir.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Ao se iniciar o mês de maio, o navio seguia sua rota em
calmaria entrando num novo hemisfério. A estação fria se aproximava mantendo os
negros aninhados no porão. “Os negros nus já estavam começando a tremer e a
bater os dentes”, que aumentava a medida que o navio avançava para o norte. As
noites eram geladas e em uma manhã “sete negros foram encontrados mortos e
entre eles uma menina”. A morte estendia suas asas com mais calamidade sobre
esses infelizes. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Em seu diário o pastor registra as cicatrizes de letras
marcadas no peito e nos ombros dos negros, que segundo um português da
guarnição, é para marcar as iniciais de seus respectivos donos. “Quando o navio
chega ao Rio eles podem reconhecer suas propriedades” acrescentando que “a
condição do negro é muito pior no Rio onde eles andam esfarrapados e
maltratados “como um escravo” do que em Havana, onde às vezes está mais bem
vestido do que muito branco”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Nova tempestade colheu o “Progresso” com “vento
violento acompanhado de chuva” ceifando mais vidas de negros recolhidos ao
porão. Pela manhã: “três mortos foram as primeiras coisa que meus olhos viram
no convés; um homem coberto por um cabo de corda, uma coisa horrível e
repugnante; o pobre menino que sofria com bicho-de-pé e que agüentou seu
sofrimento com muita paciência e uma menina, cujos dois olhos ontem estavam
completamente fechados por causa de uma inflamação na cabeça. Suas vidas foram
durante um tempo, uma carga pesada para eles e não poderiam se mais
prolongadas, mas com certeza foram encurtadas pela inclemência do tempo”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">As tempestades se sucediam com freqüência. Ao entrarem
nas zonas de turbulências com nuvens ameaçadoras, antecipava-se o recolhimento
das velas e os negros eram recolhidos ao porão. “Rajadas se sucediam umas às
outras misturando mar e ar em um lençol pulverizador, cegando os olhos do
timoneiro. Ondas subindo altas, acima de nós, jogando para o céu as espumas de
suas cristas e ameaçando engolir o navio a qualquer momento”. Cavalgando sobre
as vagas e rangendo o madeirame, o velho brigue transportava em seu interior
“os gritos agudos dos doentes através da escuridão da noite, subindo acima do
barulho dos ventos e das ondas, pareciam as coisa mais tristes de todos os
horrores desse infeliz navio”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;"><br /></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-b3X6VdiGn8Y/TwU_GoysQHI/AAAAAAAAMwo/veYL0ge0IYM/s1600/Navio-Negreiro-256x300.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-b3X6VdiGn8Y/TwU_GoysQHI/AAAAAAAAMwo/veYL0ge0IYM/s1600/Navio-Negreiro-256x300.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Ao amanhecer a mesma rotina trágica: três corpos jaziam
no convés para serem lançados no mar: “o de um homem e os de dois meninos,
trazidos do porão para o convés”. O homem havia sido surrado por seus
companheiros alguns dias antes, e naturalmente não agüentou a falta de ar no
porão na noite anterior. Dentre as doenças dos negros que se manifestavam à
bordo, “os casos de feridas ulceradas assumiam uma aparência tão horrível que
eu agora mal consigo olhar. Esses pobres pacientes, também estão sem exceção,
atacados de disenteria, da qual eles têm certeza que vão morrer mesmo se
curados das feridas”. O estado de desnutrição era cada vez era evidente na
aparência dos negros transportados pelo “Progresso”. “Um menino que estava a um
estado que não se consegue conceber em um ser humano”, durante a administração
de um remédio composto de camomila,
“Antonio o fez sentar para beber, quando sua cabeça caiu para frente e morreu
nessa posição”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Navegando numa região de calmaria, um horrível mau
cheiro passou a exalar do porão impregnando todo o navio. A mistura das fezes e
do suor dos negros doentes e esqueléticos que não podiam se locomover para o
convés e permaneciam asfixiados num calor sufocante, faziam com que a
tripulação se sentisse incomodada, “e na nossa cabine na popa é quase
intolerável”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">“Aparentemente nada se movia nem no ar nem no mar nem
no céu, exceto os enormes albatrozes, com suas azas de dezesseis pés bem abertas,
dando volta uma atrás da outra e, às vezes passando tão perto, que quase tocam
a grinalda da popa na qual eu estava sentado”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Ao entardecer sombras foram vistas no horizonte
denunciando terras, confirmada ao amanhecer com o aparecimento dos pombos do
Cabo, em conjunto com os albatrozes e várias velas que surgiam ao longe,
suspeitando que fosse a “baia Plettemberg, entre a baia de Algoa e o Cabo,
alguns negros apontam interessados e curiosos para lá, mas um grande número
deles senta-se junto no convés, com suas cabeças descansando nos joelhos
aparentemente em uma apatia total para tudo ao redor”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">A morte ceifaria naquela manhã mais três meninos. Seus
corpos estendidos no convés era parte da rotina diária, “embora, durante os
últimos sete dias os casos fatais tenham atingido uma média de quatro por dia”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">No dia 1º. de junho, o “Progresso” se aproximava da
costa quando foram transportados do porão mais oito corpos, “e agora não
podemos mais nos aventurar a joga-los ao mar como antes, porque as ondas podem leva-los
para alguma praia desabitada da baia na qual entramos ontem à noite”. Na baia
de São Simão, o nevoeiro desfeito deixou ver dezenas de mastros e velas de
barcos que se confundiam ancorados ao largo. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Aproximando-se do cais, o navio lançou ferros, sendo
logo visitado pelo fiscal sanitário. Em seguida o superintendente do Hospital
Naval, também foi a bordo conduzido pelo pastor, já que eram velhos conhecidos,
visitou o porão destinado aos escravos. “Por mais que ele estivesse acostumado
a cenas de sofrimento, ele foi incapaz de suportar a vista, superando tudo o
que ele podia conceber de miséria humana. Uma menina pequena chorava
amargamente, presa entre as tábuas e lutando para libertar seus membros
enfraquecidos, até que lhe deram assistência”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-6_xoofIXJXA/TwU-hJ5C2DI/AAAAAAAAMwQ/WtzAEoiRtSQ/s1600/cais+do+valongo1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="http://3.bp.blogspot.com/-6_xoofIXJXA/TwU-hJ5C2DI/AAAAAAAAMwQ/WtzAEoiRtSQ/s400/cais+do+valongo1.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">As escavações para as obras na área portuária revelou o antigo cais do Valongo, que recebia os escravos vindos da África</span></i></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;"><br /></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Desembarcando no cais e após um descanso, o reverendo
dirigiu-se abordo do “Isis” para
cumprimentar um velho conhecido: sir John Marchal. De volta para a terra
resolveu fazer a última visita ao “Progresso”, onde encontrou mais seis corpos
empilhados no convés junto aos oito do dia anterior esperando para serem
enterrados na praia. Os mais saudáveis já tinham sido embarcados em vagões para
a cidade do Cabo. Cada um dos que era liberado, diz o pastor em seu diário:
“recebia um casaco novo e quente, calças, e eram colocados agasalhados em
confortáveis vagões abertos... passei pelos negros e não os encontrei mais
conformados com a mudança da situação... Cada mulher tinha um cobertor branco
novo, além de roupas... responderam aos seus nomes, mas mostraram poucos sinais
de alegria na ocasião. Dúvida e medo predominavam e seus semblantes pareciam
aqueles das vítimas condenadas”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Durante a limpeza do navio foi encontrado um menino
preso nas taboas do porão em adiantado estado de putrefação. “Parte de uma das
mãos tinha sido devoradas e um olho completamente roídos pelos ratos... os
doentes que desembarcaram ainda são numerosos”. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Após cinqüenta dias da viajem de volta ao continente
africano, chegava ao fim um dos mais dramáticos depoimentos de fatos
abomináveis que envergonham as relações humanas. O “Progresso”, navio
brasileiro apreendido pela bandeira britânica com sua carga infame de 397
negros destinados ao Rio de Janeiro, chegava ao porto próximo à cidade do Cabo
com 223 sobreviventes, reduzidos em 175 homens, mulheres e crianças que
pereceram em condições degradantes. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;"> </span><span style="color: orange;"> POSFÁCIO</span><span style="color: cyan;"><o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;"> Percorrendo o
Rio de Janeiro durante a primeira metade do século XIX, o viajante inglês GT.
W. Freireyss registrou uma visita feita ao mercado do Valongo: “Basta entrar
numa das espaçosas salas de um traficante na Capital, para ver uma porção de
negros recém-chegados divertirem-se à moda do seu país, o que o traficante lhes
permite por que sabe que a falta de movimento e a nostalgia lhes diminuem o
infame lucro. Encontramos aí alguns centos de negros nus e rapados, diversos
tantos na idade como no sexo, que formavam uma grande roda, batendo palmas com
toda a força, acompanhadas com os pés e com um canto gritado e de três notas
apenas”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Após as primeiras visões desta degradação humana,
Freireyss assinala que os navios chegavam com a quarta parte de sua carga
doente, “enquanto outros que trazem consigo o gérmen da moléstia, sucumbem
poucos dias depois da chegada”.<o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Muito já se escreveu sobre a história social do Brasil
desde o processo colonial. O tráfico negreiro é um desses temas que enodoam seu
relato, iniciando com o aprisionamento de uma população ordeira do interior do
continente africano por tribos litorâneas e negociando seus irmãos com
traficantes de nações européias. Famílias inteiras transformadas em escravos
contribuíram durante mais de três séculos para o esplendor econômico dos
impérios coloniais incluindo o britânico, que se travestiu de inquisidor do
tráfego negreiro no século XIX por interesses econômicos. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">Escrevi esse relato resumindo o texto do livro:
“Cinqüenta Dias a Bordo de um Navio
Negreiro”, transcrito do diário de bordo do reverendo Pascoe Grenfell Hill,
garimpado no raríssimo acervo do bibliógrafo e acadêmico José Mindlin,
traduzido por Marisa Murray e publicado recentemente pela José Olímpio Editora, na coleção Baú de
Histórias. <o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNoSpacing">
<div style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: cyan;">
Guilherme Peres</span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></i></b></div>
</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-85301723751896381242011-09-29T20:41:00.008-03:002012-01-05T04:27:20.079-02:00BAIXADA CULTURAL<div align="left">
<em><span style="font-family: verdana;"><strong><span style="color: #ff9900; font-size: 180%;">MARTA ROSSI – A MINEIRINHA<br />QUE DESCOBRIU DUQUE DE CAXIAS<br /></span><span style="color: #33ccff;">Ouvida pela comissão de jornalistas e pesquisadores que participam do projeto “Tarde com História”, promovido pelo Instituto Histórico Câmara de Vereadores de Duque de Caxias, a professora aposentada e agora artista plástica Martha Rossi prestou um emocionado depoi</span></strong><span style="color: #33ccff;"><strong>mento que fará parte dos arquivos do instituto, para posterior aproveitamento por pesquisadores da História de Duque de Caxias.<br />Marta Rossi nasceu, na verdade, em Niterói, de onde sua família se mudou para Ponte Nova, em Minas Gerais, quando ela estava com seis meses de nascida. Por isso, é conhecida entre os amigos como a mineirinha de Ponte Nova. Lá ela estudou desde as primeiras letras num colégio mantido por freiras, onde se formou professora aos l7 anos. Logo depois se casou e foi com o marido morar, primeiro, em Belo H<a href="http://4.bp.blogspot.com/-VTy5hpDdQr8/ToUD7M4g7lI/AAAAAAAALbs/vvNkZ5E-Ilw/s1600/Martha_Rossi.jpg"><span style="color: #33ccff;"><strong><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5657932822466326098" src="http://4.bp.blogspot.com/-VTy5hpDdQr8/ToUD7M4g7lI/AAAAAAAALbs/vvNkZ5E-Ilw/s320/Martha_Rossi.jpg" style="cursor: hand; float: right; height: 204px; margin: 0px 0px 10px 10px; width: 278px;" /></strong></span></a>orizonte, daí vindo para o Rio de Janeiro. Um tio dela tinha um sítio em Parada Angélica, onde ela conheceu uma professora, que apesar de não ser formalmente uma professora, mantinha uma escola rústica em sua casa. Martha Rossi se encantou com o empenho e a dedicação da professora e resolveu procurar o prefeito de Duque de Caxias, onde consegui o emprego pretendido. Era 1949 e o prefeito era Adolfo David. Ela foi trabalhar na Escola Municipal Gastão Reis, na Rua Petrópolis, bairro Corte Oito. Algum tempo depois, ela passou a trabalhar numa </strong></span><a href="http://2.bp.blogspot.com/-pJVQdvIpz7Q/ToUDFRMF-RI/AAAAAAAALbU/0RXlzNL2O2Y/s1600/esta%25C3%25A7ao%2Bde%2Bvila%2Bmeriti.jpg"><span style="color: #33ccff;"><strong><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5657931895909251346" src="http://2.bp.blogspot.com/-pJVQdvIpz7Q/ToUDFRMF-RI/AAAAAAAALbU/0RXlzNL2O2Y/s320/esta%25C3%25A7ao%2Bde%2Bvila%2Bmeriti.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 180px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 286px;" /></strong></span></a><span style="color: #33ccff;"><strong>escola que funcionava junto à Igreja Adventista, na Av. Duque de Caxias, no bairro Itatiaia. Ali ficou sabendo da existência da Escola Regional de Meriti, mais conhecida como “Mate com Angu”, que adotara o Método Montessori de ensino e foi a pioneira no antigo Estado do Rio a implantar o regime de horário integral e o fornecimento da merenda. Num dia inspirado, ela foi visitar a escola, onde conversou com a fundadora da instituição, a professora Armanda Álvaro Alberto, que a convidou para se juntar ao grupo que atendia a cerda de 200 alunos.<br />Em pouc</strong></span><a href="http://4.bp.blogspot.com/-kCY8Ty9oSpk/ToUDRkROe5I/AAAAAAAALbc/SQP-sfwmnfs/s1600/professora%2Barmanda%2Balvaro%2Balberto.png"><span style="color: #33ccff;"><strong><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5657932107189484434" src="http://4.bp.blogspot.com/-kCY8Ty9oSpk/ToUDRkROe5I/AAAAAAAALbc/SQP-sfwmnfs/s320/professora%2Barmanda%2Balvaro%2Balberto.png" style="cursor: hand; float: left; height: 150px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 150px;" /></strong></span></a><span style="color: #33ccff;"><strong>o tempo Martha Rossi se tornou uma peça fundamental na condução da “Regional”, fundada em 1921 como Escola Proletária de Meriti, que acaba de comemorar seus 90 anos de existência. Martha fala com entusiasmo do trabalho que realizou na “Regional de Meriti”, entre os quais a busca por parceiros para garantir a sopa que era servida aos alunos acompanhada por um copo de mate. De caderninho na mão, ela procurava os comerciantes do centro de Caxias em busca de doação, em especial, os mercadinhos, as quitandas e os açougues. Sempre cativante e espontânea, ela conseguia o compromisso da doação semanal de gêneros de primeira necessidade para a elaboração da sopa. Outro programa da “Regional” de grande sucesso era o concurso de “Janelas Floridas”, que visava orientar as mães dos alunos para a importância do cultivo das flores para enfeitar suas casas e, também, a limpeza dos</strong></span><a href="http://4.bp.blogspot.com/-q1FW-cdgFaw/ToUC2AcAokI/AAAAAAAALbM/5sDOo6-qeB4/s1600/escola%2Bregional%2Bem%2Bpedra%2Be%2Bcal.jpg"><span style="color: #33ccff;"><strong><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5657931633714569794" src="http://4.bp.blogspot.com/-q1FW-cdgFaw/ToUC2AcAokI/AAAAAAAALbM/5sDOo6-qeB4/s320/escola%2Bregional%2Bem%2Bpedra%2Be%2Bcal.jpg" style="cursor: hand; float: left; height: 200px; margin: 0px 10px 10px 0px; width: 282px;" /></strong></span></a><span style="color: #33ccff;"><strong> quintais para a impedir a proliferação de animais que pudessem transmitir doenças, como ratos e morcegos. Numa época em que o termo ecologia ainda era desconhecido, a “Regional” já se preocupava em usar a educação como ferramenta importante para a preservação do meio ambiente. E para ajudar a educação, havia o Clube de Mães, que se reunia para ouvir palestras sobre os cuidados com a higiene pessoal e de suas residências, como forma de evitar doenças. E ainda aproveitava esses encontros para ensinar atividades comuns, como bordar, costurar e consertar roupas, experimentar receitas e descobrir a importância de usar os produtos da região, inclusive noções de como manter uma pequena horta no fundo de suas casas, que poderiam fornecer verduras fresquinhas a qualquer hora do dia.<br />Martha Rossi também não se esqueceu do papel importante de alguns colaboradores, como o professor José Montes, que montou uma marcenaria dentro da escola, onde ensinava como transformar um pedaço de maneira num utensílio, brinquedo ou te mesmo numa obra de arte, como era o caso das gravuras em relevo sobre madeira. Lembrou também do professor e artista plástico Barboza Lei (foto ao lado), que criou uma escol</strong></span><a href="http://2.bp.blogspot.com/-FUG9hZoztOs/ToUDgshYyvI/AAAAAAAALbk/_mIv3H47UE4/s1600/barboza%2Bleite.png"><span style="color: #33ccff;"><strong><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5657932367102790386" src="http://2.bp.blogspot.com/-FUG9hZoztOs/ToUDgshYyvI/AAAAAAAALbk/_mIv3H47UE4/s200/barboza%2Bleite.png" style="cursor: hand; float: right; height: 150px; margin: 0px 0px 10px 10px; width: 138px;" /></strong></span></a><span style="color: #33ccff;"><strong>inha de artes, que reunia os alunos da “Regional” para descobrirem, juntos, os segredos da paixão que sempre uniu pincéis, tintas e telas através dos Séculos. Outra iniciativa importante da “Regional” foi criar e manter ativa uma biblioteca, batizada de Euclides da Cunha, que, aos sábados, recebia dezenas de estudantes que lá iam buscar gratuitamente livros emprestados, que eram religiosamente devolvidos, ou realizar pesquisas, uma das principais ferramentas dos alunos da “Regional”. em busca de conhecimento, numa época em que não havia internet, muito menos rádio e televisão. Aliás, o primeiro e único projetor em oito milímetros, que exibia filmes educativos e comédias de um cinema ainda iniciante, foi uma doação do médico Edgar Roquete Pinto (1884-1954), fundador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, atual Rádio MEC, a primeira emissora do Brasil, fato ocorrido em 1923. Naqueles tempos, para ser um ouvinte era preciso cadastrar-se junto à emissora, adquirindo um equipamento para ouvir a programação em casa<br />Como uma escola revolucionária, a “Regional” provocou natural resistências dos donos de escolas particulares e dos pequenos empresários da antiga Vila Meriti. Por conta disso, disseminou-se pela região o apelido pejorativo de “Mate com Angu”, que acabou se tornando uma marca registrada da escola, cujos alunos eram sempre os mais bem colocados nos concursos realizados em escolas do Rio de Janeiro para o ingresso no então Curso Ginasial, hoje absorvido pelo Ensino Fundamental.<br />Preocupada com a qualidade do aprendizado dos alunos, a professora Armanda Álvaro Alberto reuniu um grupo de ex-alunas do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, as primeiras professoras do ensino primário com cursos específicos para a Educação das crianças, encarregadas de avaliar as provas aplicadas pelas professoras da “Regional”. Além de uma deferência às novas professoras, esse processo mostrou-se uma formidável arma de propaganda da eficiência do Método Montessori, adotado pela “Regional”. mas recusados por outras instituições de ensino, que o consideravam muito perigoso do ponto de vista da política vigente no País. Por conta dessas e de outras “novidades”, Da. Armanda Álvaro Alberto acabou na cadeia, de onde enviava cartas aos seus alunos, sempre incentivando que eles se dedicassem aos estudos, se pretendiam um futuro melhor. Já na segunda década do Século XX, uma jovem nascida e criada no aristocrático bairro de Laranjeiras, que trocara a possibilidade de conseguir, pelo casamento, uma grande relevância na sociedade carioca, por implantar uma escola numa vila distante da civilização (o trem só chegou à Baixada em 1913), cujos habitantes andavam descalços, moravam em casas de pau-a-pique (taipa), criavam porcos e galinhas no fundo do quintal de suas casas, bebiam água de poço, eram vítimas da Malária e não sabiam ler ou escrever. A Escola Proletária de Meriti começou a funcionar embaixo das mangueiras que ocupavam um terreno próximo da estação ferroviário, que acabou sendo doado à “Regional” pelo médico e militante político Romeiro Jr., também perseguido por ser muito avançado em matéria de ideologia política, pois insistia em pesquisar ao invés de aceitar, como fato consumado, as idéias defendidas pela maioria dos políticos da época, numa República instaurada por um Monarquista menos de Meio Século antes da fundação da Escola Proletária de Meriti, a nossa “Mate com Angu, orgulho, até hoje, de alunos, ex-alunos e professores.<br />Armanda Álvaro Alberto aproveitava o círculo de amizades de seus pais para buscar ajuda para a “Regional”, acabou conhecendo um jovem arquiteto, que projetou a primeira sede da escola, em alvenaria (antes, as aulas eram embaixo das mangueiras). Esse jovem arquiteto acabou consagrado mundialmente ao ganhar o concurso para fazer o projeto da nova capital. Era um ainda desconhecido Lúcio Costa. Entre dezenas de personalidades que, ao longo do tempo, ajudaram a manter vivo o sonho de Armanda Álvaro Alberto, encontramos nomes como os do médico Roquette Pinto, do escritor e crítico literário Tristão de Ataíde (ou Alceu Amoroso Lima), do professor Edgar Sussekind de Mendonça (marido e parceiro de idéias de Da. Armanda), do educador Francisco Lourenço Filho, do sanitarista Belisário Pena, assistente de Oswaldo Cruz, do advogado Albino Vaz Teixeira, do líder sindical Custódio Aquino, do artista plástico e professor Francisco Barboza Leite e do professor e pensador Anísio Teixeira,<br />Foi nas teorias de Anísio Teixeira sobre educação integral do jovem que a professora Armanda Álvaro Alberto buscou inspiração para implantar a sua Escola Regional de Meriti. E a experiência aqui vivida pelo grupo de colaboradores da Escola foi tão importante, que, já em 1927, a instituição ganhava um voto de aplausos da I Conferência Nacional de Educação, realizada no Paraná. Baiano de Caetité, Anísio Teixeira nasceu em 12 de julho de 1900. Desde jovem, dedicara-se ao setor educacional, onde inspirou ou marcou com sua influência todas as reformas do ensino brasileiro desde a década de 20. Suas idéias muito influenciaram não só a educação brasileira, como o sistema educacional da América Latina Completou o curso secundário no Colégio dos Jesuítas, em Salvador, e o de Direito no Rio de Janeiro; graduando-se em Ciências de Educação pela Universidade de Colúmbia nos EUA. Era o secretário de Educação e Cultura do Distrito Federal, em 1935, quando por iniciativa sua foi instituída a Universidade do Distrito Federal, historicamente a origem da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Um dos criadores da Universidade de Brasília e seu primeiro reitor, o professor Anísio Teixeira era membro do Conselho Federal de Educação quando apareceu morto, em circunstâncias misteriosas e até hoje não esclarecidas, no poço de um elevador, na Praia de Botafogo, em março de 1971.<br />Agora, com o depoimento da professora Marta Rossi, a Escola Regional de Meriti passa a fazer parte, oficialmente, da História de Duque de Caxias.</strong></span></span></em></div>
<em><a href="http://4.bp.blogspot.com/-F0X2zZh5ASE/ToUCdL0gOiI/AAAAAAAALbE/4HzqPxFhG54/s1600/an%25C3%25ADsio%2Bteixeira.jpg"><span style="color: #33ccff;"><strong><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5657931207273364002" src="http://4.bp.blogspot.com/-F0X2zZh5ASE/ToUCdL0gOiI/AAAAAAAALbE/4HzqPxFhG54/s400/an%25C3%25ADsio%2Bteixeira.jpg" style="cursor: hand; display: block; height: 253px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 323px;" /></strong></span></a><strong> </strong><span style="color: white;"><strong>Os professores Edgar Sussekind de Mendonça e Anísio Teixeira (de pé) Martha Rossi, sua filha Silvana Rossi e Armanda Álvaro Alberto (sentadas) em flagrante feito durante uma sessão especial num dos cinemas do Rio de Janeiro</strong> </span></em>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-6442349214640108652011-09-15T19:25:00.007-03:002011-09-15T19:42:45.978-03:00TARDE COM HISTÓRIA<span style="font-family:verdana;"><strong><em><span style="font-size:180%;color:#ff9900;">GETÚLIO GARANTE: HIDEKEL<br />NÃO CONFIAVA EM LACERDA<br /></span></em></strong></span><br /><div><span style="font-family:verdana;color:#33ccff;"><strong><em>Segundo entrevistado do projeto “Tarde com História”, do Instituto Histórico da Câmara, o empres</em></strong></span><a href="http://2.bp.blogspot.com/-_0rD7YrpqbA/TnJ9MuUv9bI/AAAAAAAALPw/-v6qDd8WvIk/s1600/getulio%2Bgon%25C3%25A7alves2bb.jpg"><span style="font-family:verdana;color:#33ccff;"><strong><em><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 287px; FLOAT: left; HEIGHT: 206px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5652718139850356146" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/-_0rD7YrpqbA/TnJ9MuUv9bI/AAAAAAAALPw/-v6qDd8WvIk/s320/getulio%2Bgon%25C3%25A7alves2bb.jpg" /></em></strong></span></a><span style="font-family:verdana;"><strong><em><span style="color:#33ccff;">ário Getúlio Gonçalves, presidente da Associação Comercial e Industrial do município há 32 anos, prestou depoimento na segunda-feira (12), quando falou sobre o quebra-quebra de 5 de julho de 1962, que deixou uma dezena de mortos, muitos feridos e arrasou o comércio de gêneros alimentícios de Duque de Caxias.<br />O depoimento foi prestado diante de uma banca presidida pelo vereador Mazinho, presidente do Legislativo municipal e autor da ideia do “Tarde com História”. A banca era integrada por jornalistas, historiadores e pesquisadores do município. O tema central do seu depoimento foi o quebra-quebra, que Getúlio garantiu que começou com um protesto organizado por dirigentes sindicais no então Estado da Guanabara como forma de hostilizar o então governador Carlos Lacerda, udenista e ferrenho adversário de Jango e do PTB. Como o governador tinha o apoio dos líderes da Marinha e da Aeronáutica, Lacerda colocou a Polícia nas ruas e os organizadores do protesto resolveram partir para a Baixada, que pertencia ao antigo Estado do Rio.<br /></span><br /></em></strong></span><span style="font-family:verdana;"><strong><em><span style="font-size:180%;color:#ff9900;">A MORTE DE IMPARATO<br /><br /></span><span style="color:#33ccff;">Getúlio também falou da tentativa de assassinato do então deputado Tenório </span></em></strong></span><a href="http://3.bp.blogspot.com/-kmfF8UjiBqo/TnJ873VjZOI/AAAAAAAALPo/k3F1gWIcuOE/s1600/chap%25C3%25A9u%2Bde%2Bten%25C3%25B3rio.jpg"><span style="font-family:verdana;color:#33ccff;"><strong><em><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 237px; FLOAT: left; HEIGHT: 213px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5652717850211869922" border="0" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/-kmfF8UjiBqo/TnJ873VjZOI/AAAAAAAALPo/k3F1gWIcuOE/s320/chap%25C3%25A9u%2Bde%2Bten%25C3%25B3rio.jpg" /></em></strong></span></a><span style="font-family:verdana;color:#33ccff;"><strong><em>Cavalcante, durante um baile na Associação Comercial no dia 25 de Agosto de 1953, envolvendo o alcagüete conhecido como Bereco, homem de confiança do delegado de polícia Albino Imparato. O incidente ocorreu devido á intenção de Bereco, cumprindo ordens do delegado, de entrar na Associação Comercial para revistar os presentes, em busca de armas. No momento, era realizado um baile em comemoração ao “Dia do Soldado”. No incidente do baile, Getúlio Gonçalves fora um dos participantes que impedira a entrada de “Bereco” e assistiu a troca de tiros que se seguiu, envolvendo também o deputado federal Peixoto Filho, que estava (armado) na festa e resolvera defender Tenório. No na noite do dia 28, Bereco e o delegado foram mortos na porta de um dos hotéis do centro da cidade, local de encontros amorosos. Tenório Cavalcante acabou sendo apontado pela Polícia como mandante do duplo homicídio, tendo como ponto de partida o incidente do dia 25, bem como uma visita de Tenório Cavalcante ao gabinete do delegado poucos dias depois da sua posse, onde Imparato arrancara com um tapa o inseparável chapéu que o “Homem da Capa Preta” sempre usou, sob a justificativa de que, pe</em></strong></span></div><span style="font-family:verdana;color:#33ccff;"><strong><em><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 332px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5652717174770056978" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/-PDWuQRMrIZk/TnJ8UjHrPxI/AAAAAAAALPg/70ULMw_sOII/s400/fortaleza%2Bde%2Btenorio%2B2" />rante uma autoridade (Imparato), Tenório não podia usar cobertura (chapéu).<br />O delegado Albino Imparato, de uma tradicional família paulista que decidira ser policial no antigo Estado do Rio, fora designado pelo então Secretário de Segurança Pública do antigo Estado do Rio, coronel Barcelos Feio – homem de confiança do governador Ernane do Amaral Peixoto – para comandar a Delegacia de Polícia de Duque de Caxias (um pardieiro no Nº 311 da Avenida Plínio Casado), que ficava a menos de 100 metros da “Fortaleza”, nome pelo qual era conhecida a residência de Tenório Cavalcante.<br />A principal missão de Imparato era investigar a vida pregressa do “Homem da Capa Preta”. Por esse motivo e tendo por linha de investigação o incidente na porta da Associação Comercial do município, Tenório passou a ser apontado como mandante do duplo homicídio pelo Delegado Wilson Fredericci, encarregado das investigações, enquanto a autoria material era atribuída a um primo do deputado, Pedro Tenório. Por conta dessa investigação, Wilson Fredericci organizou uma operação para invadir a “Fortaleza”, reunindo policiais civis e militares do antigo Estado do Rio. A invasão só não ocorreu por interferência de senadores e deputados, amigos de Tenório, que resolveram acampar na “Fortaleza”, pois Tenório anunciara que iría resistir ao cerco policial e dali só sairia morto. Temendo uma carnificina, o Governo do Estado suspendeu o cerco.<br /><br /></em></strong></span><span style="font-family:verdana;font-size:180%;color:#ff9900;"><strong><em>O QUEBRA-QUEBRA EM CAXIAS<br /><br /></em></strong></span><span style="font-family:verdana;color:#33ccff;"><strong><em>Em seu longo depoimento (cerca de duas horas) Getúlio Gonçalves revelou que o quebra-quebra ocorreu no dia 5 de julho de 1962, em decorrência de uma greve geral decretada pelos sindicatos ligados ao Governo João Goulart, como forma de protesto pelo Congresso Nacional haver negado o voto de confiança para que San Thiago Dantas fosse nomeado Primeiro Ministro do jovem parlamentarismo brasileiro, implantado pelo Congresso em 1961 diante da pressão dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, que não aceitavam dar posse ao vice João Goulart depois da renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961. O Parlamento preferiu o senador Auro Moura Andrade, senador do PSD-SP e um dos mais fortes criadores de gado do País na época.<br />A greve coincidiu com uma longa crise no abastecimento de gêneros de primeira necessidade, onde o Governo, através da COFAP – Comissão Federal de Abastecimento e Preços – pressionava os varejistas a cumprirem uma irreal tabela de preços para arroz, feijão e açúcar, ao mesmo tempo em que permitia que os atacadistas, concentrados na Rua do Acre, no Centro do Rio, cobrassem um “pedágio” para fornecer esses produtos. Com isso, floresceu um mercado negro, o que acabou servindo de estopim para a revolta da multidão reunida entre a rodoviária da Praça do Pacificador e a estação ferroviária. De repente, alguém gritou: nas “Casas da Banha” (uma das grandes redes de supermercado da época) tem muito feijão e arroz! Bastou arrombar a primeira porta de aço que a multidão se encarregou do saque. Em poucos minutos, grupos partiam para outras mercearias, padarias e quitandas, inclusive nos bairros, que eram arrombadas e saqueadas.<br />Um grupo de empresários procurou o comando da Imprensa Naval, em Lucas, pedindo ajuda dos Fuzileiros Navais para conter a massa que corria pelas ruas, destruindo tudo. O oficial de dia entrou em contanto com seu superior e recebeu a ordem: nenhum militar interviria na rebelião, pois a situação estava sob controle do governo. Só no final da tarde o Governo se rendeu à realidade e mandou as primeiras tropas do Exército (Vila Militar) para restabelecer a ordem, mas não havia mais mercadinhos ou quitandas na cidade.<br /><br /></em></strong></span><span style="font-family:verdana;"><span style="font-size:180%;color:#ff9900;"><strong><em>A TURMA DO ESCULACHO<br /></em></strong></span><br /></span><span style="font-family:verdana;color:#33ccff;"><strong><em>Respondendo a uma pergunta da colunista social e advogada Dina Guerra, Getúlio Gonçalves falou com uma ponta de saudade da “Turma do Esculacho”, da qual foi um dos lidere, negando que o grupo promovesse baderna na cidade, como chegou a ser noticiado por um jornal carioca nos anos 60. Getúlio explicou que um grupo de jovens, sem preconceitos, formado por bancários, filhos de pequenos empresários, que também pratica esporte, inclusive tiro ao alvo, costumava se encontrar para a ir a festas das quais não tinham sido convidados. Era uma forma de se divertir inspirada pelo filme “Juventude Transviada”. O grupo era solidário e, se um fosse convidado para uma festa, todos tinha direito de entrar, o que, geralmente, provocava escaramuça entre os jovens e os donos da casa. Segundo Getúlio Gonçalves, os principais integrantes da “Turma” eram Hidekel Freitas Lima e seus irmãos, além dos irmãos Newley e Juarez Lopes Martins.<br /></em></strong><br /></span><span style="font-family:verdana;"><span style="font-size:180%;color:#ff9900;">O PREFEITO HIDELEL FREITAS<br /></span><br /></span><span style="font-family:verdana;"><strong><em><span style="color:#66ffff;">Getúlio Gonçalves, casado com uma sobrinha de Tenório Cavalcante, também falou sobre o ex-prefeito e ex-senador Hidekel Freitas, hoje divorciado de Sandra Cavalcante, filha do “Homem da Capa Preta”; E Getúlio revelou como certeza uma suspeita de muita gente: Hidekel não acreditava que seu vice, o ex-deputado José Carlos Lacerda, tivesse condições de governar Duque de Caxias.<br />Só por essa desconfiança Hidekel Freitas desistira, por duas vezes, de renunciar ao cargo de prefeito, ocupado pela segunda vez, da cidade onde nascera. Na primeira vez, ele assumira a Prefeitura como último prefeito nomeado pelo Governo Federal (João Baptista Figueiredo) por conta da Lei de Segurança Nacional, que listara um grupo de cidades que, com instalações muito sensíveis, podiam ser alvo de ataque dos “comunistas”, no caso, a Refinaria Duque de Caxias. Na época, Hidekel Freitas era deputado federal pela Arena e fora indicado pelo Ministro dos Transportes, Mário Andreazza, para ocupar a Prefeitura, como prefeito nomeado em substituição ao coronel e professor Américo de Barros. Para ser prefeito, Hidekel renunciou ao mandato, mas com o compromisso de Figueiredo e Andreazza de que Duque de Caxias retomaria a sua autonomia administrativa, o que ocorreu em 1985, quando foi eleito prefeito da cidade o professor Juberlan de Oliveira.<br /></span><br /></em></strong></span><span style="font-family:verdana;"><strong><span style="font-size:180%;color:#ff9900;">AS DUAS RENÚNCIAS<br /></span><br /></strong></span><span style="font-family:verdana;color:#33ccff;"><em><strong>Por duas vezes, Hidekel Freitas ameaçara renunciar ao cargo de prefeito, passando o posto para o seu vice, o ex-deputado José Carlos Lacerda. Na primeira vez, ele ficara empolgado com o convite do Presidente Fernando Collor, a quem apoiara, para disputar em 1990 a eleição para governador. Hidekel estava bem nas pesquisas como prefeito da segunda cidade mais importante do Estado e com chances de vencer, principalmente como candidato do PRN – partido de Collor.<br />Para isso, ele precisava renunciar ao mandato e se inscrever no novo partido. A troca de partido não era problema para Hidekel, o problema era abrir mão do mandato de prefeito em favor do seu vice. Embora as relações pessoais e políticas fossem excelentes, o prefeito não estava convencido da capacidade, política e administrativa, de Lacerda fazer uma boa administração. Por isso, na undécima hora para renunciar ao cargo e chamou fez uma carta de renúncia, que entregou ao líder do Governo na Câmara, o vereador Vadico, e partiu para o Rio, onde seria recebido com festa na sede do PRN, mas no meio do caminho, desistiu da candidatura, pois teria de enfrentar nada menos que Leonel Brizola.<br />O ex-prefeito nunca explicou a razão da sua desistência do projeto de ser governador do Estado do Rio, muito menos seu vice, José Carlos Lacerda, que levou para o túmulo essa revelação.<br />Logo depois, veio a morte do senador Afonso Arinos de Melo Franco, um político mineiro de prestígio internacional de quem Hidekel Freitas era o primeiro suplente, com a segunda suplência cabendo ao ex-prefeito de Campos dos Goytacases, Rockfeller de Lima. Diante do fato, o prefeito caxiense tinha 30 dias para tomar posse do mandato de senador, sob pena de ser convocado o segundo suplente. Hidekel, para ganhar tempo e pensar melhor sobre o que fazer, resolveu consultar a Diretoria do Senado com uma pergunta simples: ele, como prefeito, poderia ir a Brasília, assumir o novo mandato e, já senador, voltar a Duque de Caxias para renunciar ao cargo de prefeito? A resposta foi NÃO!<br />Segundo a direção do Senado, Hidekel deveria encaminhar uma carta à Câmara Municipal, renunciando ao cargo. A carta seria lida na primeira sessão do Legislativo, onde seria aprovada uma Resolução aceitando a renúncia e convocando o vice-prefeito para assumir o cargo declarado vago pela mesma resolução.<br />A partir dessa orientação, começou a aflição de Hidekel, temeroso de não conseguir, como mais um Senador, o mesmo prestígio que desfrutava como prefeito da segunda cidade do Estado do Rio, do ponto de vista político e econômico. A incomodá-lo havia também uma dúvida: Lacerda seria um fracasso como administrador, o que afetaria o prestígio político de HF, ou seria um prefeito tão arrojado que chegasse a ofuscar o prestígio de HF?<br />Getúlio Gonçalves garante que foi uma das últimas pessoas a conversar com o indeciso prefeito, convencendo-o, finalmente, de que deveria voar para Brasília e assumir o novo mandato, pois a Prefeitura ficaria em boas mãos. </strong></em></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-43844917639372141312011-05-06T15:32:00.006-03:002011-05-06T18:08:38.004-03:00O TEATRO DA BAIXADA ESTÁ DE LUTO<strong><em><span style="font-family:verdana;"><span style="font-size:180%;color:#ff9900;">O TEATRO DE CAXIAS PERDEU<br />UM DE SEUS MAIORES ASTROS<br /></span><br /><span style="color:#33ccff;">Morreu Edgar de Souza. Como muitos outros artistas que já brilharam nos palcos do Brasil, ele morreu pobre, esquecido, numa modesta casa no Jardim América, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Seu corpo, miúdo e arqueado, não só pela idade, mas também pela implacável doença que o perseguia, baixou a uma modesta sepultura do Cemitério de Irajá, subúrbio do Rio de Janeiro,<br />Ao lado de nomes como Armando Melo, Antonio Pacot, Rodolf Arldt, o Rodofinho, Élson Giupponi, Ratinho (da dupla com Jararaca), Roberto Moreira - o inesquecível “Roberto Cavalo - Edgar de Souza, ao longo de décadas, conseguiu levar o Teatro às escolas e às praças, com espetáculos que mostravam a riqueza dos nossos teatrólogos. Sua paixão por Duque de Caxias foi avassaladora, como a de um adolescente e a sua primeira namorada. Nos anos 60 e contratado pelo Governo do antigo Estado do Rio, Edgar de Souza veio fazer algumas apresentações no acanhado auditório do Instituto de Educação Governador Roberto Silveira, dando o pontapé inicial de um projeto da então Secretaria de Educação e Cultura - que deveriam andar juntas como irmãs siamesas. Edgar, ao contrário de outras badaladas estrelas que faziam show em circos e cinemas da cidade, resolveu conhecer melhor Duque de Caxias, uma cidade que acabara de completar a sua maioridade política. Para isso, nada melhor que procurar os veículos de comunicação que deveriam conhecer o "caminho das pedras".<br />Assim deu-se o encontro do ator com os jornalistas Euricles de Aragão, dono de “O Municipal”, e Ruyter Poubel, da “Folha da Cidade”, que ajudaram na divulgação do espetáculo de estréia do projeto do governo: o clássico monólogo “As Mãos de Eurídice”, de Pedro Bloch. A amizade entre o ator e os dois jornalistas rendeu muitos frutos, pois Edgar se adotou como caxiense, passou a participar de diversos movimentos no campo cultural, inclusive na fundação da Academia Duquecaxiense de Letras [e da qual nunca fez parte como 'imortal", embora tivesse participaçaç atina nas reuniões na redação de "O Municipal"], movimento que tinha na liderança Euricles de Aragão e o também jornalista e teatrólogo mineiro de Juiz de Fora, Lais Costa Velho.<br />Foi por conta de</span><a href="http://2.bp.blogspot.com/-ugcDERSQCoY/TcQ-_NZjVsI/AAAAAAAAJ5Y/LSXzcs7yW1A/s1600/edgar%2Bde%2Bsouza%2Bpreso.jpg"><span style="color:#33ccff;"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 295px; FLOAT: left; HEIGHT: 211px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5603673092005254850" border="0" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/-ugcDERSQCoY/TcQ-_NZjVsI/AAAAAAAAJ5Y/LSXzcs7yW1A/s320/edgar%2Bde%2Bsouza%2Bpreso.jpg" /></span></a><span style="color:#33ccff;">ssas andanças e amizades que Edgar de Souza acabou preso pela polícia (na foto, ao centro, seguido por Antonio Pacot, à sua esquerda), pois seria a estrela de um espetáculo de humor, mas com um título enigmático: "Festival de Defuntos". O texto era de Laís e ele convidou o amigo e parceiro Antonio Pacot para dirigi-lo. Irreverente e publicitário de mão cheia, que trabalhou nas maiores agências de publicidade do Rio e de Nova York, Pacot produziu um cartaz que anunciava “FESTIVAL DE DEFUNTOS” em Caxias. Estávamos em plena ditadura e Laís se negou a submeter seu texto à censura, pois pretendia chamar a atenção pelo inusitado título da peça, do tipo teatro ligeiro. O palco reservado para a estréia do espetáculo, que depois deveria fazer carreira em outros teatros do Rio de Janeiro, foi o Teatro do Sesi de Caxias.<br />Poucos instantes antes da abertura das cortinas, um grupo de policias, fardados, chegou ao Teatro do Sesi com a ordem de prender autor, ator e diretor. E Edgar, junto com Antonio Pacot, foi parar no xadrez, onde permaneceu por algumas horas como “hóspede” do delegado Amyl Ney Richaid, que se tornou famoso ao prender “Tião Medonho”, um tranqüilo e pacato cidadão que, por conta do assalto ao trem da Central do Brasil, acabou nas manchetes dos jornais, uma história real que rendeu filme e transformou o delegado em celebridade.<br />Além de continuar atuando nos palcos pelo interior do País, Edgar de Souza assumiu uma nova paixão: as Folias de Reis. A festa folclórica trazida pelos portugueses para o Brasil e que, em plena era da informática, do cinema 3D e da TV digital, atrais milhares de pessoas todos os anos para as suas “Jornadas”, que começam na noite do dia 24 de dezembro e seguem até o dia 6 de janeiro. Com origem entre os árabes, que levaram essa idéia de festejar o Natal em forma de teatro para Portugal, as “Folias de Reis”, tentam refazer, pelas ruas das cidades de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, a caminhada dos tres Reis Magos em direção a Belém, para reverenciarem o Menino Jesus, a prometido Messias anunciado pelos profetas da época.<br />Para não deixar desaparecer as “Folias de Reis”, tradição que passa de pai para filhos e netos, algumas com mais de 150 anos de peregrinação, Edgar de Souza criou a Federação de Reisados do Rio de Janeiro, para tentar dar suporte às “Folias” e patrocínio para ajudar os ”reiseiros” a comprar e consertar instrumentos e fantasias, pois a “Festa do Arremate”, no dia 20 de Janeiro, data consagrada a São Sebastião, que reunia diversas “Bandeiras” – denominação oficias das Folias – no encerramento de mais uma Jornada, isto é, uma caminhada pregando o Evangelho e saudando a chegada do Ano Novo. A Federação de Reisado do Estado do Rio de Janeiro, com sede em Duque de Caxias, foi criada em 1974 e chegou a catalogar mais de 500 grupos em todo o Estado. E Edgar de Souza, com muito suor, conseguiu mantê-la em funcionamento até recentemente, quando teve de se afastar de suas atividades pelo agravamento da sua doença.<br />Além da tristeza pela partida de Edgar de Souza, um fato inevitável, temos a deplorar a chamada Política Cultura do País, que desperdiça milhões em projetos de eficiência duvidosa, enquanto deixa na vala comum do esquecimento aqueles que, não tendo nascido em berço esplendido, nem se apropriado dos dinheiros públicos ao longo da vida, chegam à velhice e não podem subir nos palanques, ou chegam ao fim da vida sempre com muita dignidade, quando são abandonados, mesmo que tenham projetos produtivos capazes de mobilizar a opinião publica para discutir os graves problemas do País, inclusive na Cultura.<br />Infelizmente, esse é o País que iremos deixar para nossos netos! </span></span></em></strong>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-28363960368750230562009-10-09T21:17:00.009-03:002009-10-19T06:59:26.125-02:00EDUCAÇÃO GANHA PRÊMIO DA UNESCO<strong><span style="color: rgb(51, 102, 255);font-family:verdana;" ><em><span style="color: rgb(255, 204, 0);font-size:180%;" >VOCÊ SABE QUEM<br />FOI PAULO FREIRE?<br /></span><br />Através do Decreto Legislativo nº 0138, de 31 de agosto de 2004, assinado pelo vereador Laury Villar, então presidente da Câmara de Duque de Caxias, <a href="http://2.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/Ss_aiXrfwZI/AAAAAAAAFbw/M-LAYnpGd-E/s1600-h/paulo-freire.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5390767562992632210" style="margin: 0px 10px 10px 0px; float: left; width: 211px; height: 231px;" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/Ss_aiXrfwZI/AAAAAAAAFbw/M-LAYnpGd-E/s320/paulo-freire.jpg" border="0" /></a>foi instituída a “MEDALHA PRROFESSOR PAULO FREIRE”, a ser concedida anualmente em cerimônia pública no dia 15 de outubro, “Dia do Professor” Na justificativa da concessão dessa comenda, o Decreto especifica que merecerão tal Medalha “os professores que tenham, comprovadamente, desenvolvido projetos, propostas e/ou outros instrumentos para o desenvolvimento da qualidade do processo educacional”<br />Este ano, no dia 15 de outubro, na cerimônia que o vereador Mazinho irá presidir no Teatro Municipal Raul Cortez, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, uma das professoras homenageadas pela Câmara Municipal, indicada pela vereadora Juliana, será a pedagoga Vera Lúcia Ponciano, que, nos anos 80, era Diretora da Escola Municipal Visconde de Itaboraí, um dos pólos do projeto da Fundação Educar em Duque de Caxias e. Ela também era vice-presidente da Associação dos Moradores do Bar dos Cavaleiros. Foi por conta dessa dupla militância que a professora Vera Lucia Ponciano participou ativamente da implantação de projetos de alfabetização de jovens e adultos na Baixada Fluminense na segunda metade dos anos 80, sob o patrocínio da Fundação Educar, criada pelo Governo Federal para implementar uma política de combate ao analfabetismo, principalmente entre adolescentes e adultos de todo o País.<br />Em 1988, a Baixada foi duplamente premiada com esse projeto. Primeiro, pelos resultados práticos conquistados, tirando da escuridão do analfabetismo milhares de jovens e adultos que mourejavam diariamente em Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Nilópolis e São João de Meriti. Em segundo, por merecer um Diploma de Honra ao Mérito concedido pela UNESCO, instituição vinculada à ONU – Organização das Nações Unidas - sediada em Paris e dedicada a incentivar e patrocinar projetos que envolvem a educação em todo o Mundo.<br /><br /></em></span></strong><strong><span style="color: rgb(51, 102, 255);font-family:verdana;" ><em><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5390762159080145250" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 306px; height: 438px; text-align: center;" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/Ss_Vn0iXAWI/AAAAAAAAFbQ/5XHOFS8rMYM/s400/paulo+freire.jpg" border="0" /></em><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:arial;" >Paulo Freire ladeado pelas professoras Vera Lúcia e Solange Amaral numa das suas visitas a Duque de Caxias para acompanhar o desenvolvimento do projeto de alfabetização de jovens e adultos.(Fotos: Arquivo pessoal)</span></span></strong><br /><br /><strong><span style="color: rgb(51, 102, 255);font-family:verdana;" ><em><span style="color: rgb(255, 204, 0);font-size:180%;" >O MÉTODO PAULO FREIRE<br /></span><br />O pernambucano Paulo Reglus Neves Freire (nasceu em Recife em 19 de setembro de 1921 e faleceu em São Paulo, no dia 2 de maio de 1997) foi um educador que se destacou por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência. Por isso é considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.<br />Para Paulo Freire, “não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério,<br />com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho,<br />inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”“.<br />Ao contrário do método tradicional de memorização de palavras através de cartilhas padronizadas, Paulo Freire partia da pesquisa do linguajar familiar dos alunos para elaborar uma cartilha própria para eles. Assim, o vocabulário básico empregado pelos moradores da Zona Rural de Minas Gerais não era o mesmo utilizado no agreste de Pernambuco, ou pelos catadores de caranguejos de Maceió.<br />Paulo Freire acreditava que o aluno só seria alfabetizado efetivamente se sentisse que era partícipe importante do projeto. Assim, para os jovens e adultos das grandes cidades, geralmente empregados na Construção Civil, a cartilha partia de termos comuns ao dia a dia, como areia, cimento, pedra, portas, janelas, enquanto para um morador de Xerém e Tinguá, uma região voltada para a agropecuária, o vocabulário básico incluía termos como mandioca, feijão, cana de açúcar, café, vaca, boi, burro, mula.<br />O método “Paulo Freire”, que acabou sendo adotado em outros países emergentes, desagradou, no entanto, aos grupos conservadores. Primeiro, porque dava ao trabalhador analfabeto uma poderosa ferramenta de reivindicação: o saber ler para entender os seus próprios direitos. Em segundo lugar, a ênfase nos direitos individuais, que incluía o direito de greve, afetava sobremaneira as relações de patrões e empregados, principalmente no campo, onde o dono da terra, mesmo depois do advento da “Lei Áurea”, continua se comportando como senhor de tudo e, principalmente, de todos.<br />Onde já se viu caboclo largar o corte da cana para reivindicar aumento de salário ou o fim da bóia fria?<br />E a experiência da Fundação Educar na Baixada Fluminense serviu, ainda, para a elaboração de um livro e até um documentário, dirigido pelo cineasta Silvio Tendler, mostrando o dia a dia dos moradores das favelas e cortiços da região e como eles mudaram o seu jeito de olhar o futuro depois de alfabetizados. O livro “A BAIXADA PARA CIMA”, uma edição bilíngüe, e o documentário foram levados para Paris, onde o projeto de alfabetização demonstrou a sua eficiência e acabou premiado pela Unesco. E entre os professores envolvidos no desenvolvimento e execução do projeto esta um atuante grupo de jovens professores da Baixada, inclusive Solange Amaral, que viria a ser, nos anos 90, Secretária de Educação de Duque de Caxias, e Vera Lúcia Ponciano, que foi sub na mesma pasta, ora homenageada pela Câmara Municipal com a medalha “Paulo Freire”.</em></span></strong><br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5390763021501018642" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 327px; height: 436px; text-align: center;" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/Ss_WaBThMhI/AAAAAAAAFbY/bnNlZZswvZY/s400/Capa+livro+Paulo+Freire+1.jpg" border="0" /> <span style="font-family:arial;"><strong>As primeiras letras desenhadas no caderno ninguém esquece<br /></strong></span><span style="color: rgb(51, 102, 255);font-family:verdana;" ><span style="font-size:78%;"></span><span style="font-size:78%;"></span></span><span style="color: rgb(51, 102, 255);font-family:verdana;" ><em><strong><span style="color: rgb(255, 204, 0);font-size:180%;" ></span></strong></em></span><br /><span style="color: rgb(51, 102, 255);font-family:verdana;" ><em><strong><span style="color: rgb(255, 204, 0);font-size:180%;" >AVALIAÇÃO<br /></span></strong></em></span><br /><span style="color: rgb(51, 102, 255);font-family:verdana;" ><em><strong>O livro, feito pelos professores e coordenadores do projeto na Baixada, também reunia depoimentos tanto de alunos, como de pessoas da comunidade ou lideranças políticas da região. Um dos depoimentos mais impactantes da época foi dado por D. Mauro Morelli, então Bispo de Duque de Caxias e São João de Meriti, que afirmava:<br />“A Baixada Fluminense é um retrato em branco e preto do Brasil. Situa-se próximo à cidade do Rio de Janeiro e faz parte da área metropolitana. Começando pelo povo da Baixada: 60 a 70% da população é de raça negra. Esse povo descende da situação criminosa e vergonhosa que foi a escravatura no Brasil. A maioria ainda vive hoje não numa escravidão jurídica, mas numa escravidão de fato, que é a marginalização, a impossibilidade de participar de verdade da vida social, econômica e política do país.”<br />Outro depoimento importante recolhido pelos responsáveis pela elaboração do livro foi de Zeelandia Candido de Andrade, coordenadora do Clube de Mães Nossa Senhora da Saúde, em Coelho da Rocha, Distrito de São João de Meriti. Não bastasse a sua militância política, Zeelandia é filha de João Candido, herói da Revolta da Chibata, que liderou, no inicio do Século XX, um movimento insurrecional na Marinha de Guerra contra os castigos corporais infligidos aos marinheiros pelos comandantes das embarcações.<br />Em seu depoimento, Zeelandia fala sobre as dificuldades enfrentados, até hoje, pelos negros na luta por uma verdadeira igualdade racial, política e social no Brasil.<br />“Fomos para a rua denunciar a discriminação dos negros, no ano do dito Centenário da Abolição da Escravatura [1988]. Prepararam uma armadilha para nós, mas nós não caímos. Não queremos ocupar o lugar dos brancos. Queremos só que os brancos reconheçam que os negros fizeram também a História deste País. Queremos só estar no espaço que é nosso, ao lado dos brancos. Eu sou pequenininha. Sou apenas a coordenadora da Pastoral do Negro da Diocese de Duque de Caxias. Meu pai foi grande! Lutou pelos pequenos. Por isso, não está na História dos brancos. Mas a gente vai reescrever a História deste país. E esse projeto está ajudando a que se faça justiça!”<br /><br /></strong></em></span><span style="color: rgb(51, 102, 255);font-family:verdana;" ><em><strong></strong></em><strong><em><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5390763366347162786" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 329px; height: 435px; text-align: center;" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/Ss_WuF9PxKI/AAAAAAAAFbg/Lsj383Pmluk/s400/Capa+livro+Paulo+Freire+2.jpg" border="0" /></em><span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:arial;" >Vinte e um anos depois, as vielas da Baixada continuam estreitas e sujas</span><em>.</em></strong></span><br /><strong><em><span style="color: rgb(51, 102, 255);font-family:verdana;" ><br /><span style="color: rgb(255, 204, 0);font-size:180%;" >MERECIMENTO<br /></span>A homenagem que a Câmara de Vereadores presta aos professores a cada 15 de outubro é uma forma de lembrar a importância do Magistério na formação do cidadão. Não importa a profissão, a carreira escolhida ou a classe social a que pertença: todo mundo precisa de um professor em sua vida, mesmo ainda no útero materno.<br />Afinal, quem ensina os primeiros balbucios, os primeiros passos, as primeiras letras?<br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5390766597455971122" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 400px; height: 310px; text-align: center;" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/Ss_ZqKxngzI/AAAAAAAAFbo/7k4Posl6J5Q/s400/Diploma.jpg" border="0" /></span></em></strong> <span style="color: rgb(0, 0, 0);font-family:arial;" ><strong>O prêmio da UNESCO ao trabalho desenvolvido pelos professores da Baixada foi o reconhecimento da Educação como ferramenta de efetiva ascenção social.</strong></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-29921671868404174992009-03-29T14:41:00.011-03:002009-03-29T14:58:31.432-03:00<em><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;"><span style="font-family:arial;"><span style="color:#999900;"><strong><span style="font-size:180%;color:#ffcc33;">Artista da Baixada conclui Cristo<br />de 1,82m entalhado em madeira </span></strong></span></span></span></em><br /><em><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;"><strong></strong></span></em><br /><em><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;"><strong>Ele nasceu em Minas Gerais há 56 anos, no mesmo dia (29 de agosto) em que o artista Antônio Francisco Lisboa, conhecido por Aleijadinho, por causa da doença que sofreu e o deformou sem piedade. Muito embora tenha feito cursos de marcenaria e serralheria, ele preferiu estudar a obra de Aleijadinho, o mais famoso artista do período Barroco no País. E, juntando as técnicas que aprendeu no curso de marcenaria com o que leu e pesquisou sobre o artista barroco, ele resolveu se especializar em escultura em madeira. Hoje, ele é conhecido no País e no exterior como o “Aleijadinho da Baixada”. Estamos falando do mineiro Darcilio Ferreira Soares, que, como todo artista autodidata, não fez da profissão um meio para o enriquecimento e mora a muitos anos numa casa modesta do bairro Vila Leopoldina, em Duque de Caxias.<br /></strong></span></em><em><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;"><strong><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5318666597077319202" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 338px; CURSOR: hand; HEIGHT: 436px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/Sc-zFy2HfiI/AAAAAAAAD4Q/8Es6_6OfkZ8/s400/cristo+ao+natural+1.jpg" border="0" />Agora, depois de mais de seis meses de exaustivo trabalho, Darcílio se prepara para entregar um dos mais importantes trabalhos de sua longa carreira: um Cristo pregado na crruz, esculpido em Cedro, com 1,82 metro de altura, Além do trabalho de marcenaria (para desbastar a escultura por dentro, tornando-a mais leve), entalhe (com riqueza de detalhes como as veias dos braços e a coroa de espinhos), Darcílio também realizou o acabamento em pintura automotiva, que garante a qualidade do acabamento e durabilidade da escultura, toda feita em cedro. A obra, segundo o artista, dura pelo menos três séculos. A encomenda foi feita pelo vigário da Igreja de São Benedito, localizada no bairro de Pilares, Zona Norte do Rio de Janeiro, que está passando por um processo de recuperação ao final do qual será realizada uma grande festa para receber a imagem do Cristo, cuja cruz, também em madeira, tem três metros de altura.<br />Darcílio Ferreira Soares teve uma infância difícil. Ainda criança, perdeu os pais e foi internado em uma creche de Belo Horizonte. Para ocupar o tempo, ele brincava de fazer bonecos com cerâmica. Ele diz que achava tudo fácil, mesmo não tendo ninguém para incentiva-lo ou mesmo ensiná-lo a lidar com o material. Mais tarde, vivendo num internato em Juiz de Fora, onde cursou o antigo ginásio, aproximou-se mais ainda da arte e, aos 18 anos, teve que deixar o colégio e passou a viver com um grupo de amigos que trabalhavam como entalhadores de móveis. Quatro anos depois, desembarcava no Rio de Janeiro, indo residir primeiro em São João de Meriti e depois, na Vila Leopoldina, a poucos quilômetros do centro de Duque de Caxias, onde transformou sua modesta casa em um atelier.<br /><a href="http://1.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/Sc-zoXSGuBI/AAAAAAAAD4Y/bDj2uykbUH0/s1600-h/cristo+ao+natural+4.jpg"><strong><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5318667190973937682" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 278px; CURSOR: hand; HEIGHT: 207px" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/Sc-zoXSGuBI/AAAAAAAAD4Y/bDj2uykbUH0/s320/cristo+ao+natural+4.jpg" border="0" /></strong></a>O</strong><strong> trabalho de Darcilio, apesar de nunca ter freqüentado escola de arte, é comparado nos dias de hoje por muitos ao do gênio do barroco mineiro, Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.<br />“Só sei que nasci no mesmo mês que ele, exatamente 226 anos depois”, desconversa o escultor, que tem um currículo de fazer inveja a muitos outros artistas. Nele constam dezenas de imagens sacras em madeira, sob encomenda de antiquários e colecionadores, bem como restauração de várias Igrejas, entre elas a de São José, no Campo de Santana, no Rio; da Ressurreição, em Copacabana, também no Riio; e a de Nossa Senhora da Conceição, em Sabará, Minas Gerais, entre muitas outras. Além de restauração, ainda produz imagens para Igrejas de várias cidades do País e até mesmo do exterior. Possui ainda inúmeras peças no 1º Museu Itinerante da Bíblia, iniciado em 1998 pela escritora e catequista Margarida Maria Lima. Sem falsa modéstia, Darcílio acredita que produziu mais de 50 peças de grande porte em mais de 30 anos de carreira.<br />Autodidata, Darcilio é considerado um dos mais completos artistas plásticos do país, tendo vários trabalhos nos Estados Unidos e Europa. Entre os colecionadores que mais admiram o artista mineiro está Carlos Alberto Serpa, fundador do Cesgranrio, que possui um presépio com 60 peças e seis imagens de santos. Para Serpa, uma grande exposição do artista certamente traria patrocínio e mais condições para produzir um número maior de obras. A cantora Elba Ramalho também possui obras do artista.<br />- Darcilio é um artista completo - depõe o também artista plástico Pedro Marcílio Leite. "Além de esculpir as peças, ele faz a pintura e o folheamento em ouro. Não conheço ninguém que faça isso com tanta perfeição. A técnica de envelhecer seus trabalhos é a mesma dos artistas barrocos dos séculos XVII e XVIII", informa Marcílio.<br />Em Duque de Caxias, Darcílio recebeu alguns prêmios, destacando-se três medalhas de prata no Salão de Arte Sacra, promovido pela Sociedade de Cultura Artística. Ele recebeu ainda uma homenagem de Pedro Marcílio no cordel, "O Santeiro de Caxias", lançado pelo Movimento de Resistência Cultural Barboza Leite.</strong></span></em>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-77227781954982434492009-03-19T23:33:00.009-03:002009-03-19T23:49:27.289-03:00<span style="font-family:verdana;font-size:180%;color:#ffcc00;"><strong>PACOT E O MONUMENTO AO<br />“BICHEIRO DESCONHECIDO”<br /></strong></span><br /><strong><em><span style="font-family:verdana;"><span style="color:#3366ff;">A decisão do prefeito Zito de abrir um acesso direto do viaduto Francisco Correa para o Shopping Center vai melhorar a circulação dos veículos que vão para a Linha Vermelha e o Engenho do Porto, mas acabou com a pracinha feita pelo Lion’s Club nos anos 70. Essa pracinha se tornou um marco em Duque de Caxias quando o publicitário Antonio Pacot, diretor da REVISTA DE CAXIAS, resolveu brincar com o marco </span><a href="http://2.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/ScMBscJHLvI/AAAAAAAAD1A/OEUwJ8uCGSk/s1600-h/Edgar%2520de%2520Souza%2520preso_3.jpg"><span style="color:#3366ff;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5315093848207601394" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 264px; CURSOR: hand; HEIGHT: 180px" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/ScMBscJHLvI/AAAAAAAAD1A/OEUwJ8uCGSk/s320/Edgar%2520de%2520Souza%2520preso_3.jpg" border="0" /></span></a><span style="color:#3366ff;">em construção e revelou que ali seria inaugurado, brevemente, um “Monumento ao Bicheiro Desconhecido”.<br />O assunto rendeu notas em diversos jornais do Rio, principalmente pelo fato de Pacot (na foto, atraz do PM) trabalhava para o saudoso Messias Soares, cujo pai, Antonio Soares, gerenciava a loteria “O Sol Nasce Para Todos”, de propriedade do banqueiro do bicho e desportista Melchiades Mariano, o popular “Manduca”, recentemente falecido e que era Diretor-Tesoureiro da CBF. Ocorre que o Sr. Antonio Soares, como pai de Messias Soares, era quem bancava todas as despesas da revista.<br />O sempre irreverente Antonio Pacot, um publicitário e artista plástico muito respeitado e requisitado tanto no Brasil como em Nova York, onde morou durante alguns anos, morreu de enfarte aos 67 anos, em julho de 2000. Se vivo fosse, ele certamente teria uma charge nova para registrar a demolição do quase famoso “monumento”.<br />Entre outras campanhas que marcam a história da publicidade no Brasil, Antonio Pacot tinha em seu portfólio a hoje extinta “Imobiliária Sérgio Dourado”, o sorvete “Ébom” (cuja fábrica era na Rua José de Alvarenga, centro de Duque de Caxias), empresa processada pela Kibon e obrigada a mudar seu titulo para “Sem Nome”, a campanha sobre “A Notinha Por Favor”, destinada a melhorar a arrecadação do ICMS para o Governo do então Estado da Guanabara e a multinacional Golden Cross, entre outras.<br />Antonio Pacot era um caxiense que se tornou um cidadão do mundo e muito respeitado entre anunciantes e agências de publicidade. Um dos fundadores do Teatro Municipal Armando Melo, ele foi preso, juntamente com o ator Edgar de Souza e o teatrólogo Laís Costa Velho, quando tentava encenar uma peça no extinto Teatro do SESI.<br />O texto era uma sátira à situação vivida pelo município diante do noticiário policial dos jornais sensacionalistas do Rio, como “Luta Democrática”, “A Notícia” e “Ultima Hora”. A peça, que continua inédita até hoje, era “Festival de Defuntos”. Se fosse encenada hoje, seria recebida como uma peça realista, retratando a cidade na nova “Era de Cabral” em pleno Século XXI.<br />Aproveitando o seu bom relacionamento na mídia, Pacot conseguiu produzir um grande impacto, pois jornais e revistas, e até mesmo as emissoras de rádio, começaram a anunciar que, em breve, haveria um Festival de Defuntos em Caxias! O noticiaria partia da junção do nome da peça com a cidade em que seria apresentada, resultando numa manchete que a todos atraía. Afinal, pela primeira vez na história da imprensa mundial, estava sendo anunciada a realização de um festival de defuntos e numa cidade onde “as galinhas ciscavam p’ra frente”, como era o bordão do radialista Samuel Correia no programa “Radio Patrulha”, na Rádio Tupi, sempre que se referia a um noticiário policial tendo Duque de Caxias como palco.<br />A imagem da cidade como “terra de ninguém”, que começara na década de 50 em torno do mito Tenório Cavalcante e a sua não menos famosa “Lurdinha”, prosseguiu nos anos 60, com o assalto ao trem pagador da Central do Brasil, ocorrido em 14 de junho de 1960, próximo á estação de Japeri, na Baixada Fluminense.<br />Para investigar o rumoroso caso, dada a quantia roubada, cerca de 20 milhões de cruzeiros (moeda de época), a Secretaria de Segurança do antigo Estado do Rio designou o experiente Delegado Amyl Ney Richaid, titular da Delegacia de Duque de Caxias. Os criminosos só foram identificados no ano seguinte, graças à atuação do Detetive Perpétuo de Freitas, cedido pelo Governo do Estado da Guanabara para auxiliar nas investigações. Graças a Perpétuo – que era respeitado pelos bandidos, pois tinha por lema respeitar o preso, isto é, ele não “escrachava” quem se entregasse. – a polícia localizou o chefe do bando, apelidado de “Tião Medonho”, em Olaria, de onde foi levado, preso, para a Casa de Saúde Santo Antonio, em Duque de Caxias, aonde veio a falecer uma semana depois em conseqüência de um tiro que levada numa emboscada preparada pelo delegado sob a ponte de Coelho Neto.<br />Em função do desfecho do caso, o delegado Amyl acabou se elegendo deputado estadual, levando consigo seu principal X-9, Armando Belo de França, que se elegeu vereador em Duque de Caxias.<br />Ainda na década de 60, Duque de Caxias continuou a freqüentar as páginas policiais devido à ação do “Esquadrão da Morte”, um grupo de policiais que matava os bandidos que eles entendiam como irrecuperáveis. Com muitos tiros, os corpos eram deixados com um cartaz e os dizeres “Esse não mata/rouba/estupra mais”.<br />E o “Festival de Defuntos” iria abordar os crimes do “Esquadrão da Morte” e, talvez ou principalmente por este motivo, foi proibido pela Polícia e Antonio Paco levado para a 59ª DP/Caxias em companhia do ator Edgar de Souza e do teatrólogo e diretor de teatro Laís Costa Velho.<br />(Fonte: BLOG DÉCADA DE 50 - </span></span></em></strong><a href="http://decadade50.blogspot.com/2006/09/o-assalto-ao-trem-pagador-da-central.html"><strong><em><span style="font-family:verdana;">http://decadade50.blogspot.com/2006/09/o-assalto-ao-trem-pagador-da-central.html</span></em></strong></a><strong><em><span style="font-family:verdana;">)</span></em></strong>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-447473829053501182009-02-24T15:17:00.002-03:002009-02-24T15:24:28.126-03:00<div><strong><em><span style="font-family:verdana;"><span style="font-size:180%;color:#ffcc33;">A VELHA JAQUEIRA DO 25 E<br />A DERROTA DOS POLÍTICOS</span><br /><br /><span style="color:#3366ff;">Em 1958, com a implantação da cédula única e o fim das cédulas individuais, que eram impressas por conta dos partidos e candidatos e muito utilizadas na chamada “boca de urna”, a apuração ficou mais rápida, com a Justiça Eleitoral recrutando advogados, professores, contadores e bancários para atuarem nas Juntas Apuradoras. Nos anos 60, depois da construção do novo Fórum de Duque de Caxias, em frente à Praça Governador Roberto Silveira, o local passou a ser ponto de romaria dos candidatos a vereador, que esperavam durante dias pelo resultado final.<br />Contadas uma a uma, as cédulas passavam por diversas mãos, pois havia o voto nominal nos candidatos a vereador, deputados estaduais e federais (identificados por números), além dos votos partidários, isto é, destinados exclusivamente às legendas. Cada Junta Apuradora elaborava um Boletim de Urna, onde constava o número de votantes, os votos distribuídos por candidatos, por partidos, os nulos e em branco, juntamente com uma ata circunstanciada com informações sobre qualquer evento durante o processo da votação, especialmente os casos de voto em separado.<br />Como havia mais de uma dúzia de legendas e o acesso às dependências do Fórum era limitado aos Delegados, Fiscais e dirigentes de Partidos, os candidatos tinham que esperar do lado de fora a liberação dos mapas de urnas para saber o andamento da apuração. Na área em frente ao Fórum e à Delegacia de Polícia, onde hoje existe o Ed. Pariz, havia inúmeras árvores, inclusive uma frondosa jaqueira. Para fugir do calor do mês de outubro, os candidatos buscavam a proteção da sombra daquelas árvores. Daí era comum quando algum cabo eleitoral perguntasse sobre o paradeiro do seu candidato, a resposta padrão:<br />- Está debaixo da jaqueira!<br />Como a votação dos vereadores era concentrada nos seus bairros de origem, a tensão era muito grande até o final da apuração, pois sempre havia a esperança de boa votação em uma sessão distante, onde o compadre do candidato se esforçara por ajudá-lo. Aproveitando-se de uma gíria do futebol, esses locais de maior concentração de votos de um candidato eram chamados de “Zona do Agrião”.<br />Uma outra característica do processo eleitora daquela época é que a totalização era feita por máquinas de calcular, muito lentas e sempre sob suspeição dos candidatos que não eram beneficiados pelas urnas. A impugnação era feita no ato da proclamação da contagem da urna, ficando esse resultado “sub judice” até que fosse julgado o recurso pela Junta Eleitoral, presidida pelo Juiz responsável pela Eleição a cada ano.<br />O sistema de votação proporcional, que conta, primeiro, os votos de todos os candidatos e de legendas para, só então, calcular o cociente eleitoral e, a partir daí, o número de cadeiras conquistadas por cada partido ou coligação, aumentavam a aflição dos candidatos, que continuavam a marcar ponto sob a jaqueira. Como os resultados parciais diários sempre oscilavam, em virtude das áreas de influência de cada candidato, era comum um candidato sair comemorando a vitória no primeiro dia e chegar ao final do segundo com uma votação abaixo do esperado, pois seus concorrentes haviam avançado naquele dia.<br />A contagem sempre seguia a ordem numérica das seções e dos Distritos. Como isso, eram contados em primeiro lugar os votos dados no 1º Distrito, que era o mais populoso e com maior número de candidatos. Assim, quem disputava a eleição pelo 4º Distrito, como era o caso do saudoso José Barreto, tinha que aguardar até o final para saber se fora eleito, ou não.<br />Ocorre que ninguém desistia depois de contadas as urnas de seu bairro ou área de atuação, pois os candidatos sempre têm a impressão de que sua votação seria maior do que aparecia nos mapas de votação, como até hoje ocorre. Daí, eles permaneciam debaixo da jaqueira, aguardando a abertura de uma determinada urna, aquela da “Zona do Agrião”, onde votava seu compadre ou parentes próximos.<br />Nessa batida, os últimos a abandonarem a “trincheira”, isto é, a jaqueira, eram os perdedores em definitivo, os persistentes que esperavam por um verdadeiro milagre, pois o compadre, que morava em Imbariê ou Xerém, Distritos tinham as suas urnas contadas por último, prometera um balaio de votos.<br />Dessa foram, os candidatos em vias de derrota, isto é, aqueles cuja votação ficava abaixo da linha de vitória em cada partido, eram apontados como os “candidatos da jaqueira”, que através dos tempos passou a significar a derrota nas urnas.<br />A construção do Ed. Pariz nos anos 70 acabou com a jaqueira, mas a sua sombra continua a assustar os candidatos de muita esperança e poucos votos. Em 2010, iremos ver surgir uma jaqueira virtual, agora que os votos são contados pelos computadores do Tribunal Regional Eleitoral.</span><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5306430436912270482" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 244px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SaQ6XiF6DJI/AAAAAAAADoM/NOCqosLrfOk/s400/Jaqueira+25+agosto.jpg" border="0" /></span><span style="font-family:arial;color:#3366ff;">A foto, que pertence ao acervo do Instituto Histórico Vereador Thomé Barreto, da Câmara de Vereadores, mostra a famosa jaqueira, em frente à 59ª DP/Caxias, onde os derrotados esperavam o milagre dos votos que viriam da “Zona do Agrião”. Ao fundo, a pedreira abandonada, onde foi erguida a Unigranrio.<br /></span></em></strong></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-35487870641310503032008-11-25T00:00:00.003-02:002008-11-25T00:08:09.604-02:00<strong><em><span style="font-family:verdana;"><span style="font-family:arial;font-size:180%;color:#ffcc00;">O “PÓ DE BROCA” E O FIM<br />DA CIDADE DOS MENINOS </span><br /><span style="color:#3366ff;">Este é um excerto de um extenso trabalho do técnico Oswaldo Marques, do IBAMA, sobre a origem e os problemas decorrentes do abandono, em 1955, pelo Ministério da Saúde, de um depósito do inseticida “HCH”, conhecido popularmente como “Pó de Broca”, por ter sido utilizado, pelo Ministério da Agricultura nos anos 50 para o combate à “Broca do Café”, especialmente no Paraná. Oswaldo Marques integra uma equipe multidisciplinar constituída pelo IBAMA para estudar, a pedido do Ministério da Saúde, uma solução que permita a recuperação de uma área de cerca de 20 quilômetros quadrados, na divisa de Duque de Caxias com Nova Iguaçu, conhecida como “Cidade dos Meninos”, onde funcionava um Patronato da Fundação Abrigo do Cristo Redentor, criado por Da. Darcy Vargas em 1943. Nos anos 60, a “Cidade dos Meninos” chegou a dispor de 25 oficinas profissionalizantes e até de uma banda, que tinha entre seus músicos o renomado ortopedista Iveraldo Pessoa de Carvalho, ex-Secretário de Saúde de Duque de Caxias.<br />A divulgação desse trabalho visa restabelecer uma saudável discussão em torno de um problema de Saúde Pública, que afeta a vida de mais de 6 mil famílias que vivem em torno da Cidade dos Meninos.</span><br /><br /><span style="font-size:180%;color:#ff0000;"><span style="font-family:arial;">EXPOSIÇÃO A RISCOS QUÍMICOS</span><br /></span><span style="color:#cc0000;"><span style="font-family:arial;"><span style="font-size:130%;">Estudo de remediação de área degradada</span><br /></span></span><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5272409541528411746" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 278px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SStciykuXmI/AAAAAAAADDU/7RN-Z7wFCaM/s400/CidadeMeninos04.jpg" border="0" /><span style="color:#3366ff;">A Cidade dos Meninos é uma área de 1900 hectares (19 km²), de propriedade federal, hoje sob a responsabilidade patrimonial do Ministério de Previdência Social. Fica situada na localidade de Pilar, Distrito de Campos Elíseos, Município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Estado do Rio de Janeiro (no km 12 da antiga Estrada Rio - Petrópolis).<br />A Baixada Fluminense é uma área plana, cortada por uma bacia formada por 35 cursos hídricos de varáveis vazões. Tem, ainda que em alguns pontos, área aterrada, que margeia o fundo da Baía de Guanabara. Era uma zona endêmica de malária no começo do século XX, final do século XIV. Os registros de epidemias na região começam mais precisamente em 1888, e vem acompanhada de um aumento vertiginoso da densidade demográfica, afetando sua população, inicialmente formada por negros, ex-escravos, que libertos pela Lei Áurea, foram abandonados à própria sorte, indo morar nos manguezais locais, a fim de obterem sua sobrevivência com a extração de lenha. Teria começado então, com a devastação das matas e erosão de solos, a proliferação do mosquito vetor da malária. Em função da extensão do problema, o Governo federal da época, buscou um atendimento emergencial com obras de saneamento básico, iniciadas em 1916 e que prosseguiram com obras rodoviárias, aterro e retificação de rios pelas décadas de 20, 30, 40 e 50.<br />Até 1950, período que marca o amadurecimento do processo de industrialização brasileira, a Baixada Fluminense se tornara uma área rural, de produção de cítricos, tendo se transformado, após aquela década, em zona industrial da área metropolitana do Rio de Janeiro. Composta por oito municípios (São João de Meriti, Queimados, Belford Roxo, Nova Iguaçu, Nilópolis, Guapimirim, Magé e Duque de Caxias, o maior de todos eles).<br />As cidades da Baixada ficaram conhecidas como “cidades-dormitório”, ocupadas predominantemente por loteamentos clandestinos, de moradia da população pobre, oriunda de migrações internas, uma população que trabalha na metrópole do Rio de Janeiro. É uma zona densamente povoada (2.028.252, segundo dados do IBGE para 1996), de intensa violência e onde faltam serviços públicos básicos (saneamento, escolas, pavimentação de ruas, hospitais – há 1 hospital de atendimento básico para cada 40 mil pessoas - etc. )<br />Foi lá que, em 1943, a então primeira-dama brasileira, D. Darcy Vargas, criou, na antiga Fazenda São Bento, oriunda de uma antiga sesmaria, um projeto de albergue para meninas desvalidas, a Cidade das Meninas: Nela forma construídos pavilhões para moradia, escolas, cursos profissionalizantes. À medida na qual as meninas se tornassem adultas, obteriam casas, possivelmente ali mesmo. e seriam o núcleo de novos grupos de 20 meninas cada (BRAGA, 1996).<br />Em 1946, o país sob outra presidência, a Cidade das Meninas foi transferida para a Fundação Abrigo Cristo Redentor. A instituição passou a ser só para meninos e novos pavilhões foram construídos (padarias, escolas de pesca, oficinas de marcenaria, cestaria, mecânica, vassouraria, etc) para a educação profissionalizante de meninos e rapazes que lá residiam em regime de internato. Havia ainda horta, pomar, avicultura, suinocultura, bovinos, não apenas para treinamento dos alunos, como para a sua própria alimentação. Além dos quatro institutos que abrigavam as crianças, havia ainda na Cidade dos Meninos mais duas escolas, uma da rede estadual e outra da rede municipal, que atendiam não apenas às crianças internadas, mas também aos filhos dos funcionários que lá moravam.<br />Em 1949, Mário Pinotti, diretor do antigo Serviço Nacional de Malária do então Ministério da Educação e Saúde solicitou o uso de metade da Cidade dos Meninos para instalar o Instituto de Malariologia e ganhou inicialmente 8 pavilhões, utilizados para biotério, necrotério, laboratório, restaurante e administração do Instituto.. Naquele mesmo ano de 1949, um químico holandês, Henk Kemp, detentor do processo industrial de fabricação de HCH por catálise química a baixa temperatura (OLIVEIRA, 1994; BASTOS, 1999), visitando a Cidade dos Meninos, sugeriu a Mário Pinotti para que ali produzisse o vulgarmente denominado “pó-de-broca”, ou hexaclorociclohexano (HCH), incorretamente referido pela população local como BHC (hexacloreto de benzeno), um composto estável, isômero alfa do HCH, segundo (BASTOS, 1999). O HCH é um pesticida, da classe dos organoclorados, isolado por Faraday em 1825. Teve suas propriedades inseticidas descobertas em 1942, na França e na Inglaterra, segundo biografias, nos laboratórios Rhodia. Seu isômero, gama-HCH recebeu o nome de Lindano. O gama-HCH, ou Lindano é um inseticida de amplo espectro usado para tratamento de sementes, do solo, aplicações sobre folhas, em florestas, material orgânico guardado, em animais e na saúde pública. Seu uso tornou-se restrito em alguns países e totalmente proibido em outros, como no Japão, desde 1971. No Brasil, teve sua utilização na agricultura proibida por Portaria Ministerial de 1985, mas continuou sendo utilizado em campanhas de saúde pública, na tentativa de erradicação e/ou controle de vários vetores de doenças transmissíveis e endêmicas (MELLO, 1999), sendo por fim proibido.<br />Em 1950 a fábrica de HCH foi então inaugurada dentro da Cidade dos Meninos, utilizando como matérias primas o benzeno, fornecido pela Companhia Siderúrgica Nacional, de Volta Redonda, e o cloro, fornecido pela Companhia Eletroquímica Fluminense, de São Gonçalo, ambas no Estado do Rio de Janeiro. Além do HCH, a fábrica também desenvolvia pesquisas com outros pesticidas w suas aplicações, principalmente na área do controle de endemias, como o arsenito de cobre, também conhecido como Verde Paris e o triclorobis (clorofeniletano) ou DDT. (MELLO, 1999). A partir de 1956 a fábrica, que passara a se chamar “Fábrica de Produtos Profiláticos”, produziu, até seu fechamento em 1960.<br />Seus produtos: pasta de DDT; pasta de BHC (isômero alfa, enriquecido com gama-HCH); emulsionáveis – DDT; mosquicidas – DDT + Lindano ou (gama-HCH); rodenticidas, composto 1080 (monofluoracetato de sódio) e cianeto de cálcio. (MELLO, 1999).<br />Portanto, a partir de 1950, quando ali se instalou o Instituto de Malariologia e sua fábrica de pesticidas, a Cidade dos Meninos passava a ter várias categorias de habitantes:<br />A hoje chamada, população vitimada:<br />Menores sob tutela do Estado;<br />Moradores - ocupantes de área federal, quer sejam pertencentes a famílias remanescentes de funcionários, uns negando a contaminação, outros buscando indenizações e apoio médico;<br />Trabalhadores e ex-trabalhadores da fábrica de pesticidas que ali foi instalada;<br />Funcionários dos Ministérios da Saúde e da Previdência Social;<br />Administradores federais do campo assistencial dedicado à infância carente<br />Os meninos, abrigados nos quatro Institutos e que estudavam nos pavilhões profissionalizantes e nas escolas públicas – municipal e estadual -; os funcionários da Cidade dos Meninos, encarregados do cuidado destas crianças; os funcionários federais de saúde, do Instituto de Malariologia/Fábrica de Produtos Profiláticos, cujas famílias ocupavam casas a eles cedidas. Os filhos de todos estes funcionários que também estudavam nas escolas públicas ali situadas.<br />Contudo, por volta de 1955, o funcionamento da fábrica tornou-se antieconômico, em razão de dificuldades de obtenção de matéria prima e da concorrência de empresas paulistas, a princípio a Rhodia e logo após Shell e Bayer, segundo (MELLO, 1999, OLIVEIRA, 1994). Em 1961, a fábrica cessou definitivamente suas atividades, deixando um estoque de 240.760 de iscas rodenticidas (valor estimado segundo registros de produção / consumo); 112.407 litros de Triton X-151, um detergente potentíssimo; 109 tambores de Xilol, e “grande quantidade de resíduos de produção”, sendo estes Pó anti-Culex (“BHC”). Tais quantitativos encontram-se contidos no Relatório final de gestão, elaborado pelo Sr. Diretor, o então Brigadeiro médico Dr. Bijos, apud MELLO, 1999).<br />Um estudo da FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - estipulou em 300 toneladas a quantidade de resíduo direto.<br />Segundo relato dos moradores, a fábrica abandonada foi sendo depredada com o tempo e os tonéis de papelão nos quais o chamado BHC estava acondicionado se romperam e o pó foi se infiltrando pelo solo onde os animais pastavam. A população local deu diferentes usos ao material abandonado: Foi usado domesticamente para matar piolhos e como inseticida de casas e quintais; foi também utilizado como pavimentação da estrada interna; o pó-de-broca era também recolhido do chão pelos moradores e vendido nas feiras livres locais.<br />Em 1987 o então Presidente José Sarney assinou decreto incorporando a Fundação Abrigo Cristo Redentor à Legião Brasileira de Assistência, o que levou à aposentadoria de muitos funcionários da Cidade dos Meninos. Como conseqüência, para defender os direitos de permanência de cerca de 40 funcionários aposentados, que iriam ser despejados de suas casas, foi fundada a Associação de Moradores e Amigos da Fundação Abrigo Cristo Redentor (Cidade dos Meninos).<br />Em 1990, já no contexto das discussões preparatórias para a UNCED (United Nations Conference for Environment and Development – ou Rio 92), a Defesa Civil do Rio de Janeiro e FEEMA foram à área. Alguns moradores começaram a se queixar de doenças provocadas pela exposição ao pó-de-broca. Descrevemos a seguir, doenças associadas e seus efeitos, não só a humanos, assim como a outros espécimes do reino animal, incidentes na região.<br />Em 1993 os Institutos da Cidade dos Meninos, já bastante esvaziados, foram interditados pela Juíza da Infância e Adolescência, Maria Luíza Miguel, da Comarca de Caxias, com base em laudo da Fundação Oswaldo Cruz sobre a contaminação do sangue das crianças por BHC. Teria sido, segundo moradores, uma atuação prejudicial, pois só incidiu sobre poucas crianças internas, mas provocou o fechamento também das escolas municipal e estadual, fazendo com que os filhos das famílias remanescentes não mais tivessem onde estudar.<br /><br />PROJETOS INICIAIS DE REMEDIAÇÃO<br />Havia, na época, vários projetos grandiosos para a área, que é natural e muito bonita. A então primeira-dama, Rosanne Collor, à frente da LBA – Legião Brasileira de Assistência, resolvera implantar na Cidade dos Meninos o “Projeto Minha Gente”, que contaria com 60 mil casas populares, shopping rural, piscina, etc, enquanto que o político Moreira Franco, candidato ao governo do Estado do Rio de Janeiro, prometia ali a construção de uma represa. Promessas que seriam os embriões das ações do PAC do atual governo e as quais achamos estejam ligadas às ações de remediação da contaminação presente.<br />As tentativas de solução<br /><br />Em 1995, a Nortox Agroindústria do Paraná, contratada pelo Ministério da Saúde (Ministro Adib Jatene), foi à Cidade dos Meninos, derrubou o esqueleto da fábrica e derramou cal (hidrato de carbono) por sobre a área onde anteriormente se erguia a Fábrica de Produtos Profiláticos, na tentativa de neutralizar o pó-de-broca. Segundo depoimentos de moradores, uma pá mecânica deslocou o pó-de-broca formando um monte de 10 metros de altura, o correspondente a 8 carretas ou 140 toneladas, e jogou cal por cima. O efeito desta “solução” foi muito ruim, pois fez produzir fenóis como reação, impedindo a adoção de uma nova solução, tida como a mais adequada, que seria a bioremediação. (OLIVEIRA, 1994, apud BASTOS, 1999). A conclusão da pesquisa de Bastos é peremptória: o tratamento químico utilizado para a descontaminação foi ineficaz, pois os compostos organoclorados inicialmente presentes lá permanecem em concentrações elevadas. Além disso, a área contaminada foi aumentada em 16 vezes. A pesquisadora alertava também para a hipótese de, através da degradação química do HCH, triclorobenzenos formarem dioxinas, composto já identificado nas amostras de solo da região.<br />Em 1999, a área onde ficava a fábrica, foi cercada e lá colocado um cartaz proibindo a entrada e dizendo ser uma “área em processo de descontaminação”] (Eu pessoalmente posso afirmar que o acesso ao local É LIVRE. Sem nenhum impedimento por parte de quem quer que seja, transitei LIVREMENTE pelo local, á época SEM O MENOR CONHECIMENTO DO CORRIDO (SETEMBRO/2008) e em momento algum fui questionado sobre qualquer coisa. O transito na área é livre e serve para encurtar o caminho entre a Av. Presidente Kennedy e a faixa de dutos da Servidão PETROBRÁS – ORBEL no Parque Capivari. As autoridades passaram a cogitar em deslocar as famílias que moram a menos de 100 metros do foco de contaminação, definido como sendo a área cercada, mas elas recusavam-se a fazê-lo.<br />Em 1996, a Micro-Bac do Brasil, empresa supostamente ligada à multinacional Bayer, anunciou a possibilidade de acabar com o BHC pelo processo de bioremediação, utilizando-se de uma bactéria marinha - a rhodospirillaceae, procedimento que não foi aventado como solução, mas que no momento, será o ponto de partida de nossos estudos. Não considero a bioremediação um fator a não ser considerado. No início dos anos 80, à frente da Divisão de Defensivos Agrícolas desta multinacional, tive acesso a diversos estudos de Biodefensivos, muito embora estes estivessem mais intimamente ligados ao controle de pragas na lavoura. Não descarto jamais está possibilidade a optar pela simples “transferência de contaminação” que é para mim o princípio do encapsulamento. Fica ainda a questão: Como regenerar as águas subterrâneas? Pretendo utilizar-me de estudos da Shell no caso de Paulínia em 1996 e em tecnologia hoje utilizada pela Marinha do Brasil para suprimento de tripulação em longos deslocamentos, princípio consagrado cientificamente como “osmose reversa”. Nosso maior e principal objetivo será a utilização da área para atividade de re-plantio de mudas nativas indicadoras da saúde do solo, assim como da água. Neste sentido, buscaremos parcerias com o Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Na impossibilidade de determinação de espécimes da flora e da fauna nativas como indicadores da BOA SAÚDE daquele BIOMA, estaremos, aí sim, nos fazendo valer de estudos paralelos para o encapsulamento. Devo lembrar que a ABNT determina para o concreto vida útil na faixa de 50 anos. Quando então deveremos, no mínimo, iniciar programa de manutenção preventiva para as “cápsulas”. Como estudioso e pesquisador, sem o condão de querer polemizar, questiono aos Senhores. – O que desejamos fazer com a Cidade dos Meninos? Resolver definitivamente e de forma técnica e adequada à questão ou postergar o problema para nossos bisnetos?<br />Ao analisar friamente e tecnicamente o caso, concluo:<br />Ocorreram uma série de esboços de iniciativas governamentais e não governamentais inadequadas e inoperantes. Promovidas por pessoas acredito mais bem intencionadas do que legitimamente técnicas. Por uma terceira perspectiva, há empresas mencionadas – Bayer, Microbac – com diferentes metodologias de solução à disposição, mas devemos conhecer ainda seus custos, sem preocupação, mas preponderantemente sua exeqüibilidade na efetiva VONTADE de se envolver na solução da questão. Está será a resposta a uma equação pendente ao longo de cerca de 50 anos.<br />Sem querer defender as autoridades federais, podemos supor que seria lógico ter um Instituto de Malariologia situado na zona endêmica que era a Baixada Fluminense. Poderíamos também lembrar que, nos anos 50, a descoberta química dos pesticidas constituiu o que se chamou de Revolução verde, tida literalmente como “a salvação da lavoura”. Sua toxidez ainda não era conhecida. E, sendo então um único ministério – de educação e saúde, pode ter parecido como a solução mais fácil que o Instituto de Malariologia fosse instalado em terras já do próprio ministério.<br />Sem querer me ater a qualquer estudo sociológico, não podemos deixar desprezar que a bioremediação, no caso em tela, se possível e tecnicamente viável, o seria socialmente imensamente favorável, senão vejamos: O caso da Cidade dos Meninos contraria a literatura sociológica sobre locais quimicamente contaminados. Geralmente nestes casos, a população busca meios para sair do local (LEVINE e GIBBS, 1998, sobre Love Canal para citar como exemplo). Na Cidade dos Meninos, não apenas a população quer ficar, mas outros querem ocupar a área, razão apresentada para a presença de segurança armada e ostensiva. Também nos casos registrados pela literatura, geralmente o cientista que minimiza o problema ou está contra os moradores, a serviço da parte contrária, as empresas, ou estes lhe são indiferentes. Mas no caso da Cidade dos Meninos ouvi tais comentários de cientistas que estão do lado dos moradores. E isto porque se, por um lado, ser categorizada como contaminada, favorece a população que passa a poder pleitear indenizações e assistência médica, por outro, pode vir a ser o pretexto suficiente para que a área seja evacuada.<br />REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />BASTOS, Lúcia Helena Pinto. (1999). “Investigação da contaminação do solo por organoclorados na Cidade dos Meninos, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Avaliação dentro de um novo cenário, após adição de cal”. Dissertação para obtenção do título de Mestre em Ciências na área da Saúde Pública. Rio de Janeiro, Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz.<br />BIJOS, G. M. (1961). “Cinco anos entre os sanitaristas”. Revista de Química e Farmácia, 26 (6):13-79.<br />BOURDIEU, P. (1989). Poder Simbólico. Lisboa: Difel.<br />BRAGA, Ana Maria Cheble Bahia. (1996). “Contaminação ambiental por hexaclorociclohexano em escolares na Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, Rio de Janeiro”. Dissertação para obtenção do título de Mestre em Ciências na área da Saúde Pública. Rio de Janeiro, Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz.<br />BULLARD, Robert D. (1990) Dumping in Dixie: race, class and environmental quality. Boulder, Westview Press.<br />CAMACHO, D. (1998) (Ed.) Environmental injustices, political struggles: race, class and the environment. Durham/London, Duke University Press.<br />CECAB/FEEMA (1991) Dossiê “BHC abandonado na Cidade dos Meninos, Município de Duque de Caxias, RJ.<br />ERMEL, Luíza Helena Nunes et alli. (1997). “Análise das representações práticas relativas ao trato com o contaminante, crenças e costumes na Cidade dos Meninos, Duque de Caxias – Rio de Janeiro”. Relatório de pesquisa. PUC/Núcleo de Estudos de Exclusão Social. Rio de Janeiro, 68 pgs.<br />FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente – (1989). “Relatório Técnico “BHC” Cidade dos meninos – Duque de Caxias”.<br />FEEMA. (1990). Relatório de reunião sobre o BHC na Cidade dos Meninos.<br />FREITAS, C. M. (1996) Acidentes químicos ampliados - incorporando a dimensão social nas análises de riscos. Tese de doutoramento apresentada a ENSP/FIOCRUZ, Rio.<br />GIBBS, Lois M. (1998) Love Canal. 20th anniversary revised edition. Gabriola Island, New Society Publishers.<br />GOULD, K. et al. Local environmental struggles:citizen activism in thetreadmill of production. Cambridge University Press, 1996.<br />HERCULANO, S. “Justiça Ambiental: de Love Canal à Cidade dos Meninos, em uma perspectiva comparada. Justiça e Sociedade: temas e perspectivas. Marcelo Pereira de Mello (org.). São Paulo: LTR, 2001, pp. 215 – 238.<br />LEVINE, A. (1982) Love Canal: Science, Politics and People. Lexington: Lexington Books, 1982<br />McAVOY, Gregory A. (1999)Controlling Technocracy:citizen rationality and the nimby syndrome. Washington:GeorgetownUniversity Press.<br />MELLO, Jaíza Lucena. (1999). “Avaliação da contaminação por HCH e DDT doe leites de vaca e humano provenientes da Cidade dos Meninos, Duque de Caxias, RJ”. Dissertação para obtenção do título de Mestre em Ciências na área da Saúde Pública. Rio de Janeiro, Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz.<br />MENEZES, L. (2002) Internalizando as externalidades: a perspectiva neoclássica. Herculano, S. Meio ambiente: questões conceituais. Niterói. UFF/PGCA, pp. 41 - 52.<br />OLIVEIRA, Rosália Maria de. (1994). “Estudo da contaminação do solo e pasto causada por hexaclorociclohexanos (HCH) na Cidade dos Meninos em Duque de Caxias, RJ”. Dissertação para obtenção do título de Mestre em Ciências na área da Saúde Pública. Rio de Janeiro, Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz.<br />PEIXOTO, B. Helena. (1990). “Pó de broca: grande imprensa e comunicação popular. Como atuaram na formação da consciência ecológica?” Monografia da Conclusão do Curso de Jornalismo. Rio de Janeiro, UERJ.<br /><br /><br />PORTO, Marcelo Firpo de Souza. (2000) “Considerações sobre a dinâmica de regulação dos riscos industriais e a vulnerabilidade da sociedade brasileira”. Qualidade de vida e riscos ambientais. Selene Herculano eta al (orgs.). Niterói, EDUFF, pp. 147 - 170.<br />RUSCHI, A. (1950) “O emprego do BHC e suas conseqüências para o patrimônio natural”. Boletim do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, Santa Teresa, Espírito Santo, Série proteção à Natureza.<br />WHO/IPCS - World Health Organization/International Programme on Chemical Safety. Lindane (gamma- HCH) health and Safety Guide. Health and Safety Guide nº 54.<br />TAYLOR, B.R. (ed.) (1995). Ecological resistance movements: the global emergence of radical and popular environmentalism. Albany: State University of New York<br /><br />Agradecimentos especiais:<br />Profra. Selene Herculano;<br />CETESB, Div. Técnica;<br />Bayer do Brasil, divisão de Defensivos Agrícolas;<br />Sr. Otto Voswinkell – Diretor da Divisão WI da Bayer, Fábrica de Belford Roxo;<br />Antonio José de Sá Freire de Gonçalves Torres, UFRJ/FEEMA;<br />Prof. Dr. Weber – Diretor do IF da UFRuRJ;<br />Jornalista Alberto Marques – Pesquisador.<br /><br /><span style="font-size:130%;">PALAVRAS DO AUTOR</span><br /><br />Este trabalho é um desafio eletrizante. Em minha modesta carreira profissional, e principalmente como pesquisador, hoje ligado ao IBAMA, em outros momentos junto ao IME, INT, CENPES e IPT, ainda não havia encontrado desafio tal.<br />Minha proposta, como ambientalista acima de tudo, não é de bioremediação e sim de bioregeneração. Regeneração do espaço. Regeneração dos personagens hoje envolvidos. Regeneração da fé pública de que, como já fora dito sobre o caso, os chamados “Poderes da ciência” (referindo-se aos colegas que na busca de uma remediação, tentaram o emprego de técnicas que simplesmente não deram certo), são profissionais sérios que enfrentando uma contaminação sui generis procuraram uma saída. Erraram tentando, não conjecturando. Quanto ao poder público não me referirei. Se nós, técnicos não apresentarmos as soluções, os burocratas, incumbidos de suas funções o que poderão fazer ?<br />Minha proposta para a Cidade dos Meninos, vislumbrará um trabalho de regeneração de área degradada, jamais de remediação. O projeto de meu grupo de trabalho, terá por objetivo tornar a Cidade dos Meninos não só dos meninos. Mas de toda a população daquela região. Nossa iniciativa visa tornar está área em “área de especial interesse ambiental” protegida, com o plantio de espécimes nativas, em especial eucalipto, de onde pretendo implantar ao término da regeneração um projeto para a reciclagem, sem queima, da madeira, não só produzida na Cidade dos Meninos, mas também aquela que hoje se acumula nos lixões, inclusive no de Duque de Caxias. Nossa idéia é produzir chips de madeira, casca, substrato orgânico para elementos decorativos e para a fertilização de plantações orgânicas.<br />Este é o nosso pensamento. Esta é a nossa proposta.<br /><br />Oswaldo Marques.<br /></span></span></em></strong>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-66199932077811818012008-11-20T17:22:00.007-02:002008-11-20T17:47:09.286-02:00<div align="left"><span style="font-family:verdana;"><em><strong><span style="color:#ffcc00;"><span style="font-size:180%;color:#ff0000;">JOÃO CÂNDIDO – O HERÓI<br />DOS DIREITOS HUMANOS</span> </span></strong></em></span></div><span style="font-family:verdana;"><em><strong><span style="color:#ffcc00;"><div align="right"><span style="font-size:78%;"></span></span><br /></strong><span style="font-family:arial;">GUILHERME PERES</span> </em></span></div><span style="font-family:verdana;"><em><br /><strong><span style="color:#3366ff;">Filho de João Cândido Velho e Dona Inácia Cândido, João Cândido Felisberto, o líder da Revolta da Chibata na Marinha, nasceu em 1880 na fazenda da </span><a href="http://4.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SSW7Cg1mI9I/AAAAAAAADBk/ZXBISC3WS80/s1600-h/_joao_candido.jpg"><span style="color:#3366ff;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5270824590755898322" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 151px" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SSW7Cg1mI9I/AAAAAAAADBk/ZXBISC3WS80/s200/_joao_candido.jpg" border="0" /></span></a><span style="color:#3366ff;">Coxilha Bonita, município de Rio Pardo, Rio Grande do Sul. Na adolescência ocupou pequenos empregos na cidade de Porto Alegre, até inscrever-se aos 16 anos na Escola de Aprendizes de Marinheiro de seu Estado. Pouco depois foi enviado para o Rio de Janeiro onde assentou praça de grumete na Base Naval da Ilha de Villegagnon.<br /></span></strong><a href="http://4.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SSW5il0OHAI/AAAAAAAADBc/EtdC5hj9XoE/s1600-h/_joao_candido.jpg"><strong></strong></a><strong><span style="color:#3366ff;">Durante os tempos que se seguiram, João Cândido, então com 26 anos, serviu a bordo de alguns cruzadores, mas sua maior missão foi embarcar com uma turma de marinheiros que viajaram para a Inglaterra, para acompanhar a construção final do maior vaso de guerra já construído nos estaleiro de New Castle encomendado pelo Brasil, o encouraçado “Minas Gerais”.<br />Incorporado à Marinha de Guerra em 1910 sob o comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra Baptista das Neves, fez-se ao mar com toda a tripulação, dando entrada no Rio de Janeiro em abril do mesmo ano.<br />CASTIGO<br />Na baia de Guanabara, o sol dourava o mar naquela manhã de 16 de novembro de 1910. Vários barcos à vela e a vapor balançavam ao sabor das ondas serenas que chegavam à praia.<br />Ancoradas mais distante, duas belonaves: os encouraçados “São Paulo” e o “Minas Gerais”. Este, considerado na época, a mais potente arma de guerra no mar então existente, adquirida recentemente pela Marinha Brasileira aos estaleiros da Inglaterra. Nem mesmo as armadas do Japão, Itália, Rússia e França contavam com esse poderoso armamento.<br />No convés do “Minas Gerais”, a marujada perfilada com o uniforme de cerimônia diante da chegada de seu comandante João Baptista das Neves, acompanhado por oficiais fardados portando luvas e espadas.<br />Fez-se silêncio. Ao rufar dos tambores e ao toque breve dos clarins, leu-se o capítulo das penalidades contido na “Companhia Correcional” que permitia, após 22 anos da abolição, o açoite de marinheiros.<br />Marcelino Rodrigues de Menezes, marinheiro, havia sido condenado pelo “crime” de tentar entrar no navio com duas garrafas de aguardente. Denunciado pelo cabo Valdemar Rodrigues de Souza, tentou agredi-lo com uma navalha.<br />Após a leitura, o comandante fez um discurso ressaltando o dever da disciplina que cada marinheiro subalterno deveria cumprir. No castigo agora presenciado por toda a tripulação formada, Marcelino receberia 250 chibatadas, vítima do rancor de uma elite, cuja maioria de oficiais era filhos de fazendeiros ex-donos de escravos, que após a abolição, ainda mantinham o distanciamento social geridos nas senzalas, durante os tempos do Império.<br />Examinado pelo médico, o indiciado teve suas mãos amarradas, as costas desnudas e, após um sinal do comandante, o carrasco rodopiou no ar a primeira chicotada.<br />Um marinheiro negro perfilado no convés, chamado João Cândido, franziu o cenho sentindo a dor do companheiro sacrificado. Seus olhos acompanharam o suave vôo de uma gaivota riscando o céu em direção ao horizonte, num prenúncio de liberdade. O amanhã nunca mais seria o mesmo.<br />“Em 1910, as condições de vida e de trabalho dos marinheiros eram degradantes. Alistar-se na marinha de guerra era um castigo. Os vencimentos eram péssimos. A comida era ruim. Era comum que carne deteriorada fosse servida como refeição. O trabalho era pesado. Para manter uma disciplina despótica, os oficiais utilizavam habitualmente o castigo físico. Compreende-se por que motivo os voluntários fossem raros”<br />Considerado como rotineiro durante o período da escravidão, esses castigos haviam sidos abolidos após o advento da república em 1889, e retornado a rotina disciplinar na Marinha devido ao desejo da alta oficialidade, criando um novo decreto em 12 de abril de 1890, chamado de “Companhia Correcional”, qual levava a assinatura de Rui Barbosa. “Segundo o regimento, a pena máxima física era de 25 chicotadas por dia. Porém, castigos maiores eram deixados ao “prudente arbítrio do comandante”, sendo comum os golpes acima de duzentas chicotadas.<br />Com 90% da tripulação composta de negros e mulatos entre os marinheiros, a Marinha de Guerra era uma das últimas opções de trabalho para as classes pobres, “diante de uma oficialidade branca e aristocrática, descendentes em boa parte dos antigos senhores de escravos. O povo negro era, ontem como hoje, o grupo social mais marginalizado do Brasil”.<br />O LEVANTE<br />No mesmo dia a bordo do “Minas Gerais”, ficou praticamente acertada o inicio da revolta, que já estava sendo planejada meses antes, mas, o caso Marcelino, precipitou tudo; seria no dia 22 de novembro.<br />Às 22 horas, os toques de clarim naquela noite, ordenando silencio repetidos da proa à popa, significava combate. Um grupo de cinco marinheiros resguardou cada canhão, com ordem de atirar para matar.<br />Gritando vivas à “liberdade” e “Abaixo a chibata”, os marinheiros cercaram os oficiais em luta corporal com estes, até o domínio dos revoltosos. “As dez para as onze da noite, quando cessa a luta, João Cândido, líder absoluto da revolta, manda disparar um tiro de canhão, sinal combinado para dar o alerta aos outros navios envolvidos”. Responde o “São Paulo”, seguido do “Bahia” e o “Deodoro”. Todos os holofotes iluminam o Arsenal de Marinha, as praias e as fortalezas. “Um rádio é expedido para o palácio do Catete, exigindo o fim dos castigos corporais”.<br />No outro dia, os mortos são enviados para a terra enquanto a bordo inicia-se a rotina de guerra. No Rio de Janeiro, ao tomar conhecimento da situação, a população apavorada procura refugiar-se nos subúrbios, enquanto os navios sob o comando de João Cândido se deslocam na Baia de Guanabara “tudo feito com maestria”, como noticiou um jornal da época.<br />Diante da inoperância do governo, o deputado federal pelo Rio Grande do Sul e comandante da Marinha, José Carlos Carvalho, é convidado para dialogar com os revoltosos. Ao desembarcar no navio, com todas as honras destinadas às autoridades, perguntou: “quem é responsável por esses atos? “todos”, respondem. E um deles acrescenta: “Navios poderosos como esses, não podem, ser tratados, nem conservados, por meia dúzia de marinheiros que estão a bordo; o trabalho é redobrado, a alimentação é péssima e mal feita e os castigos aumentam a cada dia”. Mandam vir à presença do deputado o marinheiro castigado na véspera. “Esse pobre homem mais parece uma tainha lanhada para ser salgada”, diz o deputado, e pede que o ferido volte com ele para terra, a fim de tratá-lo no Hospital da Marinha.<br />Ao entregar a mensagem dos amotinados no Palácio do Catete, ao presidente e seus ministros, datada de 22 de novembro, que exigia “retirar os oficiais incompetentes e indignos de servir a Nação Brasileira. Reformar o código imoral e vergonhoso que nos rege, a fim que desapareça a chibata, o bolo e outros castigos semelhantes” entre outras reivindicações, concluía: “Tem V. Excia. o prazo de 12 horas para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a pátria aniquilada”.<br />O comando geral da revolta estava a cargo de dois líderes: Francisco Dias Martins, o “Mão Negra”, o intelectual que redigia as mensagens transmitidas em notas pelo rádio e captadas pelos marujos rebeldes, e João Candido, “O Almirante Negro”, como passou a ser chamado pela imprensa. Homem prático: “Executava sua liderança com firmeza e habilidade na condução da esquadra, graças às lições tomadas na Inglaterra”. Diferenciava dos demais marujos, por “um lenço vermelho que levava amarrado ao pescoço”.<br />“ANISTIA”<br />No Senado Federal, Rui Barbosa apresenta um projeto concedendo “anistia aos insurretos da parte de navios da Armada Nacional”. Entretanto, um plano cruel estava em andamento. Depois da liberdade, foram presos, sendo quase todos eles mortos na Ilha das Cobras, asfixiados durante vários dias em cubículos fechados após receberem uma ducha de água com cal virgem. Dos 18 encarcerados, apenas João Cândido e João Avelino sobreviveram.<br />Em uma entrevista João Candido revela: “os gemidos foram diminuindo, até que caiu o silencio dentro daquele inferno, onde o Governo federal, em que confiamos cegamente, jogou 18 brasileiros com seus direitos políticos garantidos pela Constituição”.<br />Expulso da Marinha com apenas 32 anos de idade, a tuberculose minava-lhe o corpo após 18 meses de prisão, passando a freqüentar a Praça XV em busca de emprego, tentando trabalhar em algum navio cargueiro que fazia a costa brasileira.<br />Operou no “Antonico” como timoneiro, fazendo carregamento de açúcar para o Sul com mais 14 tripulantes. Na volta ao Rio de Janeiro casou-se com a jovem Marieta, uma das filhas do carpinteiro que lhe deu hospedagem em sua casa.<br />Após um ano embarcado, foi demitido por pressão do comandante dos Portos de Santa Catarina e ex-oficial do “Minas Gerais” Ascânio Montes. Outro longo período desempregado até que aceitou descarregar café no cargueiro “Ramona”, porém, com a saúde abalada não agüentou o trabalho pesado.<br />Em 1917 falece sua primeira mulher. Três anos depois conhece Maria Dolores e vêm morar em São João de Meriti. João Candido é agora empregado na descarga de peixe no mercado da Praça XV. Aqui nasceram quatro filhos. Após oito anos de luta pela sobrevivência, a ausência do marido nas noites de trabalho, faz com que Maria Dolores num gesto tresloucado de ciúmes, pusesse fim à vida.<br />Não tem fim o sofrimento do velho marinheiro. Em 1930 é preso “por ter sido procurado por lideranças políticas, sobretudo de esquerda, que vêem nele um símbolo de resistência”. Naquele momento político conturbado na vida da Nação, achavam que João Candido estava envolvido em um partido de esquerda, representado pelo jornal “A Nação”, que incitava os deputados a formarem o bloco Operário e Camponês. que proclamava a criaçerda rado<br />ANOS TRINTA<br />No começo dessa década, João Candido conheceu Ana Nascimento, natural de Paraíba do Sul e resolveram morar juntos, mudando-se para outra casa em São João de Meriti, no bairro Vila Rosaly. Ali teve alguma tranqüilidade apesar da febre que o envolvia nas madrugadas frias de trabalho no mercado de peixe da Praça XV.<br />VILA ROSALY<br />Casado com Dona Rosaly de Araújo Farrula, o Dr. Rubens Campos Farrula comprou em 1928, parte das terras da antiga fazenda do Carrapato, pertencente ao espólio da família do comendador Tavares Guerra, transformando-a em área de loteamento com o nome de Vila Rosaly e conseguindo com sua influencia, desviar a Estrada de Ferro Rio D’Ouro de seu leito original para que passasse dentro de sua propriedade.<br />O artista plástico Moacir Campos, membro da Academia de Letras e Artes de São João de Meriti, em depoimento a este cronista, declarou que ainda criança, foi um dos primeiros habitantes desse loteamento junto com seu avô, o administrador Sr. José de Oliveira Campos, testemunhando durante vários anos a presença de João Cândido assistindo as partidas domingueiras no campo de futebol do Brasil Novo F.C., cuja residência ficava atrás dessa quadra de esporte, voltada para a ante anha ferrea o irao Brasil Novo.Av. Fluminense.<br />DECEPÇÕES<br />Na sua ingenuidade, é envolvido por integrantes da Marinha, filia-se à Ação Integralista Brasileira, freqüentando periodicamente o núcleo criado na Pavuna. Uma tentativa de golpe dessa facção é abortada pelo presidente Getulio Vargas em maio de 1938 e Plínio Salgado, seu líder, foge para a Europa deixando seus seguidores à mercê das tropas da Polícia Política. Mais uma decepção na vida de João Cândido que atravessou incólume esse revés.<br />Em 1961, viajou para o Rio Grande do Sul de avião para receber uma homenagem da Câmara Municipal de Porto Alegre, “seria também recebido no Palácio Piratini pelo governador Leonel Brizola e ganharia um busto em praça pública”.<br />Pressionados por oficiais da Marinha as homenagens são canceladas e a audiência com o governador é suspensa. Em Rio Pardo, terra natal de João Cândido a recepção ao homenageado pela Câmara tem o mesmo destino, valendo apenas a aprovação de uma pequena pensão de oito mil cruzeiros recebidos mensalmente no Rio de Janeiro através do Banco da Província do Rio Grande do Sul.<br />Varias tentativas de conceder-lhe uma pensão através de projetos apresentados à Câmara Federal foram barradas pela Comissão de Justiça. Enquanto isso, os jornais divulgavam freqüentemente o mau estado de saúde do velho marinheiro. O Governador do Rio de Janeiro Roberto Silveira, sensibilizado com sua situação, recebe-o no Palácio do Ingá e põe à sua disposição “um cheque de 200 mil cruzeiros da verba de representação pessoal do gabinete, para construir uma casa própria”.<br />“Candinho, o filho de João Candido, havia comprado um terreno na periferia de São João de Meriti, na Rua Turmalina, lote 18, quadra 50, em Coelho da Rocha. Ali João Cândido vive seus últimos anos, numa casa própria, construída sobre um barranco, numa rua sem asfalto, empoeirada”, diz Fernando Granato em “O Negro da Chibata”.<br />Aos 84 anos, é envolvido mais uma vez com os movimentos sindicais, sendo levado para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos na célebre rebelião dos marinheiros como um troféu, numa tentativa de valorizar a liderança do cabo Ancelmo, que culminaria com o golpe militar de 1964.<br />Durante os “anos de chumbo”, o herói dos direitos humanos, “já quase sem enxergar, procura ficar incógnito em sua casinha da Rua Turmalina. Sai de casa apenas para fazer compras. Usando uma bengala vai a pé até o centro do subúrbio onde compra mantimentos num pequeno armazém”.<br /><br />DEPOIMENTO<br />Em 1968 João Cândido é conduzido secretamente ao Museu da Imagem e do Som para dar uma entrevista com sua voz fraca e claudicante:<br />“Nós, que viemos da Europa” diz João Cândido em seu depoimento, “em contato com outras marinhas, não podíamos mais admitir que na Marinha do Brasil ainda um homem tirasse a camisa para ser chibatado por outro homem. Nós queríamos combater os maus-tratos, a má alimentação na Marinha. E acabar definitivamente com a chibata, o causo era só esse”.<br />“Muitos oficiais da Marinha não conseguiam comandar o “Minas Gerais” e eu tive o poder de dominar, fazer o que jamais fariam, na Baia do Rio de Janeiro. Quando recebi o ofício dizendo que a esquadra seria atacada pelo Governo, não dei resposta. Preparei meus navios e me fiz ao mar... esperei 24 horas, não apareceu ninguém”.<br />Depois desse episódio, tornara-se um símbolo de contestação. “E o que se percebe em suas palavras, é que João Cândido foi muito mais utilizado nas mãos de oportunistas políticos, do que motivado por ideologia própria”, diz Granato.<br />O ato de ter realizado uma manobra de guerra com uma esquadra, a bordo de um encouraçado com aquele poder de fogo, comandada por um marinheiro negro e subalterno, nunca seria aceito pela Marinha como protesto para terminar a tortura, e sim como uma manifestação de rebeldia.<br />“Depois que saí da cadeia, ainda tentei trabalhar no mar, mas fui sempre muito perseguido, até na Marinha Mercante”, finaliza João Candido.<br />DESCANSO ETERNO<br />O tempo chuvoso antecipou a chegada da noite naquela tarde de seis de dezembro de 1969. Ao ser levado ao Hospital Getúlio Vargas sentindo fortes dores no abdômen, João Candido foi desenganado pelos médicos devido ao câncer em adiantado estado de desenvolvimento, falecendo poucas horas depois.<br />Liberado o corpo no outro dia, “o pequeno cortejo com a família, num táxi, ruma para o cemitério do Caju”, onde foi sepultado na quadra 45 com a solidariedade de quatro conselheiros da ABI e “a presença de policiais com máquinas fotográficas. Na porta do cemitério uma radiopatrulha permaneceu estacionada”.<br /><br />“O MESTRE SALA DOS MARES”<br />Há muito tempo nas águas da Guanabara<br />O dragão do mar reapareceu<br />Na figura de um bravo feiticeiro<br />A quem a história não esqueceu<br /><br />Conhecido como navegante negro<br />Tinha a dignidade de um mestre sala<br />.............................................................<br /><br />Glória a todas as lutas inglórias<br />Que através da nossa história<br />Não esquecemos jamais<br /><br />Salve o navegante negro<br />Que tem por monumento<br />As pedras pisadas do cais<br /><br /><br />Proibido pela censura no começo dos anos setenta, este samba exaltação de João Bosco e Aldir Blanc estourou nas rádios na voz de Elis Regina. Antes, porém, teve sua letra modificada várias vezes para poder ser gravada e divulgada na mídia. “Os dois foram chamados pelo Departamento de Censura para explicar a música que trazia à tona um assunto proibido pelas forças armadas”.<br />Foram trocadas palavras como, por exemplo, almirante por navegante, substituindo outras por polacas, mulatas, baleias etc., terminando com a hilariante desculpa de um dos agentes descrito por Aldir Blanc: “O cara chegou com a letra na mão e me disse: o que ta pegando mais não é o lado político e sim a questão da exaltação da raça, por que essa música faz uma tremenda exaltação ao negro”.<br /></span><br />Referências Bibliográficas:<br />Maestri, Mário – “Cisnes Negros” – Ed. Moderna – 2000 SP.<br />Morel, Edmar – “A Revolta da Chibata” – Ed. Graal – 1996 RJ.<br />Granato, Fernando – “O Negro da Chibata” – Ed. Objetiva – 2000<br />Jornal: “A Voz Popular” – Centenário de Nascimento do Almirante<br />Negro – 29/11/1980 – S. J. Meriti - RJ<br />Moacir Campos – Depoimento oral – 2008<br /><br /></strong><strong></strong></em></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-3619368411410753842008-05-12T17:30:00.004-03:002008-05-12T18:02:41.759-03:00PEDAÇOS DA NOSSA HISTÓRIA<div><div><span style="font-family:arial;"><strong><span style="font-size:180%;"><span style="color:#ff0000;">DUAS PENSÕES MARCARAM<br />A VIDA DE DUQUE DE CAXIAS</span><br /></span>Recentemente, o Governo do México resolveu restabelecer a exigência de visto de entrada no País de brasileiros, como forma de dificultar a entrada ilegal nos EE. UU. Para as autoridades brasileiras, o Governo mexicano se dobrou às pressões do governo norte-americano. Quem se espantou com essa medida, na certa não se lembra do que ocorreu por aqui nos anos 50. Dezenas de pessoas chegavam diariamente ao Rio de Janeiro, então capital federal, em busca do Sul Maravilha. Eram retirantes do Norte-Nordeste, atraídos pelas notícias de que aqui era mais fácil “enricar”, isto é, ganhar dinheiro. Ao chegarem à cidade grande, os migrantes eram empurrados para a periferia e para empregos de pouca ou nenhuma qualificação, principalmente na construção civil. Foi então que um prefeito do então Distrito Federal teve a “luminosa” idéia de proibir a entrada dos caminhões, conhecidos como “paus-de-arara” na cidade do Rio de Janeiro. Como a viagem no sentido Norte-Sul era feita pela Estrada Rio - Bahia, que terminava na Avenida Brasil, a passagem por Duque de Caxias era obrigatória. Assim, com reforço do policiamento na barreira de Vigário Geral, era fácil impedir a chegada dos caminhões com os retirantes, que faziam ponto final junto ao Campo de S. Cristóvão, um imponente prédio construído para comemorar o Centenário da nossa Independência, em 1922. </strong></span><a href="http://2.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SCivkk_JRNI/AAAAAAAABG4/OYc59KMoyaU/s1600-h/figura+migrantes.jpg"><span style="font-family:arial;"><strong><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199598812737914066" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SCivkk_JRNI/AAAAAAAABG4/OYc59KMoyaU/s320/figura+migrantes.jpg" border="0" /></strong></span></a><br /><span style="font-family:arial;"><strong>Foi aí que entrou em cena a “Pensão do Norte”, uma residência na Avenida Nilo Peçanha, na divisa da Vila Meriti com o Parque Lafaiete, nas proximidades da Estrada da Várzea. Era ali o ponto final para muita gente que deixava Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Rio Grande do Norte e até o distante Ceará. A atração da cidade do Rio de Janeiro em relação aos nordestinos se devia a um fator histórico: sendo capital federal, sempre era possível chegar até um deputado no Palácio Tiradentes ou um senador no Palácio Monroe, oriundos do Norte-Nordeste, com a carta de um parente ou um político do interior, cabo eleitoral dos nossos congressistas. E um dos mais procurados era o deputado Tenório Cavalcante, um alagoano que fez fortuna e carreira política em Duque de Caxias, dono da famosa “Lourdinha” e que se apresentava em público com uma vistosa capa preta.<br />Em pouco tempo, a “Pensão do Norte” passou a ser o ponto de encontro dos que aqui residiam e dos que chegavam. Era um abrigo provisório muito perto da Capital e muito conhecido da numerosa colônia nordestina, que incluía figuras de prestígio nacional, como os irmãos, Zé e Luís Gonzaga, Chico Anísio, Ratinho e, mais tarde, o próprio Jararaca, Jackson do Pandeiro e Almira. Era na “Pensão do Norte” que os caminhões deixavam os “paus-de-arara”, que deixavam a miséria provocada pela seca e o latifúndio, como ainda hoje ocorre, em busca de fortuna nas grandes cidades do Sul, com o Rio de Janeiro em primeiro plano.<br />A outra pensão que fez parte da nossa história era de outro tipo. Era a “Pensão da Olinda”, um bar que funcionava na Avenida Rio Petrópolis, bem em frente à Prefeitura e à Câmara de Vereadores. Era o ponto de encontro das “Secretárias da Calçada”, como eram chamadas as prostitutas que desfilavam pelas calçadas da Rio - Petrópolis e da Praça 23 de Outubro, atual Emancipação, nos anos 50. A “Pensão da Olinda” era o local em que se discutia a distribuição do cimento, monopólio da Prefeitura que causou diversas mortes na cidade, ou a nomeação de uma nova leva de funcionários numa época em que concurso público era palavrão.<br />Cada uma a seu modo, essas duas pensões fazem parte da história de Duque de Caxias, uma por ser ponto de reencontro de famílias de retirantes; a outra, de encontros de políticos que traçavam os destinos da cidade segundo seus próprios interesses. Nenhuma das duas sobreviveu ao progresso da cidade e às mudanças políticas que sacudiram Duque de Caxias a partir dos anos 60-70, com a transferência da Prefeitura e da Câmara para o bairro 25 de Agosto e o surgimento de novas lideranças políticas e empresariais no Município.<br />Entre as duas, só a “Pensão do Norte” deixou saudades, pois foi a responsável pela formação de dezenas de famílias, que ali se conheceram. Já a outra, a “Pensão da Olinda”, foi destruída pela chegada dos “motéis” às margens da “Variante”, a hoje perigosa Rodovia Washington Luís. (Ilustação do artista plástico Pedro Marcílio, filho do também artista plástico Barboza Leite, mais um cearense radicado em Caxias desde menino).</strong></span></div></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-69725666878235422672008-05-12T17:09:00.003-03:002008-05-12T17:30:01.938-03:00PEDAÇOS DA NOSSA HISTÓRIA<div align="justify"><strong><span style="font-family:verdana;"><em><span style="font-size:180%;color:#ff0000;">FAÇAM O JOGO, SENHORES!<br /></div></span><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199588298657973410" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SCimAk_JRKI/AAAAAAAABGg/dk3YAPJ2Uco/s400/Velho+cassino2.jpg" border="0" /> <p align="justify"></em><span style="color:#3366ff;"><span style="font-family:Arial;">O cassino na Av. Dr. Manoel Teles foi transformado em clínica mas, hoje, completamente abandonado, serve de criadouro para o “Aedes Aegypiti” (Foto: Beto Dias)</span><br /></span><br /><em>Por ser vizinha do Distrito Federal, antiga Capital do País, a cidade de Duque de Caxias sempre serviu de “ponto de passagem” para certos modismos da grande metrópole. Nos idos de 40, quando o jogo era livre, um português resolveu investir num cassino. Um espaçoso prédio foi construído a pouco mais de 1 km da Praça do Pacificador, numa das pontas da “Rua da Balança”, oficialmente chamada de Av. Dr. Manoel Teles. Nesse prédio funcionou uma Clínica Médica, hoje fechada. Em 1946, a decisão do Presidente Eurico Gaspar Dutra, ao proibir o jogo, apenas construiu um biombo, que escondia a jogatina que campeava no País. A prova é que, até hoje, temos cassinos, máquinas caça-níqueis e rinhas de galos espalhados pelo País.<br />Na época dos cassinos livres, havia emprego para “croupiers”, bailarinos, atores e atrizes, vedetes e até cantores e cantoras de sucesso. Os dois cassinos mais famosos foram o da Urca, na Zona Sul do Rio de Janeiro e onde, mais tarde, funcionaram os estúdios da TV-Tupi, e o “Quitandinha”, em Petrópolis. Era um excelente negócio para seus donos, pois os cassinos movimentavam verdadeiras fortunas. Fechado o cassino da Av. Dr. Manoel Teles, seu proprietário, o português João Silva, continuou na cidade, agora comandando uma banca do “Jogo do Bicho” e se transformando num benfeitor, no melhor estilo “Giovani Improta” de José Wilker, ajudando clubes sociais e entidades beneficentes. Além de ajudar na carreira política de muita gente que, na tribuna, apontava o jogo-do-bicho como uma praga social. Mais conhecido pelo apelido, “João Bicheiro”, o maior banqueiro do jogo do bicho de Duque de Caxias era dono da famosa banca “Três Batutas Loterias”. E, por conta disso, dono da mais luxuosa casa da cidade, que ocupava o espaçoso terreno entre a Avenida Brigadeiro Lima e Silva e Rua Marechal Deodoro, em pleno 25 de Agosto, hoje sede do Banco Bradesco.<br />Durante o curto governo Roberto Silveira, 1959-1960, o Palácio do Ingá, sede do Governo, mantinha um serviço de ajuda às instituições beneficentes com contribuições dos banqueiros. Para dar uma aparência legal ao jogo, as “bancas” eram autorizadas a vender os bilhetes da Loterj e da Federal, com uma condição específica: não haveria encalhe de bilhetes. Assim, a Loterj tinha uma receita garantida, pois todos os bilhetes eram comprados pelos banqueiros. Foi com esse dinheiro que o Dr. Moacyr do Carmo pode manter o Hospital Infantil num velho sobrado da Av. Nilo Peçanha, antes mesmo de ser prefeito.<br />Nos anos 60, começou a “invasão” da cidade por outros banqueiros, como Melchiades Mariano, também conhecido como "Manduca”, amigo de João Havelange e que foi tesoureiro da CBF. “Manduca” trouxe para a cidade a “Paratodos Loterias”, hoje entregue à família do Sr. Antonio Soares da Silva, grande benemérito da Escola de Samba Grande Rio e que para aqui viera gerenciar a nova loteria. Outras duas “loterias” surgiram nessa época, mas, com poucos pontos de apostas, logo desapareceram: “O Cravo da Sorte”, patrocinado pelo ex-X-9 e ex-vereador Armando Belo de França, e “Caçula Loterias”, da família Freitas Lima.<br />Mais tarde houve uma nova tentativa de reinstalar o jogo na cidade, sob o patrocínio do “banqueiro” Carlinhos Maracanã, com a sua casa noturna “Farolito”, na rua Alberto Torres, ao lado da estrada de ferro e próximo do Cemitério do Corte Oito.<br />Outra atividade marginal que teve grande influência política e econômica no Município foi a construção de hotéis, aproveitando a abertura da Rio-Petrópolis, logo seguida pela Variante, hoje conhecida como Washington Luis. A facilidade de acesso – ônibus, trem, lotação, táxis e carros particulares – tornaram os hotéis de alta rotatividade um grande negócio. Na década de 60, os hotéis evoluíram para o estilo norte-americano de motéis, que originalmente eram pousadas para motoristas em trânsito. Até a casa onde residia o deputado Tupynambá de Castro, cedida para a instalação do Município, em 31 de dezembro de 1943, acabou se transformando no “Hotel Municipal”.<br />Como sempre, os donos de hotéis sonegavam impostos, pois a “clientela” não fazia questão de se registrar numa época em que adultério era crime e podia acabar em cadeia. Nos anos 60, tentando melhorar a arrecadação do Município, o então diretor de Fazenda da Prefeitura, Pedro Bianco, decidiu implantar um regime especial de fiscalização, a “quarentena”, através de plantão na portaria dos hotéis e motéis, levando consigo, além de uma turma de fiscais, alguns guardas municipais. Enquanto a fiscalização estava no motel, a “clientela” passava direto, o que provocou acentuada queda de receita. Sem alternativa, os donos de hotéis concordaram em “reajustar” os impostos pagos à prefeitura para que a fiscalização deixasse os estabelecimentos livres da “quarentena”. Os tempos mudaram, mas a Prefeitura continua tendo problemas para arrecadar o ISS devido pelos motéis, por falta de registro dos hóspedes e ineficiência da fiscalização, que ainda vive no tempo do talão de multas e da nota fiscal feita em gráficas.<br />Entre os crimes de maior repercussão na Baixada, envolvendo o “jogo do bicho”, temos o seqüestro e assassinato do deputado estadual José da Costa França, um homem de comportamento violento e acusado pela Polícia de comandar um grupo de traficantes e matadores de aluguel que agia na Baixada. O deputado foi seqüestrado numa churrascaria de São João de Meriti e, levado para a Praia de Mauá, foi trucidado. Embora um delegado de Polícia tenha sido apontado pela própria Policia como o principal suspeito, ninguém foi condenado. </em></span></strong></p>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-75253539070296669892008-05-12T16:30:00.009-03:002008-05-12T17:08:56.304-03:00PEDAÇOS DA NOSSA HISTÓRIA<div align="center"><strong><em><span style="font-family:Arial;"><span style="font-size:180%;"><span style="color:#ff0000;">Horrores de Magé</span> </span></span></em></strong><strong><em><span style="font-family:Arial;"></span></em></strong>
<br /></div><div align="left"><span style="color:#3366ff;"><strong><em><span style="font-family:Arial;">* Eugênio Sciammarella </span></em></strong>
<br /></span><strong><em><span style="font-family:arial;">Quando a Segunda Revolta da Armada, eclodiu às 23:00 horas do dia 6 de setembro de 1893, quando os almirantes revoltosos Custódio José de Mello e Luiz Felipe Saldanha da <a href="http://2.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SCicbk_JRHI/AAAAAAAABGI/OGO6c70WRfo/s1600-h/Igreja%2520Matriz%2520N_S_da%2520Piedade%25201.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199577767398163570" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://2.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SCicbk_JRHI/AAAAAAAABGI/OGO6c70WRfo/s200/Igreja%2520Matriz%2520N_S_da%2520Piedade%25201.jpg" border="0" /></a>Gama fizeram içar abordo do encouraçado Aquidabã o pavilhão rubro da rebelião. A eles se uniram 16 vapores de guerra e 8 vapores mercantes (navios velhos e imprestáveis).
<br />Neste momento a pacata e promissora Magé estava adormecida e jamais sonharia que com o levante seria alvo do terrível holocausto intitulado pela imprensa de Horrores de Magé. A segunda Revolta da Armada foi um movimento militar que pretendia depor o Marechal Floriano Peixoto. O desentendimento entre o presidente Floriano e os militares da Armada remontava ao início de seu governo, quando apelaram para a Carta Constitucional, os militares exigiram a realização de eleições para Presidência da República, após a renuncia de Deodoro. Os conflitos se concentraram na baía de Guanabara, as rotas marítimas para o recôncavo tornaram-se impraticáveis. Com isto, Magé ficou isolada do Rio de Janeiro, pois a única via de acesso a capital da recém criada República era a marítima. Instalava-se o caos.
<br />Com o episódio, Magé foi transformada em cenário de acontecimentos lamentáveis. Houve de tudo: crimes hediondos, impunidade, repressão ao cotidiano de seus moradores, incêndios criminosos, saques a residências e a casas comerciais, estupros, mandos e desmandos, depurações de bens públicos e particulares, excesso de crueldade, embargos, destruição literária e artística, dilapidação de bens, saques e roubos de suas igrejas e capelas, destruição nos campos, nos portos e na cidade.
<br />A vertigem econômica, política, social e histórica do período foi tal que o Jornal do Brasil, numa série de reportagens, intitulou o holocausto como: “Horrores de Magé”, que marcaram e marcam a população da Cidade até nossos dias.
<br />Logo as principais ilhas da baía estavam em poder dos revoltosos. Assim, a Ilha do Governador e Paquetá e seu pequeno arquipélago caíram em poder dos rebeldes. Mas não eram propícias à subsistência da tropa e logo o fundo da baía foi facilmente tomado. E Magé, como importante celeiro, foi ocupada em meados de novembro de 1893, pelos revoltosos que ocuparam militarmente a cidade, e daí fizeram um centro para o fornecimento de gêneros alimentícios para suprir seus comandados. A seguir alguns relatos transcritos do Livro editado em 2002, pela Mitra Diocesano <a href="http://1.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SCiiXU_JRJI/AAAAAAAABGY/hf_XltrguMg/s1600-h/Igreja%2520Matriz%2520N_S_da%2520Piedade%25202.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5199584291453486226" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SCiiXU_JRJI/AAAAAAAABGY/hf_XltrguMg/s200/Igreja%2520Matriz%2520N_S_da%2520Piedade%25202.jpg" border="0" /></a>de Petrópolis, intitulado de “Horrores de Magé”, que narra com fidelidade a série de reportagens feitas na época:
<br />“... A cidade acha-se muito abatida, pelas perdas e torturas por que passou, com a estada das forças do governo durante mais de quatro meses. Importantes casas comerciais ficaram completamente destruídas, existindo apenas hoje os seus vastos armazéns vazios, com a carcaça das armações deterioradas por incríveis danificações. Vai-se reanimando pouco a pouco, e os trabalhos de sua fábrica de fiação e tecidos prossegue com atitude, estando já em montagem os seus 150 teares e as suas caldeiras e motores.”
<br />Mais adiante, prossegue o repórter:
<br />“...Logo fui informado das cenas de verdadeiro vandalismo pelas tropas enviadas pelo governo e que se compunham de um contingente de cavalaria do Exército, de outro do 10º Batalhão de Infantaria da Guarda nacional da Capital Federal, de alguns praças da Brigada Policial da mesma capital e de uma ala do 82º da Guarda Nacional do Estado do Rio de Janeiro. Todas essas forças eram comandadas pelo Coronel Manuel Joaquim Goldophin, de cavalaria do Exército, e penetrou em Magé no dia 21 de fevereiro de 1894, às 08:00 do dia.
<br />Em meados de novembro de 1893, os revoltosos ocuparam militarmente a Cidade de Magé e dali fizeram um centro para fornecimento de gêneros alimentícios de que a esquadra ia precisar,ficando como comandante da praça o 1º tenente José Augusto Vinhaes e como seu secretário o Dr. Climaco Barbosa. A guarnição era pequena, pois em Magé os revoltosos não hostilizaram e até procuraram criar simpatia pela correção com que procederam, proclamando que garantiriam a propriedade, a vida e a liberdade dos mageenses e a honra, sossego e dignidade das famílias. Isso foi o que geralmente ouvi dizer por todos os cidadãos com quem conversei.” <a href="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SCibu0_JRFI/AAAAAAAABF4/gdsP2kmReqM/s1600-h/Igreja%2520Matriz%2520N_S_da%2520Piedade%25202.jpg"></a>
<br />“Estavam as coisas neste ponto, tranqüila a população de Magé em perfeita harmonia com as forças revolucionárias que ocupavam a cidade, sem receber auxílio do governo, quer federal, quer estadual e dispensando-o perfeitamente, tendo até se conformado à autoridade judicial e policial com o silêncio em resposta aos seus pedidos de tropas que garantissem e protegessem contra possível ataque, quando souberam na manhã de 21 de fevereiro de 1894, que se aproximavam soldados do governo para desalojar os revoltosos de Saldanha e ocupar e guarnecer a cidade com tropas que ali restabelecessem e garantissem o pleno domínio da autoridade constituída...”
<br />“Eram cerca de 08:00 horas da manhã quando, pela rua do cemitério, que acompanha o lado direito da igreja e vai sair na rua da Matriz, surgiam os soldados da República para restabelecer o domínio da lei, em nome da qual vinham agir e operar. Foi então que seis praças do batalhão patriótico saíram ao encontro da numerosa força, armados de carabinas deram uma descarga contra as forças do governo, fugindo em seguida. Os soldados legalistas responderam com uma descarga geral e tiveram um momento de indecisão. Prosseguindo na marcha, continuavam a dar tiros em descargas cerradas e repetidas, sem alvo e a esmo... Encontraram, porém, um gravemente ferido, que não podendo fugir, abrigara-se por trás da rua da Matriz, e ai foi morto a tiros e a golpes de sabre, pelos soldados, enquanto a vítima pedia em gritos: água, pelo amor de Deus!
<br />Foi este o prenuncio de desoladoras cenas.”
<br />Em outro trecho, narra:
<br />“...Infelizmente o coronel Manoel Joaquim Godophin, comandante das tropas legalistas, demonstrou que outros eram os intuitos que o levaram a Magé, que a estabilidade da lei e das garantias que a ela cerca e com os quais defende e protege a vida, a honra e a propriedade do cidadão nunca o preocupou. Fez praticamente primeiro, para depois anunciar por palavras expressas, o que pensava e o que queria fazer na cidade fluminense. Fazendo alto no Largo do Portela, as forças aguardaram ordens, que já esperavam, como fui informado por pessoas da localidade e como se deduz da seqüência dos fatos. Imediatamente, a um sinal do major Augusto Amorim, da 4ª Brigada de Infantaria da Guarda Nacional da Capital Federal, e por ordem do coronel Goldophin, cornetas e clarins das duas armas de que se compunham deram um tempo o terrível toque de saque e degola!
<br />“É medonho, é horrível e parece incrível! Mas infelizmente é a pura verdade! O Sr. Goldophin deu estas ordens horríveis, em pleno final do século XIX, contra uma cidade brasileira, que não lhe resistira, e o esperava como salvado. Foi o maior e mais bárbaro atentado ocorrido neste grande, deste generoso, deste humano Brasil.”
<br />Continuando, narra o repórter:
<br />“... Godolphin receava encontrar em Magé um contingente revoltoso muito forte e numeroso, e a ele parecia talvez insuficiente a tropa que trazia e tratou de juntar toda a gente que encontrava em sua passagem, e para isso conseguiu com mais facilidade, ao lado do rigor, da ameaça, empregava a promessa de saque da cidade. Assim o fez, e melhor: o cumpriu.”
<br />Finalizando, outro trecho da série de reportagens, narrava o repórter do Jornal do Brasil que esteve em Magé, denunciando as atrocidades sofridas pela indefesa cidade ao Brasil e ao Mundo.
<br />“Quando os soldados se entregavam à pilhagem desenfreada, durante todo o tempo de seu "comando", ele contemplava os destroços a que era reduzida as propriedades dos cidadãos, o pesar e a aflição destes, e como jactando do que ordenara, costuma dizer com a convicção de quem estivesse cumprindo uma ordem: “Eu vim destruir Magé, essa e a minha missão!”
<br />Após esta triste fase, Magé, que era uma das mais proeminentes cidades do Estado do Rio de Janeiro, berço natal de vários vultos da história do Brasil, habitado por importantes famílias, local escolhido por brasileiros e estrangeiros para residirem, escolhido para ser berço da primeira ferrovia do Brasil, que foi elevada a Cabeça de Côrte, Baronato e Viscondato, da mais importante via terrestre de comunicação com Minas Gerais e o interior do país, dos movimentados portos e de tantas coisas importantes, entrou na triste decadência perdendo o status de “Cidade Modelo.” </span></em></strong></div><strong><em><span style="font-family:arial;"><span style="font-size:78%;"></span>
<br /><span style="color:#ff0000;">“Eu vim destruir Magé, essa é a minha missão!”
<br />Coronel de Cavalaria Manoel Joaquim Goldophin. </span>
<br /><div align="left">Os revoltosos permaneceram em Magé, até fevereiro de 1894, quando foram desalojados pelas tropas legalistas. Em 13 de março de 1895, depois de um ano e meio de revolta infrutífera na baía de Guanabara os rebeldes desistiram da luta, alguns pediram asilo em navios portugueses ancorados nas cercanias. Custódio de Mello e Saldanha da Gama que se odiavam adotaram táticas diferentes: Mello partiu para o exílio na Europa e Gama se aliou aos rebeldes gaúchos. Morreu em combate no Rio Grande do Sul, em junho de 1895. <span style="font-size:78%;"></div></span><div align="justify"><span style="font-size:85%;"></span></div><span style="font-size:85%;color:#33ccff;">*</span></span><span style="font-family:trebuchet ms;font-size:100%;color:#33ccff;"> Fontes pesquisadas:
<br />Horrores de Magé - Mitra Diocesana de Petrópolis/RJ
<br />Repoarte Editora Rio de Janeiro/2002
<br />A História do Brasileiro - Editora Zero Hora/RBS Jornalista Rio de Janeiro/2000,</span></em></strong> </em></strong>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-48051172244296564062008-04-26T14:02:00.007-03:002008-04-26T14:39:49.731-03:00<strong><em><span style="font-family:Verdana;"><span style="font-size:180%;color:#ff0000;">VISITA DE UMA FRANCESA<br />À BAIXADA NO SÉCULO XIX</span></span></em></strong><br /><strong><em><span style="font-family:Verdana;font-size:78%;color:#ff0000;"></span></em></strong><br /><strong><em><span style="font-family:Verdana;"><span style="color:#3366ff;"></span><span style="font-family:arial;color:#000000;">Guilherme Peres (Historiador e fundador do IPAHB</span></span></em></strong><br /><strong><em><span style="font-family:Verdana;"><span style="color:#3366ff;"><span style="font-size:78%;"></span><br />Anotações pessoais e observações curiosas são hoje motivos de pesquisa de quantos procuram colher, na seara literária deixada por alguns viajantes estrangeiros que visitaram o Brasil durante o século XIX, informações de valioso conteúdo histórico e antropológico.<br />A relação imensa desses visitantes que desembarcaram no Brasil, a maioria no Rio de Janeiro, portal de entrada para o país, deixou registrados suas impressões da cidade e seus arredores. Enfadonho seria mencionar seus nomes a partir de 1808 após a chegada da família Real, constituindo-se de cientistas, artistas, comerciantes, navegadores, contrabandistas e aventureiros.<br />Raríssimo, entretanto entre os visitantes a presença de uma mulher, deixando registrado em forma de livro, o testemunho de sua viagem durante a metade desse mesmo século publicado após sua volta à Europa, sob o título “Uma Parisiense no Brasil”. Estamos nos referindo a Adéle Toussaint-Samson, uma jovem francesa professora de dança e artes cênicas, que um dia sobraçando o filho e o marido, embarcou no porto de Havre a bordo do veleiro “Normandia” com destino ao Rio de Janeiro e veio “fazer a América”.<br />Sofrendo a epidemia de cólera que assolava a Europa em 1849, fazendo mais de “dezesseis mil mortos na cidade de Paris”, a crise se mostrava cruel para aqueles que dependiam do público para sua sobrevivência econômica, tornando vazias as casas de espetáculo, o casal foi convencido por um tio do marido, que havia obtido sucesso financeiro na Capital do Império do Brasil, a viajar para ali em busca de fortuna.<br />Garimpada entre essas poucas mulheres que por aqui passaram, deixando registrada sua presença, assinalamos a mais conhecida entre os pesquisadores, a inglesa Mary Graham, que nos visitou entre 1821 e 1825. Preceptora dos filhos do imperador D. Pedro I e exercendo com dificuldade essa atividade, durante menos de um ano demitiu-se devido às freqüentes intrigas palacianas. Ao voltar para a Europa publicou o livro intitulado “Diário de uma Viagem ao Brasil”.<br /><br /></span></span></em></strong><strong><em><span style="font-family:Verdana;"><span style="color:#3366ff;"><p></span></span></em></strong></p><p><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5193601034293358290" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBNgn7IoLtI/AAAAAAAABAk/9pQ74IokKtI/s400/mAPA+DA+vILA++ESTRELA.jpg" border="0" /></p><p><span style="font-family:arial;color:#ff0000;"><strong><em><span style="color:#333333;">O Porto de Estrela foi, por muitos anos, a porta de acesso a Vila Rica e seus tesouros</span>.</em></strong></span></p><p><span style="font-family:Verdana;font-size:130%;color:#ff0000;"><strong><em>ADÉLE TOUSSAINT-SAMSON<br /></em></strong></span><strong><em><span style="font-family:Verdana;color:#3366ff;">Adéle nasceu em 1826 na capital francesa. Filha de um professor de teatro e autor de peças teatrais cresceu entre o burburinho dos palcos parisienses, “revelando-se uma mulher de mentalidade avançada diante dos costumes vigentes em sua época”, diz Maria Inês Turazzi no prefácio de seu livro recentemente editado na Brasil.<br />Casou-se ainda jovem “por volta dos vinte anos de idade” com um dançarino de teatro nascido no Brasil chamado Jules Toussaint. Jules era filho de pais franceses, Auguste Toussaint e Josephine Toussaint que estiveram no Rio de Janeiro no período de 1815 até 1821.<br />Desembarcando no Brasil por volta de 1850 (a data não é precisa devido ao extravio do registro de estrangeiros nesse período), Adéle e Julie foram morar com o tio, um tal José Maria Toussaint, professor de dança “e outros francesismos muito valorizados pela aristocracia brasileira da época”. Mãe de um menino de um ano e meio de idade chamado Paul, foi fácil se adaptarem ao meio artístico e cultural da cidade, pois a comunidade francesa contava com centenas de “artistas, comerciantes, impressores, modistas e professores das mais variadas disciplinas, incluindo desde a própria língua francesa até matérias como a matemática, o desenho, o piano e a dança”.<br />Ao alugar uma casa na Rua do Rosário para onde se mudou com a família, Adéle descreve sua condição higiênica e o comércio que compunha esse arruamento: “Ela é estreita, triste e, por todo estabelecimento comercial não tem mais que vendas no térreo das casas, isto é, sombrias lojas onde se amontoam montanhas de carne seca e bacalhau, os sacos de feijões e de arroz, bem como os queijos de Minas...dizer-lhes que cheiro horrível exalam aquele bacalhau e aquela carne seca é impossível !...a rua é estreita, jamais varrida ou molhada, que o sol dos trópicos a aquece incessantemente e tentem fazer uma idéia das emanações que aqui se desprendem !”<br />No ano da chegada da família, um surto de febre amarela varreu a Capital do Império e seus arredores. “A mortalidade era tanta na cidade e os cemitérios estavam tão cheios que já não se podiam enterrar os mortos”. A própria Adéle caiu doente, em seguida a escrava que eles haviam alugado, e por último seu marido. Dos vinte oito passageiros do “Normandia” que chegaram à cidade juntos com o casal, havia apenas três meses, dezessete já haviam sucumbido.<br />A procura de um médico patrício por recomendação, chamado Dr. Paitre foi inútil, pois o mesmo havia contraído a doença e se ausentara da Côrte, obrigando Adéle e seu marido a se auto medicarem com remédios homeopáticos trazidos da França, oferecido pelo seu próprio descobridor Samuel Hahnemann. “Sem conhecer ninguém na cidade, sem médico, sem criado, com muito pouco dinheiro e um filho de dezoito meses que eu acabara de desmamar, assim era a nossa situação”.</span></em></strong></p><p><span style="font-family:Verdana;font-size:130%;color:#ff0000;"><strong><em>ESCRAVIDÃO<br /></em></strong></span><strong><em><span style="font-family:Verdana;color:#3366ff;">Superada a doença, retornaram ao convívio das ruas e Adéle registra com um choque de revolta a realidade da escravidão: “a cada instante minha alma revoltava-se ou sangrava, quando eu passava diante de um daqueles leilões em que pobres negros, em cima de uma mesa, eram leiloados e examinados nos dentes e nas pernas como cavalos ou mulas, quando via o lance ser coberto e uma jovem negra ser entregue ao fazendeiro que a reservava a seu serviço íntimo, enquanto seu negrinho era vendido a um outro senhor”.<br />A visão horrenda do comércio de carne humana a ser oferecida pelas ruas, trouxe momentos de repugnância à jovem francesa. “Meu coração indignava-se quando alguns passos adiante, encontrava um pobre negro usando uma máscara de ferro; era ainda dessa maneira que se punia a bebedeira do escravo...e imagine que suplício sob aquele calor tropical”.<br />A fuga era punida com o rigor do carrasco, “os que tinham fugido eram atados por uma perna a um poste, outros traziam no pescoço uma grande canga, uma espécie de jugo com que se põe nos bois...outros eram enviados a Correção, onde, depois de os ter atado a um poste, quarenta, cinqüenta, sessenta golpes de chicote lhes eram administrados muitas vezes. Quando o sangue corria, parava-se; suas feridas eram pensadas com vinagre e no dia seguinte, recomeçava-se”. </span></em></strong><br /></p><p><a href="http://4.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBNiLrIoLxI/AAAAAAAABBE/xf1gjwW3q08/s1600-h/Igreja%20N.Senhora+da+Piedade+de+Inhomirim.jpg"><span style="font-family:Verdana;color:#3366ff;"><strong><em><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5193602747985309458" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://4.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBNiLrIoLxI/AAAAAAAABBE/xf1gjwW3q08/s400/Igreja%2520N.Senhora+da+Piedade+de+Inhomirim.jpg" border="0" /></em></strong></span></a><span style="font-family:Verdana;color:#3366ff;"><strong><em> <span style="font-family:arial;color:#000000;">A Igreja de Nossa Senhora da Piedade de Vila Inhomirim, onde foi batizado Luis Alves de Lima e Silva, Patrono do Exéercito, está em ruínas e pode desabar a qualquer momento se o IPHAN e Ministério da Cultura não agirem rápido (Foto: Arquivo/IPAHB)</span></em></strong></span></p><p><span style="font-family:Verdana;color:#3366ff;"><strong><em><span style="font-size:130%;color:#ff0000;">A CIDADE<br /></span><strong>Adéle descreve as manifestações culturais e religiosas que se festejavam na cidade. A Quinta-feira Santa e o dia de São Jorge eram iniciados com procissões que passavam pelas ruas diante da multidão. “Todas as janelas da cidade, nesses dias embandeiravam-se de cortinas de damasco vermelho, azul ou amarelo”.<br />Os festejos de São João também são descritos com os detalhes das fogueiras acesas pelos negros espalhadas pela cidade, “nessas esquinas cozinham-se batatas-doces, e cana-de-açúcar, que são servidas muito quentes, em grandes bandejas, no meio da festa”. O lundu, dança de origem negra, era absorvida pela alta sociedade quando ela observa que “vi, nesses dias, algumas damas brasileiras dançar a pedido geral, o lundu... com um movimento de quadris e de olhos não desprovidos de originalidade, e que todo mundo deve acompanhar estalando os dedos como castanholas, para bem marcar-lhe o ritmo”.<br /></p></strong></em></strong></span><span style="font-family:Verdana;color:#3366ff;"><strong><em><strong><p></strong></em></strong></span></p><p></p><p><a href="http://1.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBNhN7IoLwI/AAAAAAAABA8/J2ILIntoJ-s/s1600-h/Porto+de+Mauá.jpg"><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;"><strong><em><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5193601687128387330" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBNhN7IoLwI/AAAAAAAABA8/J2ILIntoJ-s/s400/Porto+de+Mau%C3%A1.jpg" border="0" /></em></strong></span></a><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;"><strong><em><span style="font-size:130%;color:#ff0000;"></span></em></strong></span></p><p><strong><em><span style="font-family:arial;color:#000000;">Da estação e do embarcadouro na Praia de Mauá, inaugurados em 30 de abril de 1854, portanto há 154 anos, por D. Pedro II e o Barão de Mauá, pouco resta. (Foto: Arquivo/IPAHB)</span></em></strong></p><p><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;"><strong><em><span style="font-size:130%;color:#ff0000;">PORTO DA PIEDADE<br /></span>Antes de prosseguirmos relatando os registros contidos no livro, referentes a depoimentos de inegável interesse antropológico e geográfico para os estudiosos dessa região durante o século XIX, queremos descrever um pouco da história do porto da Piedade, em que nossa viajante desembarcou. Referência para os viajantes que se destinavam a Magé a partir desse século, ou subiam a serra em busca da região que mais tarde se transformaria em Teresópolis.<br />Durante o período da mineração, o povoamento de extensas áreas ao longo do caminho do Pilar em direção às minas, aberto pelo bandeirante Garcia Rodrigues Pais em 1704 através da serra do Couto e suas variantes, como a do Sargento-mor Bernardo Soares de Proença com o caminho do Inhomirim em 1724, que partindo do porto da Estrela, atravessava Córrego Seco, futura Petrópolis, inúmeros sesmeiros foram ocupando essas extensa áreas a partir do rio Paraíba do Sul, e subindo seus afluentes da margem direita em direção à serra do Mar: rio Preto, Socavão, Imbuí, Paquequer e Paquequer Pequeno, comunicando-se com os portos através do Caminho Novo ou de suas variantes.<br />É possível que durante a ocupação daquela região serrana, um escoadouro para a produção das fazendas, através de um desfiladeiro saindo em Frechal (atual Bananal) em Magé, fosse ao encontro de um porto à margem da baia de Guanabara, ao lado de uma capela dedicada a N. Sra. da Piedade de Magepe, ocupado desde o século XVI por Cristóvão de Barros, e cresceria nos séculos seguintes, salpicada por inúmeros engenhos e canaviais.<br />Baltazar da Silva Lisboa ao explorar as terras por trás da Serra dos Órgãos e registrá-las em um mapa, provavelmente subiu por essa vereda, transformada em caminho no princípio do século XIX.<br />Aceitando o convite de um amigo de seu marido, para visitarem uma fazenda, em Magé, de sua propriedade, e na esperança de livrar-se de uma febre que a perseguia, Adéle, o esposo e o filho, embarcaram em uma barca a vapor para atravessarem a baia de Guanabara em direção ao porto da Piedade. Durante três horas o barco navegou por entre “ilhas encantadoras”, e Adéle descreve alguns tipos humanos que faziam parte dos passageiros. “Gordos vendeiros portugueses, tiravam os sapatos e coçavam os pés durante a viagem; outros estendiam-se nos bancos, semidespidos, e roncavam, sem se importar com seus companheiros de viagem; negros sujos e malcheirosos, carregados de cestos e de gêneros de toda a natureza atravancavam o barco, de sorte que ficamos muito satisfeitos de deixar essa encantadora sociedade ao desembarcar na Piedade”.<br />Custódio Ferreira Leite, o futuro Barão de Airuruoca, junto com seu irmão Francisco Leite Ribeiro, abriram a suas expensas, uma estrada de Magé até a ponte do Sapucaia com vistas ao movimento que crescia no porto da Piedade. Foi Ferreira Leite quem iniciou nesse porto a partir de 1836, a construção de um hotel.<br />George Gardner, o botânico que percorreu a Côrte e as províncias do Rio de Janeiro, ali passou naquele mesmo ano, registrando em seu livro “Viagens no Brasil”: “Em Piedade onde apenas se encontram algumas poucas casas esparsas, achava-se em construção um grande hotel do coronel Leite, um senhor brasileiro que estava fazendo a própria custa, uma nova estrada através da Serra dos Órgãos para se ligar a que vai de Porto da Estrela aos Distritos de mineração”.<br />É desse hotel que vamos encontrar referência no seu livro, durante o desembarque da família Toussaint. “Que triste porto era aquele, naquela época! Havia ali apenas uma grande habitação, uma espécie de grande construção cujos imensos galpões serviam de entreposto aos gêneros da cidade e do interior. Lá paravam os fazendeiros, os mascates e os tropeiros”.<br />Ao chegar ao hotel, Adéle não poupa criticas ao estado de desleixo em que este se encontra. “Ali se alugam a toda essa gente, quartos cujos leitos devem ser habitados, juro-lhes, e dão-lhe de comer. No rancho, são reunidos confusamente mulas, cavalos carneiros e porcos. Era lá que as nossas montarias deviam nos esperar”.<br />Ao ser indicado um quarto para a mudança de roupas adequadas à montaria, a francesa ficou horrorizada com a falta de limpeza que se estendia aos dormitórios, “a sujeira daquele lugar não pode ser descrita. Eu não sabia onde colocar as roupas que tirava e as que ia pôr; as cadeiras estavam cobertas de poeira e os leitos eram ainda mais sujos; de sorte que hesitei mais de um quarto de hora antes de conseguir tomar a decisão de vestir-me”.<br />Ao se dirigirem às montarias para prosseguirem viagem “o Sr. P.,” dono da fazenda denominada São José, apresentou-lhes um pagem para acompanhá-los. Comentado com desdém o episódio verificamos que os olhos preconceituosos daquela francesa, após alguns anos no Brasil, ainda não estavam culturalmente habituados a nossa negligencia, “vejo chegar um negro de beiços grossos, nariz achatado, com lã de carneiro como cabeleira, que havia sido fantasiado com uma grande libré vermelha, cujos galões desbotados anunciavam, aliás os serviços prestados, e que devia sem dúvida, ter figurado no Théâtre Français e, sucessivamente, em todos os outros teatros de Paris, antes de vir adornar os ombros do pobre africano...uma calça de algodão grosso e enormes esporas de prata, presas por uma correia a seus sujos pés descalços”. A figura cômica do “pagem” despertou-lhe “uma enorme vontade de rir, que tive muita dificuldade de conter durante todo o tempo da viagem”.<br />Ao lado do fazendeiro, a família pôs-se a cavalgar, “meu marido em seguida ao lado do meu primeiro filho, que tinha apenas sete anos, e no entanto montava muito bem”. O início do caminho era arenoso, quase sem vegetação. Aos poucos adentram a floresta, e Adéle se extasia diante da sinfonia de sons partindo do seu interior, “gritos dos macacos e dos papagaios vêm lembrar de que está no Brasil... Todo o caminho então não é mais que um encantamento... Vêem-se apenas cipós e plantas parasitas, emaranhando-se nas grandes árvores. É uma profusão de folhas, de flores, de frutos, mais encantadora que tudo que o homem arranja ou, antes desarranja. Eu não me cansava de admirar”. O caminho era estreito, e percebemos que para chegarem àquela fazenda, tinham que atravessar uma região um pouco montanhosa, “tendo encontrado outros cavaleiros que cruzavam conosco, tivemos de colar nossos cavalos no rochedo”.<br /><span style="font-size:130%;color:#ff0000;">A FAZENDA<br /></span>Após três horas de viagem chegaram à fazenda São José: “O sol começava a empalidecer”. Junto à porteira, o gado esperava para entrar no curral, “uma centena de bois, vacas e touros” lhes impediam a passagem. O fazendeiro chamou o pastor, “um pequeno moleque de uns onze anos, que tinha por toda a vestimenta apenas um saco de algodão grosso preso em torno de sua cintura por uma corda e erguido na frente como uma espécie de cuecas. O menino reuniu seus animais, e pudemos enfim atravessar a boiada, não sem apreensão de minha parte”.<br />Ao se dirigem aos quartos onde os esperava um banho, Adéle revela o costume de sorverem um cálice de cachaça “destinado a devolver-nos as forças”. O fazendeiro, que durante a viagem mostrou-se educado e amável, transformou seu caráter tornando-se estúpido e grosseiro com os servos, cerca de “cento e vinte negros e negras para o serviço da exploração agrícola... ele mal disse bom dia a uma mulher francesa que cuidava de sua casa, e mal respondeu aos escravos da habitação que se apertavam em redor dele para pedir-lhe a benção”. <a href="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBNg4bIoLuI/AAAAAAAABAs/5yK9-WvmhWs/s1600-h/Guia+de+Pacobaíba.jpg"><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;"><strong><em><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5193601317761199842" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBNg4bIoLuI/AAAAAAAABAs/5yK9-WvmhWs/s320/Guia+de+Pacoba%C3%ADba.jpg" border="0" /></em></strong></span></a><br />Após o banho foi servido o jantar. Em uma sala “comprida e estreita”, apenas uma mesa quadrada compunha o mobiliário, em torno da qual se enfileiravam bancos de madeira. Sobre esta, a panela de feijoada acompanhada de “cestos cheios de farinha de mandioca, um grande prato de arroz cozido na água e duas galinhas, bem como bananas e laranjas”.<br />A carência de pães nas refeições, obrigava um negro a se deslocar a cavalo aos sábados, “a um pequeno vilarejo chamado Santo Aleixo, que tinha um padeiro que se dignava assá-lo uma vez por semana”.<br />O episódio a seguir é digno de registro neste pequeno roteiro seguindo os textos da visitante francesa. Após o jantar, à luz de velas colocadas sobre castiçais, Adéle descreve o encontro e o diálogo do fazendeiro com um feitor chamado Ventura e seus dois seguranças. “Os três tinham por vestimenta apenas uma espécie de camisa grosseira, posta por cima de suas calças de lona para vela...eles giravam em uma das mãos o chapéu de palha grossa, enquanto a outra estava munida de um comprido bastão com ponteira de ferro e Ventura segurava o chicote, insígnia de seu comando”. Um imenso facão pendurado na cintura completava o vestuário<br />As perguntas feitas pelo “senhor” num “tom seco e duro” eram respondidas pelos escravos com temor e humildade. <br />- “O que foi plantado esta semana ?<br />- Arroz senhor.<br />- Foi começado o corte da cana ?<br />- Sim senhor; mas o rio transbordou, e vamos precisar refazer os canais.<br />- Envia para lá vinte negros amanhã de manhã .<br />- Que mais ?<br />- Henriques fugiu.<br />- O cachorro! Ele foi apanhado ?<br />- Sim senhor, está no tronco.<br />- Que lhe seja aplicado vinte golpes de chicote e posta a canga no pescoço. . - Sim senhor. Um bando de porcos do mato está devorando todas as plantações<br />de batatas e uma onça foi vista perto da torrente; precisaríamos dos fuzis.<br />- Tereis três esta noite. É tudo ?<br />- Sim senhor.<br />- O engenho começará a trabalhar amanhã. Está em condições ?<br />- Sim senhor.<br />- Está bem. Agora chama os negros para a reza”.<br /></p></em></strong></span><div><div><div><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;"><em><strong>Em seguida, após o grito do feitor “salta para a reza!”, e o badalar de um sino pendurado na varanda, os negros saíram de suas senzalas atravessando a noite como sombras fantasmagóricas “subindo um a um as duas escadas da varanda”. Em um dos cantos da sala foi aberto um oratório ladeado por quatro círios “onde o Cristo aparecia no meio de quatro vasos”. Dois negros lideravam a oração com sotaque de latim que um capelão então lhes ensinara: “Santa Maria, mai de deos, ora por nobis” repetindo o mesmo bordão dezenas de vezes, apenas trocando o nome dos santos conhecidos, repetido em coro uníssono pelos presentes. Essa reza era feita todos os sábados.<br />Horrorizada com o espetáculo degradante que presenciou, Adéle não esconde sua perplexidade, registrando: “Foi lá que as misérias da escravidão apareceram para mim em toda a sua hediondez. Negras cobertas de andrajos, outras seminuas tendo por vestimenta apenas um lenço atado atrás do pescoço e sobre os seios, que mal velava seu colo, e uma saia de chita, cujos rasgos deixavam ver seu pobre corpo descarnado; negros de olhar feroz ou embotado vieram pôr-se de joelhos na laje da varanda”.<br />Marcas de tortura nos ombros desnudos deixavam ver os lanhos do chicote transformados em cicatrizes. “Vários estavam afetados por horríveis doenças, como a elefantíase ou a lepra. Tudo aquilo era repugnante, hediondo. O temor e o ódio, eis o que se lia em todos aqueles rostos, que eu nunca vi sorrir”.<br />Após a oração, os negros desfilaram diante dos brancos presentes pedindo a benção em que estes <a href="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBNhBbIoLvI/AAAAAAAABA0/tWhK6ynhFf8/s1600-h/Guia+de+Pacobaíba+2.jpg"><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;"><strong><em><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5193601472380022514" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBNhBbIoLvI/AAAAAAAABA0/tWhK6ynhFf8/s320/Guia+de+Pacoba%C3%ADba+2.jpg" border="0" /></em></strong></span></a>respondiam: “Eu te abençôo”.<br />O silêncio da noite cobriu o vale quando todos foram dormir. Ao amanhecer, os galos e o sino na varanda despertaram os escravos para o trabalho. Adéle levantou-se para assistir pela primeira vez, àquela cena diária, emoldurada pela paisagem bucólica que rodeava a região, “do alto da montanha, atrás da fazenda, uma magnífica cascata estendia seus lençóis de água prateada, e aquela montanha estava coberta de matas virgens, onde os frutos e as flores emaranhavam-se em uma confusão encantadora. Do outro lado, na frente da habitação, estendiam-se imensas pastagens, onde mais de cem cabeças de gado estavam reunidas. Os bois ainda dormiam”.<br />Postado nas portas da senzala, o feitor empunhava um chicote conferindo os que tardavam em sair. “Ô patife! Puxa p’ra fora !”, gritava o velho Ventura. Formados em três grupos de mais ou menos vinte cinco negros e negras cada um, seguiram destinos diferentes, um dos quais dirigidos por Ventura, “tomou o caminho do mato”. Outro, acompanhado de um carro de bois “com imensas rodas de madeira maciça” em direção ao canavial, e o terceiro para as plantações. Seguiu com um dos pequenos pastores os animais de chifres, “um segundo o seguiu com o rebanho de carneiros”, e Adéle registra ironicamente: “as barreiras abriram-se e todo aquele gado humano partiu com o outro para o trabalho”.<br />Elogiando o sabor do leite na refeição matinal, “como não bebi em nenhuma outra parte”, a francesa justifica: “por causa do perfume delicado que lhe dão as goiabas, as pitangas, as mangas e sobretudo as plantas aromáticas, de que as vacas são muito gulosas e com as quais se alimentam nas matas”.<br />Ao tanger o sino às nove horas anunciando o almoço, anotou a presença de duas cozinheiras: “a dos brancos e a dos negros, assim como há duas cozinhas”. Diante do cômodo enfumaçado dos negros, Adéle anotou o uso de dois caldeirões: um com feijões e o outro com angu. Humildemente os escravos chegavam com meia cabaça às mãos, sendo servidos pela cozinheira “com uma grande colherada de feijões, acrescentando um pequeno pedaço de carne seca da mais baixa qualidade, bem como um pouco de farinha de mandioca para polvilhar tudo; a outra distribuía o angu aos velhos e às crianças”.<br />Ao se afastarem resmungando pela pouca quantidade servida, e a carne em tão mau estado, que segundo a escritora “nossos cães por certo não iam querer saber daquela comida”. Arrastando-se pelo chão em plena nudez, alguns negrinhos “arrotavam suas rações de feijões, que seus frágeis estômagos mal podiam digerir; por isso, quase todos tinham barrigas grandes, cabeças enormes, pernas e braços franzinos, enfim, todos os sinais do raquitismo”. Não compreendendo o comportamento do fazendeiro que, mesmo do ponto de vista comercial, não tratasse bem seus escravos com o objetivo do lucro, ao negociar a “carne humana”, entretanto disseram-lhe que “não era assim em toda a parte, e que em várias fazendas os escravos eram muito bem tratados. Quero crê-lo; quanto a mim, digo o que vi”.<br />Adéle visitava freqüentemente os quartos da senzala onde essas crianças dormiam, “em esteiras postas sobre uma espécie de cama de campanha, em quartos cujo ar se renovava apenas por uma porta aberta para um corredor sujo, e viviam ali em uma podridão de que não se pode fazer uma idéia”. Suas mães, três dias após o parto, eram obrigadas a lidar com os serviços da casa enquanto amamentavam, e voltavam aos serviços da lavoura em poucas semanas, deixando seus filhos aos cuidados “de negras velhas inválidas ou de crianças de seis a sete anos, que lhes enfiavam por alimento uma espécie de papa feita de amido e água”.<br />Durante essas visitas, a francesa levava-os para passear e banhá-los, pois freqüentemente eram vistos acocorados sobre poças de água “com os pés na lama e a cabeça sob o sol ardente, sem que ninguém se preocupasse com isso”.<br />Durante sua permanência na fazenda, Adéle passeou por seus arredores a cavalo, lembrando-se do dia em que o fazendeiro convidou-os para uma visita a uma pequena fábrica<br />de fiação de algodão de propriedade de um norte-americano, instalada “em um vilarejo chamado Santo Aleixo, distante da fazenda São José apenas duas léguas”. Infelizmente nossa visitante não prossegue na descrição dessa manufatura.<br />Lembramos que realmente após a fundação de Petrópolis, e esgotado o trabalho nas estradas, o colono via-se obrigado a exercer inúmeras outras atividades adaptados a sua habilidade manual: carpinteiro, pedreiro, pintor etc, se oferecendo nas raras obras públicas ou privadas que se iniciavam na região, além da concorrência do grande número de “profissionais”. Lavouras e os poucos estabelecimentos fabris da periferia também absorviam essa mão de obra disponível.<br />As fábricas construídas ao pé da serra na região de Magé, envolvidas na produção de cerâmica e tecidos, contribuíram de forma decisiva para a sobrevivência desses colonos. Soares de Souza na revista do IHGB afirma ser grande a quantidade de alemães que aparecem trabalhando nos arredores de Petrópolis, “e até na fábrica de Santo Aleixo, onde em 1849, de 116 operários ali existentes, 84 eram alemães”.<br /><br /></strong><strong><span style="color:#ff0000;"><span style="font-size:130%;">O FEITICEIRO</span><br /></span>Não podemos deixar de comentar essa figura das mais importantes nas comunidades escravas registrada por nossa visitante. Homem alto, esguio, cabeça branca dizendo-se ter mais de noventa anos. “Estava envolto numa capa raiada, trazia uma espécie de alforje pendurado de lado e tinha um bastão na mão. Seu rosto era sério e pensativo”. Foi chamado para atender a um escravo picado de cobra trazido do canavial numa carroça, e vomitando sangue.<br />Ao aproximar-se do enfermo, fê-lo sorver “uma infusão de plantas que só ele tinha o segredo, e afirmou que curaria o negro, com a condição, porém, de que nenhuma mulher entrasse durante sete dias, no quarto daquele de quem cuidava; sem isso não respondia por nada”. As recomendações foram seguidas e o negro ficou curado.<br />Ao procurar o feiticeiro para saber quais as plantas havia empregado para o tratamento de uma picada tão venenosa transmitida pela cobra jararaca, esse limitou-se a dizer que era segredo, seguindo-se o diálogo:<br />- “Por que não revelas aos outros ?<br />- Eu cuido deles enquanto estão doentes, é o bastante.<br />- Mas, quando morreres ?<br />- Tanto pior para eles; se fossem bons comigo, eu lhes diria muitos segredos que sei, mas fogem de mim e ensinam seus filhos a me temer. Levarei meus segredos comigo”.<br /><br /><span style="font-size:130%;color:#ff0000;">SEGUNDA VISITA À FAZENDA<br /></span>Quatro anos depois a família voltou à fazenda conduzindo dois filhos: Paul, com doze anos e Maurice, com dezesseis meses ainda sendo amamentado. Dessa vez, sem o auxílio do anfitrião para conduzi-los desde o Porto da Piedade, valeram-se dos serviços de um mulato chamado Fernando. “Um tipo dos mais notáveis, que tocava guitarra e se perfumava da cabeça aos pés com água de colônia quando estava a meu serviço”.<br />A marcha lenta devido a dificuldade em transportar a cavalo e a pé as crianças, ora no colo, ora nas costas do mulato, fizera com que a tarde chegasse quando ainda tinham três horas para caminhar. Temendo os perigos da noite que estariam expostos na floresta, resolveram seguir o conselho do pagem e tomaram o desvio do caminho para pernoitarem em outra fazenda, pertencente a “Viscondessa de P. e G.”.<br />O feitor recebeu-os com hospitalidade, providenciando um bom quarto “onde tive a alegria de ver meus dois filhos adormecidos cada um em uma cama, em vez de expostos, na floresta, a toda espécie de perigos”. Após a refeição e recolherem-se aos aposentos, Adéle teve uma surpresa: a porta que ficara aberta para a varanda que envolvia a casa, foi transformada em passarela de mulatas exibindo saias coloridas, lançando olhares maliciosos ao seu marido.<br />Ao fechar a porta, a escuridão obrigou a hóspede a pedir uma lamparina a uma negra que prestava serviços na casa. Foi-lhe trazida uma tocha de resina “cuja fumaça nos teria sufocado se não houvéssemos mantido escancaradas as portas internas do aposento”. Entretanto aquela tênue luz fumacenta foi-lhe útil para vigiar os “enormes ratos” que invadiram o aposento em busca dos resíduos da ceia, mantendo-a acordada apesar do cansaço, vigiando as camas das crianças ante a ameaça dos roedores.<br />Adéle registrou a presença nessa fazenda de uma jovem mulher branca, descalça, em desalinho, e não hesitou em perguntar pela manhã, ao ser servida com uma tigela de leite, se era ela a mulher do feitor. Respondendo que sim, perguntou-a por que parecia tão triste.<br />- Sou bem infeliz senhora, respondeu ela.<br />- Não é a mulher do administrador?<br />- Para minha desgraça.<br />- Como?<br />- Ele me trata indignamente. Aquelas mulatas, acrescentou ela, é que são as verdadeiras senhoras da fazenda; por ela meu marido me cobre de ultrajes.<br />- Por que suporta isso?<br />- Meu marido me força a receber essas criaturas até em minha cama; e é lá, debaixo dos meus olhos, que lhes dá suas carícias.<br />- É horrível!<br />- Quando me recuso a isso, ele me bate e suas amantes me insultam.<br />- Como continua com ele? Abandone-o<br />- E como viveria?<br />- Trabalhando!. Uma mãe não deve tolerar que a ofendam diante dos filhos, para que eles a respeitem, faça-se respeitar.<br />A pobre mulher escutava-me com muita atenção, tentando compreender e abrindo grandes olhos espantados”.<br />Amanhecia. O sol dourava a relva molhada de sereno enquanto os cavalos eram encilhados. Adéle olhou aquela mulher que veio despedir-se na porteira junto com o feitor, suas mucamas e servos, notando um leve sorriso em seus lábios. A família afastou-se lentamente ao trote dos animais. Ao longe, acenando as mãos, ficaram as representações do povo brasileiro, moldando uma cultura com base social escravocrata, sustentando uma economia cujo ápice era o império, a igreja, o senhor de engenho e os escravos.<br />Compreendendo o sorriso da mulher do feitor, a francesa deixou registrado para a posteridade o início de uma liberdade que, ainda que tarde nasceria, e se espalharia um dia no rosto dos cativos, sedentos também de libertação.<br /><br /><span style="color:#000000;"><span style="font-size:130%;">REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</span><br /></span><span style="color:#000000;">Samson – Adéle Toussaint, - “Uma Parisiense no Brasil” Ed. Capivara Rio de Janeiro - 2003<br />Gardner, George – “Viagens no Brasil” – São Paulo – 1942<br />Souza, Soares de – “A Estrada da Estrela e os Colonos Alemães”. Revista do IHGB – volume 322 – Jan/Mar 1979<br />Revisão: Prof. Arnaldo José de Castro</span> </strong></em></span></div></div></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-67172838839825247492008-04-25T20:28:00.008-03:002008-04-26T14:01:41.640-03:00PEDAÇOS DA NOSSA HISTÓRIA<div align="justify"><span style="font-family:verdana;font-size:180%;color:#ff6666;"><strong><em><span style="color:#cc0000;"> A NAU DOS INFELIZES</span><br /></em></strong></span><span style="color:#333333;"><span style="font-family:arial;"><span style="color:#33ccff;"><strong><em><span style="color:#3366ff;"><span style="color:#999999;"><span style="color:#000000;"> Senhor Deus dos desgraçados!/ Dizei-me vós, senhor Deus!<br /> se é loucura... se é verdade /tanto horror perante os céus?!<br /> Castro Alves em “Navio Negreiro</span>”<br /></span><br /> * Guilherme Peres (Pesquisador e fundador do IPAHB</span>)</em></strong><br /></span><br /></span></span><strong><em><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;">Na manhã do dia 6 de setembro de 1842, uma belonave britânica de 26 canhões denominada H.M.S.Cleópatra, adentrava a baia de Guanabara para uma escala de alguns dias destinados ao abastecimento. Sua missão nesta viagem era transportar o tenente-general sir William Gomm, que ia tomar posse como governador nas ilhas Maurício. Ancorado próximo ao porto estava o barco “Malabar”, também de bandeira inglesa com 64 canhões, no qual fazia parte da tripulação o reverendo inglês Pascoe Grenfell Hill que por questões pessoais, pediu transferência para o “Cleópatra”. Extasiado diante da imensidão da baia, o pastor registrou em seu diário: “A magnificência incomparável da baia do Rio, apertada na entrada, depois se abrindo em uma circunferência de dezessete léguas; suas cem ilhas; as montanhas que a envolvem mostrando cada mudança de contorno, coberta por uma riqueza de verdura do litoral até os cimos... misturando seus cumes com as nuvens; tudo isso compõe uma variedade e beleza que dificilmente cansa a vista. A cidade do lado esquerdo da entrada fica a quatro ou cinco milhas de distância da entrada”.</span></em></strong><a href="http://1.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBJpnLIoLsI/AAAAAAAABAc/ntJAAtoqLmo/s1600-h/mercado+de+escravos.jpg"><span style="font-family:verdana;font-size:180%;color:#3366ff;"><strong><em><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5193329442036395714" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBJpnLIoLsI/AAAAAAAABAc/ntJAAtoqLmo/s320/mercado+de+escravos.jpg" border="0" /></em></strong></span></a><span style="color:#3366ff;"><br /></span><span style="color:#3366ff;"><strong><em><span style="font-family:verdana;">Ao desembarcar em frente ao Hotel Pharoux, comenta o grande movimento do cais nos barcos que saíam ou chegavam levando e trazendo passageiros e víveres dos navios ancorados ao largo. Contemplou uma praça na qual observou uma grande profusão de frutas e verduras espalhadas pelo chão e apregoadas por escravos.<br />“Uma alegria cordial se misturam ao redor de um pequeno fogareiro de carvão onde eles fritam seus peixes ou cozinham sua raiz de mandioca e batata doce. O trabalho mais pesado que se vê na rua é o do carregador de café, que leva sacos pesados na cabeça com seus passos acelerados, ao som de chaqualhantes substâncias dentro de uma bexiga que o chefe do grupo sacode e os outros acompanham cantando”.<br />Critica com veemência o Brasil por sua condição de país escravista, comentando que os casos de tortura e crueldade não eram divulgados pelos jornais do Rio de Janeiro, apenas anunciando casos de negros fugidos de uma jornada sobrecarregada de trabalho e subnutridos “dependendo dos caprichos do mau humor ou da avareza de seu dono”. Assistiu a um leilão de “mais ou menos vinte e cinco escravos de ambos os sexos, decentemente vestidos sentados em bancos atrás de uma mesa comprida, onde um de cada vez subia para ser melhor examinado pelos arrematadores. Um ar de obstinação parecia expressar seus sentimentos de degradação por estarem sendo postos à venda.”<br />No dia 14 de setembro daquele ano o “Cleópatra” levantou ferros singrando majestosamente em direção ao oceano Atlântico, buscando o continente africano.. Ao iniciar essa viajem o pastor Hill não suspeitava que fosse testemunhar para a posteridade através de seu diário, talvez o mais contundente registro que temos conhecimento das condições degradantes de um navio brasileiro destinado ao transporte de escravos, após ser aprisionado pelos ingleses. Num tom seco e direto, o pastor narra a ventura desse barco “tumbeiro” denominado “Progresso”, que seguia para o Rio de Janeiro. Deixando as ilhas Maurício, o ‘Cleópatra” se dirigiu-se à foz dos rios da região da costa de Moçambique, infestada de barcos negreiros. “Um novo interesse aqui se ligava a cada nau que fosse vista. O mercado de escravos na costa da África no presente momento, está quase confinado aos distritos de Quelimane e Sofala, tendo cessado no Porto, graças aos zelosos empenhos dos últimos e do presente governador”. Ancorado fora da barra, no dia 23 de março de 1843 o comandante mandou uma barca subir o rio em direção a cidade de Quelimane, trazendo na volta uma carta do governador narrando que dois barcos brasileiros, o “Desengano” e o “Confidência”, foram capturados pelo brigue H. M. Lily, cuja tripulação composta de brasileiros e portugueses, apresentara-se a ele, tendo sido devolvidos aos seus respectivos países.<br />No dia 31, uma embarcação de dois mastros foi avistada ao longe “indo furtivamente ao longo da margem” tendo sido fracassado a tentativa do Cleópatra em contatá-la, alguns escaleres foram enviados “para vigiarem os pequenos rios ao longo da costa.”.<br />Ao amanhecer do dia 12 de abril “ao voltarmos para Quelimare, o vigia no alto do mastro principal percebeu a sotavento uma embarcação que pela distância mal era visível; mas sua localização tendo sido considerada muito suspeita, a ordem foi de dirigir-se para ela”. Um vento forte seguido de chuva dificultava a perseguição à estranha embarcação. Após algum tempo o sol voltou a brilhar revelando próximo um “bergantim de linhas arrojadas como nós... desmastrado durante a ventania”. De repente o barco içou as velas pôs-se em fuga desfraldando a bandeira brasileira, em resposta a bandeira britânica que tremulada no mastro perseguidor.<br />Posicionaram-se os homens da tripulação em torno aos canhões e ouviu-se o primeiro tiro de advertência em direção ao bergantim. Seguiu-se mais alguns outros, sendo ignorados pelo perseguido até que, perdendo distância, arriou as velas e aguardou aproximação de seu captor Um escaler conduziu um oficial para tomar posse do navio, e substituir a bandeira brasileira pela bandeira britânica, pois aparentemente não havia dúvidas quanto sua atividade de navio negreiro. Seguiu-se o capitão acompanhado do narrador deste diário e “um cirurgião para examinar o estado de saúde a bordo da presa”.</span></em></strong> </span></div><br /><strong><span style="color:#3366ff;"><span style="font-size:180%;color:#ff0000;">O APRISIONAMENTO</span><br /></span><em><span style="font-family:verdana;color:#3366ff;">A visão do quadro degradante que o pastor viu, mesmo em sua narrativa fria é horripilante. Negros nus e famintos se atropelavam no convés do navio arrebentando barricas de farinha, “a raiz da mandioca em pó; outros tendo quebrado os caixotes seguravam grandes pedaços de carne de porco e de boi; e alguns pegaram aves das gaiolas e as devoravam cruas”. Panos torcidos eram enfiados nos tonéis de aguardente, “um forte rum brasileiro do qual beberam em excesso”. Os gritos ensurdecedores de alegria foram ouvidos depois que toda a tripulação inglesa subiu a bordo para livrá-los das correntes de ferro, as quais muitos deles ainda estavam presos. Após a tripulação de dezessete homens serem transferida para o barco inglês composto de três espanhóis e o restante de portugueses e brasileiros, foi avaliado a situação: tratava-se do navio brasileiro “Progresso”, deslocando cerca de 140 toneladas procedente de Paranaguá e seguia em direção ao Rio de Janeiro. Sua carga era composta de 447 negros. “Desses 189 eram homens, poucos, no entanto, passando dos vinte anos; 45 mulheres e 213 meninos”. Havia um grande número de doentes a bordo, suspeitando-se que a princípio fosse de 25, mais tarde descobriu-se uma quantidade maior.<br />Segundo a tripulação o comandante havia perecido afogado no porto de embarque. Tempos depois se descobriu que ele permaneceu escondido entre seus subordinados para fugir ao rigor das leis inglesas. Dois espanhóis e um português voltaram para o barco “Progresso” com a tarefa de cozinharem para os negros, juntamente com nove marinheiros, um tenente, um mestre quarteleiro, um contramestre e o pastor Hill, autor do diário do qual estamos seguindo seu roteiro.<br />Ao longo do tombadilho o pastor descreve os negros recentemente libertados, dormindo, enquanto a nave desliza suavemente à brisa do mar calmo. Corpos esqueléticos, uns sobre os outros, disputam o pequeno espaço. De repente, “o céu começou a se encher de nuvens e um nevoeiro espalhou-se pelo horizonte para barlavento”.<br />Os fortes ventos seguidos de chuva provocaram as cenas de horror que se seguiram, com os marinheiros querendo chegar até as cordas para recolher as velas, e a pisotearem os negros que se alvoroçaram aos gritos acompanhados da ordem de mandar todos descer para o porão. Durante a noite, o calor sufocante agitou “quatrocentos infelizes seres humanos apertados em um porão com doze jardas de comprimento... rapidamente começaram a fazer um esforço para voltar ao ar livre” através das escotilhas fechadas em cima deles.<br />“A única passagem de ar, o calor sufocante do porão, e, talvez o pânico da situação inusitada fez com eles pressionassem... acumularam-se nas grades, e agarravam-se a ela lutando por ar. Mas com isso barravam completamente a sua entrada. Posso afirmar sem exagero que os gritos, o calor “a fumaça do tormento deles” que subia não pode ser comparadas a nada desse mundo. Um dos espanhóis avisou-se que a conseqüência disso seria de muitas mortes.<br />Pela manhã, cinqüenta e quatro corpos de homens, mulheres e crianças foram conduzidas para o tombadilho e jogados ao mar. “Era uma cena horrorosa vê-los passar um a um, os membros enrijecidos cobertos de sangue e de sujeira” Outros estavam feridos ou fracos demais para se erguer. Haviam sido pisoteados. “Alguns ainda tremendo foram deitados no tombadilho para morrer, água salgada eram jogada sobre eles para revivê-los, e um pouco de água entornada em suas bocas”.<br />A refeição daquele dia consistia de farinha e água, “quase metade de meio litro que eles agarravam com inconcebível avidez... suas gargantas deviam estar ressecadas pelos choros e gritos que vararam a noite adentro”.<br />Na véspera de Páscoa, o pastor parece desabafar diante de tanta degradação: “O mundo não consegue apresentar um espetáculo mais chocante da desgraça humana do que esse nosso navio apresenta. Parece que uma cena tão angustiante possa ser testemunhada sem causar um efeito prejudicial no espectador... depois se familiarizando, ele vai em certo grau insensibilizando seus sentimentos”.<br />Dia de Páscoa, domingo, 16 de abril. Avistou-se o “Cleópatra” com sinais de que queria se comunicar, sendo feito a aproximação. Receberam “um velho português chamado Valerian, para ajudar a reparar nossas velas que eram velhas e fracas”, e um cirurgião assistente “que começou a examinar os doentes. A maioria dos casos era de disenteria e de ferimentos ulcerados. Um homem tinha uma profunda escara infeccionada causada por chicotadas. Uma pobre criança de seis ou sete anos perdeu quase todo o dedo grande do pé comido por “niguas”, ou seja, bicho de pé”.<br /></span></em></strong><br /><a href="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBJpdrIoLrI/AAAAAAAABAU/CXuxi57VN1A/s1600-h/Navio+Negreiro.jpg"><span style="color:#3366ff;"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5193329278827638450" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBJpdrIoLrI/AAAAAAAABAU/CXuxi57VN1A/s400/Navio+Negreiro.jpg" border="0" /></span></a><span style="color:#3366ff;"><span style="font-size:180%;color:#ff0000;"><strong> O ROUBO DA ÁGUA</strong></span><br /></span><span style="font-family:verdana;color:#33ccff;"><span style="color:#3366ff;"><strong><em>Na manhã de segunda feira, os meninos que anteriormente haviam sido rejeitados à bordo do “Cleópatra” por suspeitas de varíola, finalmente foram aceitos cerca de cinqüenta, pois se tratava de “violenta espécie de coceira”. Acompanhados de víveres para alimentá-los, consistindo de “dois sacos de arroz, um de milho moído, uma boa quantidade de carne-seca... que só desse último artigo o “Progresso” carregava um estoque suficiente para alimentar os negros durante dois meses”, além de seiscentos sacos de feijão miúdo, guardado abaixo do tombadilho dos escravos, arroz inferior, farinha, e “22 enormes tonéis, cada uma comportando cinco ou seis barricas cada”.<br />Referindo-se ao depósito de provisões o pastor registra: “armários trancados cheios de cerveja comum e de cerveja preta forte; barris de vinho; licores de várias espécies; macarrão; vermiceli; tapioca da melhor qualidade; caixas de picles ingleses, cada uma contendo doze vidros; caixas de charutos; uva moscatel; tâmaras, amêndoas, nozes etc.etc. Os viveiros no tombadilho estão cheios de aves e patos e tem onze porcos”.<br />O “Cleópatra” afastou-se rapidamente dando o último adeus de despedida. Durante a jornada o espanhol que fazia parte da tripulação anterior em atividade no navio brasileiro “Progresso”, revelou ao pastor dados interessantes de sua vil profissão. Narrou que durante os “dois ou três meses”, em que ficaram à espera do embarque da carga humana na praia, os negros ficaram muito doentes, “Alguns deles tinham vindo de longe no interior e chegaram em condições deploráveis e cinqüenta foram rejeitados como incapacitados para viajar”.<br />Curiosa a resposta do tripulante quando perguntado se acreditava no fim do tráfego de escravos, que cada vez mais era combatido pelas nações que assinaram um pacto para esse fim, “ele achava que no Brasil, onde havia grandes enseadas isoladas que facilitavam o contrabando, haveria uma grande dificuldade em suprimir o tráfego, embora se a autoridade do governo simpatizasse com a causa poderia fazer muito”.<br />O “Progresso” havia sido o quarto navio apreendido naquele ano. “Em Quelimane, oito ou nove navios pegam sua carga anualmente” continua o espanhol “e, calculando por baixo, com quinhentos escravos em cada um... agora nenhum escapa, é um trabalho para homens desesperados... Na costa leste os negros geralmente são pagos em dinheiro, às vezes em “fazendas”, algodão grosseiro a um custo mais ou menos de dezoito dólares por homem e doze por meninos. No Rio de Janeiro, seu valor estimativo é de 500 mil réis por homens, 400 mil réis por mulheres e 400 mil réis por meninos. Assim sendo uma carga de quinhentos escravos, a um preço vil, o lucro vai passar de 19.000 libras”.<br />Uma manhã um negro morreu e foi jogado ao mar. Seu corpo flutuou em torno do navio batendo contra o casco “de barriga para cima durante meia hora”. A tripulação ficou temerosa que algum tubarão pudesse alcançá-lo. Finalmente o cadáver se afastou para todo o sempre. O maior sofrimento dos negros era a sede. Com a água racionada eles sorviam as gotas de chuva que pingavam das velas. “Colam seus lábios nos mastros molhados e engatinham até as gaiolas das aves para compartilhar os alimentos”. Na hora da refeição, constando de feijão cozido com arroz, a comida era distribuída em tinas “ao redor das quais eles estão sentados em grupo de dez, e, a um sinal, começam a mergulhar suas mãos na mistura e com grande habilidade levam o conteúdo até suas bocas”.<br />. Um tubarão de grande tamanho foi pescado pela guarnição e serviu de refeição para os negros que se arregalaram com alegria durante a refeição. Porém, antes de abrir o peixe, ficaram temerosos “de encontrar restos dos nossos camaradas falecidos”. Uma febre estranha atacou seis homens da guarnição, inclusive o pastor. Manoel, o cozinheiro português, foi o primeiro acamar-se com delírios. “Nessas febres da costa da África é necessário não ficar acovardado; por que se alguém se acovarda, em quatro dias morre”. E foi o que aconteceu com Manoel. “O corpo foi costurado dentro de um saco, com um chumbo para fazê-lo afundar, depois foi trazido para a popa, onde os ingleses e os espanhóis esperavam, eu li o modelo de Serviço Fúnebre para ser usado no mar: “Entrego seu corpo com honras no mar, esperando pela sua ressurreição, quando o mar deverá entregar seus mortos e a vida do mundo ocorrer”.<br />No final de abril durante uma noite, todos acordaram com gritos ouvidos no convés dos escravos. Ao verificar o motivo, denunciaram: “estão roubando água”. Confirmada a denúncia, foram responsabilizados sete elementos como autores do furto. “O mal resultante dessa delinqüência não é só da água retirada e sim a sujeira que fica dos trapos que eles mergulham nos barris para tirar o líquido”. Pela manhã os acusados foram amarrados no convés “e cada um recebeu de quinze a vinte chibatadas: um espanhol, um inglês e um negro forte se revezavam na tarefa”.<br />A LONGA VIAGEM<br />Após vários dias de calmaria o “Progresso” velejava sereno, acompanhado de cardumes de toninhas com os marinheiros tentando arpoá-las. Em poucos momentos o céu encheu-se de nuvens carregadas com os relâmpagos rasgando o horizonte, sinalizando o recolhimento das velas. Trovões rolaram acompanhando o vento e as ondas que varriam o convés. Os gritos dos negros recolhidos apressadamente ao porão, o ranger de cordas e do tabuado faziam crer que o navio estava prestes a se partir.<br />Ao se iniciar o mês de maio, o navio seguia sua rota em calmaria entrando num novo hemisfério. A estação fria se aproximava mantendo os negros aninhados no porão. “Os negros nus já estavam começando a tremer e a bater os dentes”, que aumentava à medida que o navio avançava para o norte. As noites eram geladas e em uma manhã “sete negros foram encontrados mortos e entre eles uma menina”. A morte estendia suas asas com mais calamidade sobre esses infelizes. Em seu diário o pastor registra as cicatrizes de letras marcadas no peito e nos ombros dos negros, que segundo um português da guarnição, é para marcar as iniciais de seus respectivos donos. “Quando o navio chega ao Rio eles podem reconhecer suas propriedades” acrescentando que “a condição do negro é muito pior no Rio onde eles andam esfarrapados e maltratados “como um escravo” do que em Havana, onde às vezes está mais bem vestido do que muito branco”.<br />Nova tempestade colheu o “Progresso” com “vento violento acompanhado de chuva” ceifando mais vidas de negros recolhidos ao porão. Pela manhã: “três mortos foram as primeiras coisas que meus olhos viram no convés; um homem coberto por um cabo de corda, uma coisa horrível e repugnante; o pobre menino que sofria com bicho-de-pé e que agüentou seu sofrimento com muita paciência e uma menina, cujos dois olhos ontem estavam completamente fechados por causa de uma inflamação na cabeça. Suas vidas foram durante um tempo, uma carga pesada para eles e não poderiam se mais prolongadas, mas com certeza foram encurtadas pela inclemência do tempo”.<br />As tempestades se sucediam com freqüência. Ao entrarem nas zonas de turbulências com nuvens ameaçadoras, antecipava-se o recolhimento das velas e os negros eram recolhidos ao porão. “Rajadas se sucediam umas às outras misturando mar e ar em um lençol pulverizador, cegando os olhos do timoneiro. Ondas subindo altas, acima de nós, jogando para o céu as espumas de suas cristas e ameaçando engolir o navio a qualquer momento”. Cavalgando sobre as vagas, o velho brigue transportava em seu interior “os gritos agudos dos doentes através da escuridão da noite, subindo acima do barulho dos ventos e das ondas, pareciam as coisas mais tristes de todos os horrores desse infeliz navio”.<br />Ao amanhecer a mesma rotina trágica: três corpos jaziam no convés para serem lançados no mar: “o de um homem e os de dois meninos, trazidos do porão para o convés”. O homem havia sido surrado por seus companheiros alguns dias antes, e naturalmente não agüentou a falta de ar no porão na noite anterior. Dentre as doenças dos negros que se manifestavam à bordo, “os casos de feridas ulceradas assumiam uma aparência tão horrível que eu agora mal consigo olhar. Esses pobres pacientes, também estão sem exceção, atacados de disenteria, da qual eles têm certeza que vão morrer mesmo se curados das feridas”. O estado de desnutrição era cada vez era evidente na aparência dos negros transportados pelo “Progresso”. “Um menino que estava a um estado que não se consegue conceber em um ser humano”, durante a administração de um remédio composto de camomila, “Antonio o fez sentar para beber, quando sua cabeça caiu para frente e morreu nessa posição”.<br />Navegando numa região de calmaria, um horrível mau cheiro passou a exalar do porão impregnando todo o navio. A mistura das fezes e do suor dos negros doentes e esqueléticos que não podiam se locomover para o convés e permaneciam asfixiados num calor sufocante, faziam com que a tripulação se sentisse incomodada, “e na nossa cabine na popa é quase intolerável”.<br />“Aparentemente nada se movia nem no ar nem no mar nem no céu, exceto os enormes albatrozes, com suas azas de dezesseis pés bem abertas, dando volta uma atrás da outra e, às vezes passando tão perto, que quase tocam a grinalda da popa na qual eu estava sentado”.<br />Ao entardecer sombras foram vistas no horizonte denunciando terras, confirmada ao amanhecer com o aparecimento dos pombos do Cabo, em conjunto com os albatrozes e várias velas que surgiam ao longe, suspeitando que fosse a “baia Plettemberg, entre a baia de Algoa e o Cabo, alguns negros apontam interessados e curiosos para lá, mas um grande número deles senta-se junto no convés, com suas cabeças descansando nos joelhos aparentemente em uma apatia total para tudo ao redor”.<br />A morte ceifaria naquela manhã mais três meninos. Seus corpos estendidos no convés eram parte da rotina diária, “embora, durante os últimos sete dias os casos fatais tenham atingido uma média de quatro por dia”. No dia 1º. de junho, o “Progresso” se aproximava da costa quando foram transportados do porão mais oito corpos, “e agora não podemos mais nos aventurar a joga-los ao mar como antes, porque as ondas podem leva-los para alguma praia desabitada da baia na qual entramos ontem à noite”. Na baia de São Simão, o nevoeiro desfeito deixou ver dezenas de mastros e velas de barcos que se confundiam ancorados ao largo.<br /><br /><span style="font-size:130%;"><span style="color:#ff0000;">O OUTRO LADO DO MUNDO</span><br /></span>Aproximando-se do cais, o navio lançou ferros, sendo logo visitado pelo fiscal sanitário. Em seguida o superintendente do Hospital Naval, também foi a bordo conduzido pelo pastor, já que eram velhos conhecidos, visitou o porão destinado aos escravos. “Por mais que ele estivesse acostumado a cenas de sofrimento, ele foi incapaz de suportar a vista, superando tudo o que ele podia conceber de miséria humana. Uma menina pequena chorava amargamente, presa entre as tábuas e lutando para libertar seus membros enfraquecidos, até que lhe deram assistência”.<br />Desembarcando no cais e após um descanso, o reverendo dirigiu-se abordo do “Isis” para cumprimentar um velho conhecido: sir John Marchal. De volta para a terra resolveu fazer a última visita ao “Progresso”, onde encontrou mais seis corpos empilhados no convés junto aos oito do dia anterior esperando para serem enterrados na praia. Os mais saudáveis já tinham sido embarcados em vagões para a cidade do Cabo. Cada um dos que era liberado, diz o pastor em seu diário: “recebia um casaco novo e quente, calças, e eram colocados agasalhados em confortáveis em vagões abertos... passei pelos negros e não os encontrei mais conformados com a mudança da situação... Cada mulher tinha um cobertor branco novo, além de roupas... responderam aos seus nomes, mas mostraram poucos sinais de alegria na ocasião. Dúvida e medo predominavam e seus semblantes pareciam aqueles das vítimas condenadas”.</em></strong></span><a href="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBJpRrIoLqI/AAAAAAAABAM/Va2MJNPfLds/s1600-h/Escravos_Rugendas-thumb.jpg"><span style="color:#3366ff;"><strong><em><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5193329072669208226" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_Zv0sFnH5r44/SBJpRrIoLqI/AAAAAAAABAM/Va2MJNPfLds/s320/Escravos_Rugendas-thumb.jpg" border="0" /></em></strong></span></a><span style="color:#3366ff;"><strong><em><br />Durante a limpeza do navio foi encontrado um menino preso nas taboas do porão em adiantado estado de putrefação. “Parte de uma das mãos tinha sido devorada e um olho completamente roído pelos ratos... os doentes que desembarcaram ainda são numerosos”.<br />Após cinqüenta dias da viajem de volta ao continente africano, chegava ao fim um dos mais dramáticos depoimentos de fatos abomináveis que envergonham as relações humanas. O “Progresso”, navio brasileiro apreendido pela bandeira britânica com sua carga infame de 397 negros destinados ao Rio de Janeiro, chegava ao porto próximo à cidade do Cabo com 223 sobreviventes, reduzidos em 175 homens, mulheres e crianças que pereceram em condições degradantes.<br /><br /></em><span style="font-size:130%;color:#ff6600;">POSFÁCIO</span></strong><br /><strong><em>Percorrendo o Rio de Janeiro durante a primeira metade do século XIX, o viajante inglês G. W. Freireyss registrou uma visita feita ao mercado do Valongo: “Basta entrar numa das espaçosas salas de um traficante na Capital, para ver uma porção de negros recém-chegados divertirem-se à moda do seu país, o que o traficante lhes permite por que sabe que a falta de movimento e a nostalgia lhes diminuem o infame lucro. Encontramos aí alguns centos de negros nus e rapados, diversos tantos na idade como no sexo, que formavam uma grande roda, batendo palmas com toda a força, acompanhadas com os pés e com um canto gritado e de três notas apenas”.<br />Após as primeiras visões desta degradação humana, Freireyss assinala que os navios chegavam com a quarta parte de sua carga doente, “enquanto outros que trazem consigo os germens da moléstia, sucumbem poucos dias depois da chegada”.<br />Muito já se escreveu sobre a história social do Brasil desde o processo colonial. O tráfico negreiro é um desses temas que enodoam seu relato, iniciando com o aprisionamento de uma população ordeira do interior do continente africano por tribos litorâneas e negociando seus irmãos com traficantes de nações européias. Famílias inteiras transformadas em escravos contribuíram durante mais de três séculos para o esplendor econômico dos impérios coloniais incluindo o britânico, que se travestiu de inquisidor do tráfego negreiro no século XIX por interesses econômicos.<br />Escrevi esse relato resumindo o texto do livro: “Cinqüenta Dias a Bordo de um Navio Negreiro”, transcrito do diário de bordo do reverendo Pascoe Grenfell Hill, garimpado no raríssimo acervo do bibliógrafo e acadêmico José Mindlin, traduzido por Marisa Murray e publicado recentemente pela José Olímpio Editora, na coleção Baú de Histórias. ** Revisão do texto: Professor Wagner Cortaz</em></strong></span><em> </em></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-1149938017804611392006-06-10T08:02:00.000-03:002006-09-15T14:00:18.906-03:00CAMINHO DO PILAR<span style="font-family:arial;font-size:180%;color:#cc0000;"><em><strong>O PIONEIRO CAMINHO DO </strong></em></span><br /><span style="font-family:arial;font-size:180%;color:#cc0000;"><em><strong>OURO E SUAS VARIANTES</strong></em></span><br /><div align="right"><span style="font-family:arial;"><em><strong>Guilherme Peres</strong></em></span></div><div align="left"><span style="font-family:arial;"><em>A ocupação do vasto território hoje conhecido como Baixada Fluminense, cercado de charcos e pantanais, ainda no século XVI se renderia ao trabalho pioneiro dos desbravadores. Fixados em sesmarias e sobejos que se limitavam com rios e montanhas, além do pastoreio e a semeadura, a luta contra os gentios era atividade constante. Em fins desse primeiro século, engenhos de cana já fumegavam em território concedido a Cristóvão de Barros à margem do rio Magé, iniciando a ocupação de vales banhados pelos rios Meriti, Sarapuí, Iguaçu, Guandu, Inhomirim, Suruí, Iriri, Macacu e seus afluentes.<br />Aflorando aluviões de generosa fertilidade, transformaram seu solo em pastos verdejantes ondulados de canaviais, alimentando engenhos e engenhocas no labor diário da fabricação do açúcar, regado com o suor e o sangue do negro escravo. Aos poucos adentrariam florestas, mas se esbarrariam com a imensidão da serra do Mar. Sant’Ana, Órgãos e Estrela compunham o paredão indevassável que formava nesta região seu espinhaço frontal, assinalado nos mapas seiscentistas de “certão” e “ocupado por índios brabos”. Durante dois séculos a natureza hostil e montanhosa dessa serra fluminense manteve intransponível a barreira das comunicações do Rio de Janeiro com o Planalto. Porém, rompendo essa vastidão, Garcia Rodrigues, filho do bandeirante paulista Fernão Dias Paes, com seus índios e escravos, veio descortinar em 1704 no sítio do Couto, a visão magnífica de toda a baia de Guanabara e seu recôncavo, levando até Pilar o “Caminho do Ouro”. E Bernardo Soares de Proença, sesmeiro em Suruí, também rasgasse uma nova passagem, com o “Caminho do Inhomirim”, iniciado à margem desse rio transformado em porto, com uma capela sobranceira denominada de N. Sra. da Estrela dos Mares, subido a serra e seguindo antigas trilhas indígenas passando por Córrego Seco, atual Petrópolis, entregue ao trânsito em 1724. O mestre de Campo Estevão Pinto em 1728, descendo pela serra do Tinguá, abriu o início do “Caminho de Terra Firme” fugindo dos brejos e da navegação fluvial, deixando na passagem, um foco de próspera colonização graças a numerosas concessões de sesmarias, entre as quais a fazenda do Guandu, vizinho de Marapicu, pertencente a Pedro Dias Paes Leme o Marquês de São João Marcos, filho de Fernando Dias Paes Leme, descendente do famoso bandeirante paulista Fernão Dias Paes, que ali construiu em 1762 a capela de N. Sra. de Belém e do Menino Deus (Japeri) No mapa da Capitania do Rio de Janeiro, desenhado pelo Sargento-mor Manoel Vieyra Leão no ano de 1767 por ordem do Conde da Cunha, vemos que o caminho pioneiro de Garcia Rodrigues Paes partia da freguesia de Nossa Senhora do Pilar subindo o curso desse rio antes de galgar a serra do Couto. Do porto da Estrela à margem do rio Inhomirim, iniciava-se a primeira variante já referida.<br />O “Caminho de Terra Firme”, a segunda variante partia do Rio de Janeiro e, descrito por Antonil, indica o caminho terrestre por Irajá, engenho do Alcaide-mor Tomé Correia, Porto do Nóbrega no rio Iguaçu e sítio de Manoel do Couto, encontrando-se com o caminho de Garcia Paes.<br />Uma bifurcação tinha origem na freguesia de Jacutinga, conforme se vê no mapa corrigido da “Carta Geográfica da Capitania” do ano de 1801, oferecido a D. Antônio Roiz d’Aguiar, volvia para Noroeste buscando o pé da serra de Gericinó, passando pelo engenho Maxambomba (Nova Iguaçu), até atingir a roça de Pedro Dias, Freguesia da Sacra Família e, voltando para nordeste, alcançando a localidade de Pau Grande, no encontro com o caminho do Pilar.<br /><br /><strong>O CAMINHO DE PARATI</strong><br />Durante o início da mineração, no final do século XVII, ao partir do centro da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, para se alcançar o caminho Velho das Minas, que começava em Parati, o viajante tinha duas opções: atravessar a baia de Sepetiba em direção a Parati e subir a trilha dos Guaianazes, transpondo a serra da Mantiqueira pela garganta do Embaú, ou alcançar a mesma baia em busca dessa trilha, pelo caminho de terra através da estrada Real de Santa Cruz, até o embarque na ilha da Pescaria à sua margem, pertencente aos padres da Companhia. Transferindo a sede administrativa do Rio de Janeiro para a região mineradora, segundo a carta régia de 1696 “para ficar mais próximo às minas”, o Governador Arthur de Sá e Menezes, percorreu esse caminho “longo, penoso e temerário”, mas até então o único existente.<br />“Depois do caminho pela serra do Facão à Vila de Parati” diz Monsenhor Pizarro, “foi primeiro o que Garcia Rodrigues abriu em direitura a serra dos Órgãos, por onde se fez o trânsito geral, até aparecer outro mais apto, desde o Rio Paraíba ao sítio ou roça do Alferes de Ordenanças, Leonardo Cardoso da Silva, daí a serra do Couto, e dela à de Tinguá, procurando a freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Iguaçu” (denominada nesse período de Nossa Senhora da Piedade do Caminho Velho) “por cuja estrada se chega à cidade, sem precisar de conduções marítimas”.<br />Essa facilidade proporcionou ao Rio de Janeiro, o principal papel de escoadouro do ouro e pedras preciosas, transformando-o no maior centro comercial da colônia, passando a atuar como representante da Coroa em suas atividades políticas e administrativas. A futura Estrada Real de Santa Cruz, que antes era o início do caminho terrestre para a baia de Sepetiba em busca de Parati, passou a ter uma importância secundária com a abertura do Caminho Novo “o que provocou a resistência dos paratienses, dos Jesuítas de Santa Cruz e de outros proprietários de terra interessados na manutenção do primeiro eixo”.<br />Dois caminhos contemporâneos destacaram-se no sistema de comunicação da região em estudo: a variante do Proença com término no Porto da Estrela, e o Caminho de Terra Firme, usado na segunda metade do século XVIII e início do XIX. Seu traçado foi determinado pela necessidade de fugir à zona pantanosa, que se encontrava nos vales dos rios que formavam a bacia hidrográfica da parte ocidental da baia de Guanabara.<br /><br /><strong>O CAMINHO DE GARCIA PAES<br /></strong>Segundo documentos relativos ao bandeirismo paulista, publicado por Basílio de Magalhães, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XVIII, à pagina 464, que em carta ao Rei, datada de 24 de maio de 1698, Artur de Sá e Menezes expõe a necessidade “de uma estrada para as minas, a qual facilitasse as comunicações com o Rio de Janeiro a prol do aumento das lavras, da arrecadação dos quintos e até da criação do gado”.<br />Apresentou-se Amador Bueno, mas foram tantas as exigências, que seu projeto foi indeferido. Sabedor do contrato, Garcia Rodrigues Pais ofereceu-se “com zelo e desinteresse, contando que o Governador viesse ao Rio auxiliá-lo; ora, pela nova via de penetração, segundo o plano do filho do caçador de esmeraldas, em vez de três meses, tempo que então se gastava, se poriam apenas quinze dias entre a capital do sul e o longínquo interior do ouro”, finalizava Artur de Sá, indicando ao soberano a realização desse projeto “com o qual Garcia Paes faria grande serviço a V. Majestade, e a este povo grande sua obra”.<br />Iniciando essa empreitada, logo assim que o governo aceitou sua proposta em 1699, a abertura desse caminho consumiu 18 meses de trabalho “com alguns homens brancos e mais de quarenta negros (dos quais lhe morreram cinco) e fizera despesas consideráveis, saídas exclusivamente de seu próprio bolso”. Ao pedir auxílio aos moradores do Rio de Janeiro, que lhe haviam prometido, estes se recusaram, razão pelo qual o Governador ressarciu os prejuízos “do honesto e ativo paulista, lhe concedeu o privilégio, durante dois anos, poder trafegar gêneros de negócio pela estrada que abrira devendo, porém, leva-la a cabo a sua custa”.<br />O ponto de partida da estrada era a Borda do Campo, perto da atual Barbacena, “então conhecida como arraial dos Carijós”. Em 1700 o Governador era informado pelo Capitão-mor Pedro Taques, que a picada atingira a região de Ressaca onde começavam os Campos Gerais, exigindo “enormes cabedais, tendo que recorrer a bolsa de seu cunhado Domingos da Fonseca Leme, e obtivera escravos deste, que quisera a Sua Majestade fazer grande serviço”.<br />Como recompensa, Garcia Paes recebeu duas sesmarias nas margens do rio Paraíba e do rio Paraibuna, estabelecendo passagens com balsas e canoas à frete, além de obter o privilégio da utilização do caminho que abrisse, salvo para aqueles que transitassem “sem levar gêneros de espécie alguma, escravos ou índios, excetuando-se os carregadores de patrona”, (maleta de couro usada pelos soldados para carregar cartuchos<br />No território fluminense, “o novo caminho das Minas, que descia das margens do Paraíba pela Roça do Alferes, prosseguia pela serra do Couto ate atingir o arraial do Pilar, às margens do Iguaçu”<br />Exigindo novas informações sobre “a difícil diligência” efetuada por Garcia Paes, o soberano propôs a ida de Artur de Sá e Menezes às minas, aproveitando a jornada para examinar as trilhas abertas em função da abertura do Caminho Novo.<br />Em seu “Estudos e Depoimentos”, Daniel de Carvalho observa que nos tempos do Conde de Assumar só existam dois caminhos “legais” para as minas partindo do Rio de Janeiro “com ranchos para tropas, canoas ou balsas para travessia dos rios, pousos para viandantes e postos de guardas para fiscalização dos tributos e para segurança das pessoas e bens. As demais picadas existentes seriam caminhos ou veredas clandestinas para a entrada ou saída de quilombolas ou de pessoas sem passaporte e para o contrabando de ouro e de mercadorias”.<br />A proibição da abertura de novas picadas e a obrigação do transporte do ouro pelo caminho de Garcia Paes, foi uma exigência da “Lei de 10 de março de 1720, impondo penas severas” aos infratores.<br />“Amador Bueno da Veiga” segundo Affonso Taunay, “considerando que o caminho aberto por Garcia Paes era um tanto impróprio ao trânsito de cavalgaduras e tropas de gados, pelas extensas florestas atravessadas sem recursos de pastagens, propôs abrir nova estrada mais conveniente”. Um certo Félix de Gusmão propôs ao Governador abrir um novo caminho, porém esse, pelo contrário, “proibiu a abertura de novas picadas”.<br />Com o aumento do transito essa estrada tornou-se imprópria, até que um morador em São Nicolau do Suruí, Bernardo Soares de Proença, sesmeiro nas encostas da serra do Frade e Tocaia Grande, próximo à Córrego Sêco (Petrópolis), propôs abrir um caminho por essa garganta, “sem ônus para o erário real”, sendo sua projeto autorizado.<br />Ligando o porto da Estrela na margem do rio Inhomirim, ao vale do Paraíba, foi entregue ao trânsito em 1724, sendo aplicados nessa empresa “mais de cem mil cruzados, perdendo o seu autor, além de seus haveres, muitos escravos e índios de sua propriedade”.<br /><br /><strong>A INVASÃO FRANCESA NO RIO DE JANEIRO<br /></strong>Naquela manhã de sábado, dia 12 de setembro de 1711, uma forte serração cobria o Rio de Janeiro. Às 5:30 da manhã “orientamos o pano a fim de aterrarmos diante da baia do Rio de Janeiro”, diz em seu diário o guarda-marinha francês Du Plessis-Parseau, tripulante do “Lys”, navio capitânia que conduzia Du Guay-Trouin.<br />Em seu raro livro divulgado na França logo após a volta da esquadra, traduzido e publicado no Brasil em 1942 com o título de “Expedição Francesa Contra o Rio de Janeiro”, Du Plessis conta para a gloria da França, aqueles cinqüenta dias de horror, saques e mortes, que marcaram para o Brasil, um dos momentos mais humilhantes de sua história.<br />“Soprando vento fresco de E, e persistindo o nevoeiro, o que nos era favorável, pois que só poderíamos ser descobertos de terra quando estivéssemos muito perto, o que efetivamente aconteceu”.<br />Alguns escravos que pescavam a bordo de pequenos barcos próximo à entrada da barra, estranharam grandes silhuetas brancas que deslizavam em silencio adentrando a baia de Guanabara. “O Magnanime” estava na vanguarda a fim de determinar o rumo, pois seu comandante já conhecia o Rio de Janeiro. Em sua esteira vinha o “Brillant”, seguido pelo “Aquille”, “Lys”, “Fidele”, “Mars” e “Glorieux”; vinha depois o “Bellone” e as demais fragatas, segundo sua importância e hierarquia, “cada um em seu posto, pronto a combater”. Era uma hora da tarde.<br />Avistados pelas fortalezas abriu-se fogo de ambos os lados durante meia hora, tempo suficiente ante a fraqueza do defensor, para entrarem na barra 17 navios de guerra franceses, com 700 canhões, dez morteiros e transportando cerca de 6 mil homens, fazendo saltar o depósito de pólvora da ilha de Villegaignon “com o que morreram mais de 30 pessoas e muitos feridos”<br />O “Magnanime” liderando o comboio foi o primeiro a ser “saudado” pela fortaleza de Santa Cruz, “situado à direita da entrada e da qual era forçoso passar à queima roupa. A fortaleza dispunha de 44 canhões de todos os calibres, desde 48 libras de peso de projétil até aos de 8 libras; e cedo começou a nos fazer sentir a sua artilharia, sem respeitar o pavilhão inglês que tínhamos içado”.<br />O recuo de 4 naus de guerra portuguesas que estavam entre essa ilha e a cidade “por não poderem, pela brevidade do tempo ou pelas razões que davam os cabos que a governavam”, dar combate aquela poderosa esquadra sua pouca tripulação desembarcando e largando as amarras, os navios foram encalhados e incendiados “na ponta da Misericórdia, na ilha das Cobras e junto a São Bento...coisa incrível para quem conhece a barra do Rio de Janeiro”, diria mais tarde o Governador Francisco de Castro Morais em carta ao Governador-Geral do Brasil, D. Lourenço de Almada, depois da rendição do Rio de Janeiro.<br />“Todos esses obstáculos, porem não conseguiram perturbar a bela ordem que foi observada por toda a esquadra, que fez uma entrada digna da audácia e do orgulho francês e fundeou, toda ela às 4 horas da tarde, no interior da baia, fora do alcance dos canhões da defesa, sem ter sofrido muito em seu arvoredo e com perda apenas de um único oficial, M.Laminille, sub-brigadeiro dos Guardas da Marinhas e poucas praças mortas e feridas”.<br />Aqui vemos que o guarda-marinha francês, num arroubo patriótico, exagera quanto as defesas da cidade que estavam praticamente desguarnecidas. Avisado por um emissário que viera de Cabo Frio no dia 5 de agosto, o Governador Francisco de Morais preparou a defesa da cidade. “Guarneceram-se as fortalezas, que seguram o porto e animando-se os soldados uns aos outros”, mas, diz Monsenhor Pizarro, “como, porém corressem cinco dias, e se não divisasse ao largo alguma vela, isto bastou para que reputado falso o aviso, se expedissem novas ordens, e retirando-se a guarnição dos fortes, se voltasse tudo antigo ócio, como se não tivesse passado algum risco, nem dele houvesse algum receio”.<br />Ao serem surpreendidos com a invasão, diz Pizarro com evidente revolta, “a maior confusão imediatamente se sucedeu a tão indiscreta segurança... tanto lhe era facílimo conseguir por um fogo bem dirigido; aliás, era igualmente do seu dever, dispondo em tempo conveniente as tropas de terra, impedir o desembarque. Nada menos se fez; perplexo ambos os chefes e perdido de todo o ânimo, nenhum atinou com o meio da defesa, senão é que Gaspar da Costa, mandando fora de ocasião incendiar as naus, e Francisco de Castro, fazendo encravar a artilharia da Fortaleza da Ilha das Cobras que desamparou, ou quiseram facilitar o passo do inimigo, ou impor ao mundo, em ar de oficiais hábeis, que souberam tirar partido da desgraça, tornando menos grata ao inimigo a vitória, que não souberam estorvar-lhe...tudo pois favoreceu a entrada: um espesso nevoeiro que forrava o céu, vento, maré, e nenhuma resistência”.<br /><br /><strong>UM PEDIDO DE SOCORRO<br /></strong>Um emissário enviado pelo governador Francisco de Castro no dia 13 de setembro de 1711, com pedido de socorro e uma ordem expressa para a troca de cavalos durante o trajeto pelo Caminho Novo, chegou as mãos do Governador das Minas, Antonio de Albuquerque, no dia 21 do mesmo mês. Alvoroçaram-se os povoados que se formavam a margem de córregos e rios à cata do precioso minério. Mobilizou-se em poucos dias uma multidão de garimpeiros dispostos a descerem as montanhas e expulsar o invasor. Sob as ordens do governador angariou-se recursos para a longa travessia de rios e florestas, e “obteve donativos no valor de 20 contos de réis com que preparou os terços que marcharam”.<br />“Podemos avaliar” diz Augusto Tasso Fragoso, as dificuldades do Governador “em dar feição militar a essa massa coletiva cuja coesão assentava unicamente no patriotismo e na confiança do chefe que a conduzia”. A reunião de cerca de 6000 homens “da mais luzida gente”, (disse Albuquerque mais tarde em ofício enviado ao rei) de um momento para outro, sem o recurso de roupas, calçados, montarias, armas e treinamento para, numa caminhada de 17 dias ir dar combate a um inimigo invasor altamente experiente nas guerras de conquistas, foi em nossa modesta opinião, um dos episódios mais gloriosos da História do Brasil.<br />De Ribeirão do Carmo apresentou-se Pedro Frazão de Brito à frente de 200 homens “armados e pagos por ele”. Assim como “Torquato Teixeira de Carvalho, Rodrigo Bicudo Chassim, Domingos Fernandes Pinto e outros, uns com 30, outros com 50 e 100 homens”, todos armados e sustentados a custa de cada líder. De Vila Rica marcharam em direção a Vila Real do Sabará, na encruzilhada das Congonhas, onde ali esperavam o general “cerca de duzentos homens armados e sustentados” por várias lideranças. Curiosamente vamos encontrar durante a descrição da caminhada das tropas de Albuquerque feita por Diogo de Vasconcelos, com sua chegada à Registro, o nome do coronel Domingos Rodrigues da Fonseca Leme, que os esperava em sua fazenda, o mesmo que ajudou o cunhado Garcia Paes, “com escravos e cabedais”, a concluir a abertura do Caminho Novo do Pilar. “Fornecendo o gado necessário a jornada” este se pôs à frente “marchando com 200 homens”.<br />Não podendo esperar outras tropas que partiram de regiões distantes, o general deixou aviso que o seguisse pelo mesmo caminho “que não oferecia desvios”. A estação chuvosa deixava a estrada enlameada. Cascos de animais, botas e pés descalços marcavam a passagem daqueles homens rudes, reunidos pelo sentimento nativista. A travessia dos rios era demorada, não havia canoas suficientes e o número de embarcados limitados, pelos riscos das corredeiras durante as cheias. A viagem foi feita pelo chamado “Caminho Novo”, ou “Caminho do Pilar” recentemente aberto por Garcia Paes, “cercado de matas virgens” e entregue ao trânsito em 1704, com raras habitações e poucos recursos à sua margem. Não havia animais para todos, a maioria se deslocou a pé. Em 12 dias de marcha, chegaram e acamparam os primeiros pelotões para descansarem, a espera dos demais “nos pousos que chamam frios”. Diz Antonil: “No dito cume faz um tabuleiro direito em que se pode formar um grande batalhão, e em dia claro é sítio bem formoso, e se descobre dele o Rio de Janeiro e inteiramente todo o seu recôncavo”.<br />Constituindo o até então paredão indevassável da serra do Mar em direção a Baixada Fluminense, esse caminho tinha como referência o pico do Couto. Com 630 metros de altura destaca-se entre os picos do Tinguá e a da Estrela, dando passagem no pé dessa montanha através do desfiladeiro que rompia a sesmaria pertencente a Manoel do Couto, descendo paralelo ao rio Pilar. Naquele momento o general Albuquerque recebeu a dolorosa notícia que decepcionou a todos: a cidade seqüestrada tinha cedido as exigências do inimigo. Imaginamos o desânimo que se abateu sobre aquela gente guerreira e disposta cobrar com sangue, o despertar de um dos primeiros sentimentos patrióticos do povo brasileiro.<br />“Estalava-lhes o coração nos peitos, e mal podia persuadir-se do que viam” diz monsenhor Pizarro “muito menos que bastasse a obra de dezoito dias a vencer tantas dificuldades. Tudo lhes parecia sonho, e nesses momentos de tristeza, representou-se-lhes a cidade mais bela, do que fora e seus contornos mais agradáveis do que tinham sido, dando infinito valor à perda”.<br />Desceram a serra esperançosos na suspensão do pagamento do resgate, e se iniciarem os combates para o qual aqueles homens estavam preparados. Passando pelo arraial do Pilar, que ainda era um pequeno aglomerado de casas de estuque aninhados em torno do porto e próximo a construção de uma nova Igreja dedicada a N. Sra. do Pilar “de pedra e cal” erguida pelos fiéis, o general com sua tropa dirigiu-se a sede da fazenda de São Bento dos padres Beneditinos para se aquartelar. Entretanto as negociações já estavam adiantadas. Sabedor da aproximação do governador das minas com suas tropas, Duguay-Trouin facilitou o acordo apressando o recebimento do resgate. “Depois disso ajustado e as capitulações feitas, chegou ao Aguassú o senhor Antônio de Albuquerque, que desceu das Minas como socorro de nove mil homens (sic), em que entravam quatro tropas de oitenta cavalos”, narrou Manoel de Vasconcelos Velho “em carta particular” a Domingos José da Silveira, residente em Lisboa, e transcrita por Monsenhor Pizarro em suas Memórias Históricas do Rio de Janeiro.<br />“E quando pudera servir isto de grande bem, serviu mais de despertar o sentimento de todos; porque chegou a tempo em que o saque já estava embarcado, o estrago feito e a saída da barra franca, por terem as fortalezas por si, e mais bem guarnecidas, do que as acharam: por onde lhe não ficou nada a fazer. Também na tardança desse socorro, culpam a Francisco de Castro, por que dizem não remetera logo ao senhor Antônio de Albuquerque a carta por onde El Rei o mandava descer a baixo, e tomar o Governo”.</em></span></div><span style="font-family:arial;"><em><div align="left"><br /></em><span style="font-size:85%;"><strong>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</strong>:<br />ANTONIL, André João – “Cultura e Opulência do Brasil”, 3ª - Ed. Itatiaia 1982<br />PIZARRO E ARAUJO, José de Souza Azevedo – “Memórias Históricas do Rio de Janeiro”, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1945.<br />FORTE, Mattoso Maia – “Memória da Fundação de Iguassú”, Rio de Janeiro, Tip. Jornal do Comércio, 1933.<br />PERES, Guilherme – “Baixada Fluminense, os Caminhos do Ouro”, Rio de Janeiro, Gráfica Register, 1993.<br />LAMEGO, Alberto Ribeiro – “O Homem e a Guanabara”, Rio de Janeiro, IBGE, 1948.<br />PRADO JUNIOR, Caio – “Formação do Brasil Contemporâneo”, São Paulo, Ed. Brasiliense, 1977<br />CARVALHO, Daniel de – “Estudos e Depoimentos” – José Olímpio Editora RJ. 1953<br />BOXER, C. R. – “A Idade de Ouro do Brasil” – Cia. Editora Nacional, SP 1969<br />PARSEAU, Du Plessis – “Expedição Francesa Contra o Rio de Janeiro em 1711” –Imprensa Nacional, RJ 1942<br />FRAGOSO, Augusto Tasso “Os Franceses no Rio de Janeiro” – Biblioteca do Exército – RJ 1965<br />VASCONCELOS, Diogo de – “História Antiga das Minas Gerais” – INL RJ 1948</span></span></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-1147375550971611732006-05-11T16:19:00.000-03:002006-05-11T16:28:32.333-03:00<em><span style="font-family:arial;"><br /><span style="font-size:130%;"><strong><span style="color:#cc6600;">Memórias de um ex-escravo reprodutor em Magé</span></strong><br /></span><br />João Antônio Guaraciaba nasceu no dia 20 de setembro de 1850. Preto, alto, forte, viveu grande parte de sua vida em Magé, Estado do Rio de Janeiro, onde morreu velho, enrugado e de carapinha branca com seus bem vividos 126 anos. Gostava de andar, mas seus passos ficaram lentos denunciando o peso da idade, o reumatismo e as “oito picadas de cobras que levou na perna direita, de tanto viver nos matos”, apesar de “lúcido e ainda enxergando bem para longe e sem sofrer de surdez”. Filho de mãe angolana que o teve aos quinze anos, e o Barão de Guaraciaba “um mestiço fazendeiro comprador de escravos negros na África onde conheceu sua mãe Angelina, então negra forte e bonita”. Depois de engravidá-la, prometeu buscá-los em outra viagem, trazendo-os assim para o Brasil num veleiro negreiro. João tinha apenas quatro anos de idade. Registrado em Magé, onde “tirou certidão com testemunha e tudo”, como filho do barão e Angelina Maria Rita da Conceição (nome cristão), “por que naquele tempo não tinha disso não, a data do nascimento passava de boca em boca, de parente para parente”.<br />Quando foi para Mauá, então Guia de Pacobaíba freguesia de Magé, João tinha 17 anos, levado pela mão de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá “para tirar (procriar) raça de crioulo escravo para o Imperador, que conheceu aquele preto forte na fazenda do Barão de Guaraciaba, onde passou uns tempos e pensou até que ele era escravo. Chegou a querer comprá-lo, mas o pai disse que não vendia, por que João era seu filho”. Ao chegar a Pacobaíba, na barca do Barão de Mauá aquele negro de “mãos de dedos longos, braços fortes, capaz de segurar com força as mulatas e crioulas da fazenda”, viu pela primeira vez “o trem vomitando fogo e fumaça” e apesar de não ter sido escravo, “trabalhou no porto onde os barcos veleiros atracavam”. Viu diversas vezes o Imperador desembarcar no cais de Pacobaíba e pegar o trem para Raiz da Serra onde embarcava na charrete até Petrópolis. “Era um homem sempre com o rosto limpo e bem tratado”. Ficou em Pacobaíba fazendo alguns serviços para o Barão até “despois que apanhei idade é que fui escolhido para tirar raça. Na minha fazenda só tinha eu de reprodutor”. Segundo suas próprias palavras, ele só foi levado para as fazendas de Petrópolis e Correias com 23 anos de idade quando assumiu sua nova “obrigação”.<br />Guaraciaba afirmou que deixou mais de 300 filhos: 100 para D. Pedro II e 200 para o Barão de Mauá, fora os que teve com as mulheres da fazenda de seu pai em Campos, ainda adolescente. “Ficou nessa vida de reprodutor deitando com duas, três, quatro mulheres por dia nas senzalas em que o Barão e o Imperador mandavam até os 38 anos, quando a Princesa Izabel aboliu a escravidão” A história registra que quando João nasceu em 1850, a Lei Eusébio de Queiroz confirmava a Lei de 1831extinguindo o tráfego de escravos, punindo com penas severas os infratores. Seguiu-se a Lei dos sexagenários de 1855. A Lei de 1869 libertando os servos que fossem para a guerra do Paraguai. A Lei do Ventre Livre de 1871, e finalmente a Lei da Abolição de 1888. João se lembrava que depois que surgiu a Lei do Ventre Livre, todos continuaram escravos, “agregados às fazendas sem outro ganho que não a casa e comida simples”. Foi escolhido para ser reprodutor por que “era preto de Angola”. Os senhores queriam pessoas bem fortes para esse serviço. “Se nhô quer saber: nas fazendas que eu ficava aquelas que não panhavam prenhez comigo eram vendidas para outros fazendeiros. Os donos tinham muito interesse em mulher que reproduzisse, pra ter mão-de-obra barata, pra trabalhar a cana, o café e a mandioca”.<br />Achava a “atividade” legal por que “era premitido”. Ele gozava de regalias que o resto da negrada não tinha. “Jamais entrou no chicote, nem foi açoitado no tronco ou acorrentado. Nunca levou bolo de palmatória ou teve pés e mãos amarradas no instrumento de tortura chamado “vira mundo”, onde muito escravo morreu. Às vezes morriam com gangrena, de tanto esfregarem os braços nas correntes para se soltarem cortando a carne que infeccionava”. Com ele foi diferente, embora trabalhasse com os escravos do Imperador, ajudando na lavoura quando podia, tanto que era aposentado pelo Funrural e recebia mensalmente por um banco de Magé Cr$ 300,00. “É muito pouco” dizia ele “não dá pra viver não. Se não fosse os amigos não sei o que seria”. João também lembrava das canções cantadas no eito pelos escravos. Trocando branco por baranco ou furta por fruta, cantava o “Lundu do Pai João” que falava de justiça: “Baranco dize: preto fruta / preto fruta com razão; / Sinhô baranco quando fruta / quando panha casião; ./ O preto fruta farinha / fruta saco de feijão; / Sinhô branco quando fruta / fruta prata e patacão; / Nego preto quando fruta / vai pará na correção. / Sinhô baranco quando fruta / logo sai sinhô barão”.Ele era o único na fazenda que não pagava no pesado. Boa alimentação e descanso, quando nas senzalas as escravas já o esperavam. “Era uma de cada vez na cama”. João sorri mostrando seus dois únicos dentes amarelos. “De vinte que entravam, quinze pegavam filho”. Quando seu pai o entregou ao Imperador, sabia que ele iria ser “cobridor de mucamas”.<br />Sua descendência se espalha pela Baixada e na Serra, incluindo parentes do Barão de Guaraciaba, “mas quase não vejo”. Antigamente subia a serra até Petrópolis de trem, mas desde que o Presidente Castelo Branco extinguiu a ferrovia Mauá-Petrópolis por ser antieconômico, raramente ia de ônibus.<br />“Companheiro do Aleixo, no mundo acho no mundo deixo” dizia ele repetindo um ditado popular de seu tempo. Mesmo numa época em que a Igreja vigiava o comportamento sexual das pessoas, muita negra teve filho de senhores e muita senhora amaldiçoou seu marido. Gostou de algumas escravas, mas como lembrar do “jeito” delas se o tempo passou. Muitas já morreram. O que sabe é que tem filhos espalhados “pela aí” de setenta, oitenta anos e que seus traços estão no olhar e no requebro de alguma mulata de hoje, nos ombros largos e nariz afilado de algum crioulo descendente afastado de alguns de seus trezentos filhos. Naquele tempo, não bebia nem fumava “pra não estragar o corpo”. Gostava de festas: São João, São Pedro, Santo Antônio, São Jorge, São Marcos, e São Sebastião. Gostava de ver capoeiras darem os botes. Cantava e pulava até de Madrugada. Gelados nem pensar, tiram a potência do homem. “Esses gelados pareceu depois da Abolição, não servem pra nada. Só pegou no Brasil por que faz muito calor e o pessoal gosta de refrescar, mas eu conselho a juventude evitar gelados, sorvetes”.<br />Negro João fica meditando quando é indagado sobre quilombos. Fala sobre o da Vila de Marcos da Costa e o da serra de Santa Catarina, perto de Petrópolis.<br />E os capitães do mato iam lá ?<br />- Iam o que sinhô, então eles eram bestas? Eles se escondiam em barrancos, faziam emboscadas para as tropas, espalhavam armadilhas onde elas caiam.<br />O preto velho que comandava o quilombo Marcos da Costa, mesmo doente de cama dava ordens: “vai catar o milho, vai cuidar dos porcos. Eles tinham de tudo, campos de gado, plantação de milho”. João conheceu muito crioulo que fugiu para esse quilombo “onde tinha um santo que veio da África e era o padroeiro do lugar, foi trazido pela fazendeira D. Inês, da Fazenda da Glória”. Cansados de verem tanta “malvadeza dos brancos” com seus irmãos de cor, a ponto de preferirem suicidar-se a continuarem escravos, a fuga era uma forma de se libertarem. Em Pacobaíba viu chegar muitos negros e muita negra mina natural de Angola. Uns destinados às fazendas, outros eram anunciados no “Jornal do Comércio” do Rio de Janeiro pelos agentes de escravos para serem vendidos em praça pública. Esse jornal publicava desde 1827 todo o movimento de navios com saída e chegada no porto. Compra, venda, aluguel e fuga de escravos, aconselhando que chamassem a polícia para capturá-lo e oferecendo recompensas a quem o levasse ao seu dono. João afirmava que escutou muita história de negros jogados no mar durante a travessia da África para o Brasil, “pelos comandantes que não queriam ser apanhados em flagrante fazendo tráfico de escravos. Abriam o porão e pronto, todos os escravos morriam afogados ou eram comidos pelos tubarões”.<br />Os velhos falavam que era assim, coisa de gente muito ruim<br />“Diz o preto reprodutor que nunca leu jornal, nem no Império nem agora, pois é analfabeto”<br />“Guaraciaba ainda se lembra que a fazenda de Pedro II era ali em Mauá, perto do lugar conhecido por Ipiranga dos Remédios. Naquele tempo era católico, mas gostava de macumba. Hoje é Batista, vai aos cultos sábados e domingos”.<br />Faz algum tempo, trabalhava no transporte de bananas com uma carroça e uma égua de sua propriedade, depois, passou a emprestar o animal ao compadre carroceiro para continuar o serviço, “por culpa de um reumatismo, principalmente no inverno, quando as dores aumentam”. Sobre os “feitores de escravos”, nem gostava de relembrar. Falava sobre a maldade e tortura contra os negros, crianças, mulheres e homens, amarrados no tronco e açoitados. Outros feridos a bala pelos senhores que experimentavam armas ou exercitavam a pontaria.<br />- O pior fazendeiro que conheci foi Antônio Nicolino, um homão de quase três metros de altura que comprava 100 escravos de três em três anos. Com três anos de trabalho a negrada estava arrebentada de tanta surra. Aí ele mandava comprar aguarrás, fazia uma fogueira e matava aqueles mais fracos.<br />- Eles pagavam os réis (impostos), e eram donos dos negros. Mas Deus é justo e Nicolino morreu pobrezinho e ninguém chorou (aí Guaraciaba fala sorrindo) por que todo mundo odiava ele.<br />Nesse tempo João era rapazinho e esses crimes foram testemunhados na Fazenda do Morro Seco, em Vassouras, propriedade de Nicolino.<br />- Tinha escravo que também era capataz e se juntava com os brancos para bater nos pretos, cercavam a negrada na mata e mandavam bala. Nhô não sabe, mais tinha fazendeiro que se desconfiasse que algum escravo roubou, matava, que era pru mode de não panhar costume.<br />O velho Guaraciaba está cansado de falar e pára para tomar o café, servido na casa dos compadres onde concedeu essa entrevista. Bebe de um só gole e estala a língua. Perguntado se nunca teve mulheres firmes com quem viveu, diz que sim, a Maria Olina, a Maria Madalena e a Olícia Maria do Carmo, esta com quem, teve uma filha agora com 33 anos, Laura, que mora em Nova Iguaçu, casada com um comerciante português.<br />“Os moradores de Mauá sabem de sua última mulher, Maria Olícia, que ele diz ser a mãe de Laura, morreu há três anos, com 50 anos. Aí o velho ficou mesmo só, dando suas caminhadas, mas ainda com vontade de caçar negas por aí”.<br />Acordava de manhãzinha com o cantar dos galos e dormia às oito da noite. Só sabia das horas orientando pelo sol. Não tinha relógio. Perguntado se gostaria de conhecer Angola, país onde nasceu, disse que “gostaria, mas só se fosse de navio”, pois “acho bonito o mar”. São quatro horas da tarde e o velho Guaraciaba quer ir embora pra casa, “hoje não foi almoçar com seus outros companheiros crentes, comeu arroz, feijão e peixe aqui mesmo na casa do compadre Jorge Carroceiro. Quer ir descansar”. Aceita uma carona. Está chovendo e a tarde vai antecipando a noite. Indica a estreita estrada de barro rasgada no mato, que João conhece bem, levando a um pequeno barraco de estuque com quintalzinho nos fundos, onde uma bananeira ao lado da porta tomba com o peso do cacho. Ao saltar do carro gemeu, ao botar a perna direita das oito picadas de cobras e pisar no chão com lama que agarra nos sapatos. Casebre acolhedor, mas que ele desejava melhor, pois nem porta firme tem, embora não se preocupe com ladrões, não há ali nada para roubar.<br />“Ficaram de me dar uma casa, mas acho que estão esperando eu morrer, diz brincando com um sorriso, pitando seu cachimbo de barro deixando um cheiro de fumo no ar. Na sua pureza ainda acredita em almas do outro mundo, rezando muito para elas não aparecerem em sua vida, principalmente quando vai a Piabetá a pé, sozinho pela estrada, chegando lá ao anoitecer”.<br />Dentro do barraco somente uma velha cama com colchão de palha forrada com trapos e algumas panelas sobre um armário. Seus bens mais preciosos cabiam dentro de uma lata vazia de leite em pó. Ali eram guardados a certidão de nascimento e um folheto evangélico, nada mais. “Quando quiser escrever uma carta (e pretende pedir uma casa ao Governo), recorrerá à dona Maria e ao seu Miguel, os compadres crentes”.<br />- O senhor sabe o nome atual do Presidente da República?<br />- Não sinhô.<br />- Quais o que o senhor se lembra?<br />- O Hermes da Fonseca, o Floriano Peixoto.<br />“Para ele o mundo era ali. O radio da vizinha irradia ao longe o jogo Fluminense e Olaria transmitido do Maracanã. Um avião quadrimotor passa baixo em direção ao Galeão. Vem de longe também música no rádio, ouvindo-se Jards Macalé cantando “Hei Cantareira” de Jackson do Pandeiro”.<br />Ali, naquele fim de mundo “Guaraciaba não tem luz, gás, telefone, campainha, porteiros, síndicos, cobradores, talvez nunca tenha sido recenseado pelo IBGE, os Correios não sabem seu endereço. Mas dorme com canto de grilos nos matos, olhando as estrelas nos céus das noites limpas sem poluição”. Na chegada da noite chuvosa, despediu-se dos repórteres desejando boa viagem e perguntando se sabiam seguir pela estrada até Magé. Agradecidos, eles prometeram voltar para atender o seu pedido:<br />- Trais uns agasaios pra mim, viu? Aqui faz muito frio.<br /><br /><strong>* POSFÁCIO<br /></strong>Reconstruí essa História seguindo as pegadas do repórter Luiz Carlos de Souza e o fotógrafo U. Dettmar do Rio de Janeiro, que numa manhã chuvosa de sábado, dia 7 de junho de 1975, chegaram à Guia de Pacobaíba, Mauá, Distrito de Magé, em busca de João Antônio Guaraciaba, ex-reprodutor de escravos, para ouvirem seu depoimento.<br />Publicado na mesma época em forma de reportagem, na revista “Livro de Cabeceira do Homem” pela Editora Civilização Brasileira, e hoje perdida na poeira do tempo, procurei reescrevê-la resumindo o extenso texto, numa tentativa de resgatar das cinzas do esquecimento, um pedaço vivo e cruel da escravidão, ressuscitado da memória desse interessante personagem, e integrando-o na Historia da Baixada Fluminense. </span></em><br /><em><span style="font-family:arial;">Guilherme Peres (Pesquisador e diretor do IPAHB - Instituto de Pesquisas Aplicadas e Histórias da Baixada Fluminense)</span></em>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-1145969402940799632006-04-25T09:37:00.000-03:002006-04-25T10:10:33.810-03:00ESTRADA DE FERRO RIO D'OURO, GARANTIA DE ÁGUA PARA O RIO DE JANEIRO (Colunas 163 e 164)<span style="font-family:arial;">►A Estrada de Ferro Rio D'Ouro começou a ser construída em 1876, para o transporte dos tubos de ferro e demais materiais, que completaram as obras de construção das redes de abastecimento d'água, asseguradas por um contrato assinado e dirigido pelo Dr. Paulo de Frontin, obrigando-a fornecer o precioso líquido no prazo de seis dias à Cidade do Rio de Janeiro. Somente em 1883, em caráter provisório, começaram a circular os primeiros trens de passageiros que partiam do Caju em direção à represa Rio D'Ouro. A Baixada Fluminense seria mais tarde dividida em três sub-ramais: Ramal de São Pedro, hoje Jaceruba; ramal de Tinguá, que se iniciava em Cava (Estação José Bulhões); e o ramal de Xerém, partindo do Brejo, hoje Belford Roxo.<br /><br />Em 1896, época que os trens de passageiros passaram a circular com melhor regularidade partindo do Caju, atravessavam a rua Bela, Benfica etc. até passar por Irajá em direção à Pavuna. Nesta estação, última parada antes de adentrar a Baixada, vê-se o antigo canal onde ficava o porto rodeado de trapiches outrora pertencentes ao Comendador Tavares Guerra. Próximo a ele, uma estátua em ferro de mulher oferecia água aos passantes por uma cornucópia, chamada de "Bica da mulata".<br /><br />Nas terras de Meriti, os trilhos foram assentados sobre a antiga "Estrada da Polícia", que partindo da Pavuna, iam encontrar-se com as terras de "Iguassú", em continuação à estrada que, vindo da Corte, finalizava no Rio Preto. A próxima estação é Vila Rosaly, que substituiu a "Parada Alcântara", e homenageou a esposa do Dr. Rubens Farrula, iniciativa da Empresa Territorial Lar Econômico, loteando as terras denominadas "Morro da Botica" ou dos "Barbados", em referência aos pastores israelitas que residiam próximo ao cemitério dessa comunidade e usavam barbas longas.<br />Coelho da Rocha - recebeu o nome do proprietário dessas terras, Manoel José Coelho da Rocha, que as cedeu para a passagem dos trilhos e colocação dos dutos, lutando posteriormente para sua transformação em transporte de passageiros. Seu neto Almerindo Coelho da Rocha, herdeiro do que sobrou da antiga fazenda criada por Cristóvão Mendes Leitão em 1739, desfez-se dela, vendendo-a para loteamento.<br /><strong>Belford Roxo</strong> - Antiga fazenda do Brejo e anteriormente, Calhamaço, lembrando o antigo canal do calhamaço aberto pelo Visconde de Barbacena (seu antigo proprietário), e que formava um braço do Rio Sarapuy. Sua estação recebeu este nome em homenagem a Raimundo Teixeira Belford Roxo, chefe da 1ª divisão da inspetoria de águas. Havia em frente a esta estação um artístico chafariz de ferro jorrando água, que o povo denominou de "Bica da Mulata", cuja figura mitológica de uma mulher branca sobraçando uma cornucópia oferecia aos passantes o líquido precioso, que a oxidação do ferro transformou em "mulata". Cópia da estátua existente na Pavuna.<br /><strong>Areia Branca</strong> - Como o nome sugere esta parada era cercada de extenso areal.<br /><strong>Heliópolis</strong> - Hélios = sol; polis = cidade, ou cidade do sol. Denominação de uma antiga cidade do Egito cujos habitantes adoravam o Deus Rá.<br /><strong>Itaipu</strong> - Ita = pedra; ipú = onde a água faz ruído, do Tupi-guarani, onde a água estronda.<br /><strong>Retiro</strong> - Nome do rio que esta ferrovia transpunha (Atual: Miguel Couto).<br /><strong>Figueira</strong> - Nome do proprietário das terras em que foram assentados os trilhos.<br /><strong>José Bulhões</strong> - Também proprietário da localidade pertencente à povoação de Cava, início de outro ramal com destino a Tinguá.<br /><strong>Cachoeira</strong> - Em suas terras corriam volumosas águas que desciam da Serra do Comércio, compostas dos rios Sabino e Boa Vista, servindo às adutoras do São Pedro.<br /><strong>Paineira</strong> - Homenageia uma árvore abundante no Sudeste, da família das malváceas (Atual: Adrianópolis).<br /><strong>Rio do Ouro</strong> - Faz jus ao rio do mesmo nome que corre pouco além de sua estação.<br /><strong>Santo Antônio</strong> - Neste trecho, a linha atravessava as terras da fazenda da Limeira, pertencentes à Finnie, Irmãos & Cia., e corria sobre três pontilhões.<br /><strong>Saudade</strong> - Parada que assimilou o nome de antiga fazenda da região ainda dos tempos das sesmarias, pertencente a uma família portuguesa.<br /><strong>São Pedro</strong> - Era o ponto final da linha deste ramal situada na base da serra do Couto. Os trilhos, porém, prosseguiam para o caso de manutenção até atravessarem os córregos Maria da Penha, Jequitibá e o Rio São Pedro, chegando à casa do administrador, limites do morgadio de Matto Grosso e nas vizinhanças das terras do Marquês de São João Marcos, Pedro Dias Paes Leme, descendente de Fernão Dias, o caçador de esmeraldas (Atual: Jaceruba).<br />Sub-ramal do Tinguá:<br /><strong>José Bulhões</strong> - Início dos trilhos que partiam em direção Norte em busca da raiz da serra do Tinguá.<br /><strong>São Bernardino</strong> - Situada em terras da fazenda São Bernardino, pertencente a Jacintho Manoel de Souza e Mello, um dos opulentos comerciantes da Vila de Iguassú, com a firma Soares & Mello, onde se vê sua bela casa assobradada em uma elevação do terreno e sinalizada por um caminho que, partindo da estação e ladeado por uma alameda de palmeiras imperiais, ia terminar à entrada principal deste palacete.<br /><strong>Iguassú</strong> - Sinalizava a região da antiga Vila de Iguassú. Com uma estrada perpendicular à linha, encontrar-se-ia esta antiga sede do Município e um dos portos fluviais mais notáveis da então Província do Rio de Janeiro.<br /><strong>Barreira</strong> - Próximo a esta parada, os trilhos cortam um morro argiloso, justificando seu nome. Aqui foram instaladas nos anos 30 as "granjas da Conceição" que dividiram uma área de 200 alqueires em lotes para chácaras e sítios.<br /><strong>Tinguá</strong> - Fim de linha na velha estação de passageiros. Situada à margem esquerda da serra velha, entretanto, seus trilhos continuavam para a direita na extensão de 6 km, até a represa do Bacuburú.<br />Sub-ramal do Mantiquira :<br /><strong>Belford Roxo</strong> - Partindo desta estação em direção Nordeste, a linha transpõe o Rio Botas e atinge a garganta do Manuel Ignácio, cujo nome se refere a Manoel Ignácio de Andrade Souto Maior Pinto Coelho, Márquez de Itanhaém, senhor do morgadio de Matto Grosso, cujas terras pertenceram ao Brigadeiro Francisco de Paula de Bulhões Sayão. Assim como a Fazenda Monte Alegre, que entre seus herdeiros, contava com D. Alice Sayão, casada com o Dr. João de Carvalho Araújo, que viria a ser diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil.<br />Aurora - Nome também de uma velha fazenda que existiu na região, cortada pelos Rios Sayão, Botas e o Rio Baby.<br /><strong>Baby</strong> - Nome da parada, herdado do rio que era atravessado um pouco antes.<br />Parada 43 - Era antiga posição quilométrica da parada a contar do Caju (42.408m).<br />Lamarão - Do radical de "lama", significa a lagoa formada pelas chuvas nas depressões do terreno.<br /><strong>Mantiquira ou Mantiqueira</strong> - Antiga "João Pinto". Deu-lhe o nome o rio em cujo vale estende-se a linha que se dirige às represas do Galrão. É a estação de entroncamento da linha do Xerém. Está situada na velha Fazenda da Posse, pertencente à família Pereira de Sampaio. Dos mananciais que abasteciam o Rio de Janeiro é o Mantiquira o que contribuía com maior volume de água.<br /><strong>Galrão</strong> - Parada e fim da linha situada na antiga fazenda do Cônego Galrão, comprada pelo Governo em 1886 ao seu então proprietário Manuel Ubelhart Lengruber.<br /><strong>Mantiquira a João Pinto</strong> - Outro ramal partindo da Mantiquira tomava rumo Norte e passava por Piedade. Pequena parada, após transpor 8 bueiros até chegar em Xerém.<br /><strong>Xerém</strong> - Situada na povoação que constituiu a sede do 6º distrito do Pilar, no Município de Nova Iguaçu, tem seu nome originado no antigo proprietário dessas terras, o inglês John Charing, que desde 1725, estava ocupado em alugar barcos para transporte, através do Rio do Couto (ou Pilar), na passagem do Caminho do Ouro. Convivendo com escravos e pessoas de pouca instrução, teve seu nome modificado para Cherem e, posteriormente, definindo sua corruptela em Xerém.<br /><strong>João Pinto</strong> - Final da linha deste sub-ramal junto à represa para a captação das águas do rio do mesmo nome.<br /><strong>Registro</strong> - este sub-ramal partia de Xerém em direção às represas do Covã, Itapicú, Paraíso, Alfa e Perpétua. </span><br /><span style="font-family:arial;">(<strong><em>Guilherme Peres</em></strong>, historiador e pesquisador do Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada Fluminense-IPAHB)<br /><br /><span style="font-size:85%;">Bibliografia:<br />BARROS, Ney Alberto Gonçalves, "Estrada de Ferro Rio D'Ouro", Apostila, 1999, RJ; SANTOS, Noronha, "Meios de transporte no Rio de Janeiro", Biblioteca Carioca,1996, RJ; VASCONCELOS, Max, "Vias Brasileiras de Comunicação", Imprensa Nacional, 1935, RJ.<br /></span><br /><em><span style="font-size:85%;">(Publicada em "O MUNICIPAL", Edição Nº 9064, de 14 A 28-04-2006, pg. 5. CONCEPÇÃO: ALBERTO MARQUES E JOSUÉ CARDOSO)</span></em></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-1144458754757874562006-04-07T22:08:00.000-03:002006-04-10T09:59:48.216-03:00ESTRADA DE FERRO LEOPOLDINA FOI O CAMINHO DO PROGRESSO DE CAXIAS (Coluna 162)<div align="left"><span style="font-family:arial;"><em>►A “Estrada de Ferro Leopoldina Railway”, concessionária da The Rio de Janeiro Northern Railway Company - cujo primeiro nome é uma homenagem à princesa D. Leopoldina, foi a primeira concessão para uma estrada de Ferro que, partindo diretamente da cidade do Rio de Janeiro, alcançasse a região serrana de Petrópolis. Concedido em 4 de novembro de 1882, pelo decreto nº 8725 a favor de Alípio Luis Pereira da Silva, com privilégios durante setenta anos, tendo sido seus estudos aprovados em 15 de setembro de 1883. A 28 de fevereiro de 1884 iniciou-se o trabalho para assentamento dos trilhos, o que levaria dois anos, até sua chegada em Meriti (atual Duque de Caxias), em 23 de abril de 1886. Partindo da sua estação inicial em São Francisco Xavier, seguia em direção às outras: Triagem, Bonsucesso, Penha e Meriti. Os outros pontos do percurso eram simples parada: Benfica, Amorim, Ramos, Olaria, Brás de Pina, Cordovil e Vigário Geral.<br />O prof. Rogério Torres, em recente crônica, comentando a entrevista do antigo morador José Luiz Machado (Machadinho) publicado no jornal “Tópico” em 1958, quando da chegada desta ferrovia ao vale do Meriti, assim registra: </em>“Nessa Meriti, de população rala e devastada pela malária, quatro famílias se destacavam, por serem donas de engenho no local; eram elas: a do capitão Luís Antônio dos Santos (Lulu dos Santos), dona da fazenda do Pau-Ferro, no Parque Beira-Mar; a do coronel Macieira, proprietário da fazenda do Engenho Velho, no 25 de Agosto; a de Antônio Tomé Q. Menezes, da fazenda da Vassoura, no Gramacho; e a de Antônio Telles Bittencourt, da fazenda Vassourinha, no Parque Lafaiete”.<br /><em>Machadinho também descreve os primeiros caminhos que atravessavam a região:</em> “A rigor, não havia ruas em Meriti, apenas precários caminhos. As principais vias eram a Estrada da Freguesia Velha, atual Avenida Nilo Peçanha, que ligava Meriti a Quibandê (São João de Meriti); Estrada da Covanca, que começava na Estrada da Freguesia Velha e terminava no Porto da Chacrinha, atualmente constituída pela Rua Mauriza e Estrada da Várzea; Estrada do Sarapuí-Pequeno, atual Avenida Duque de Caxias; Estrada do Engenho, ligando o Porto do Engenho à fazenda do Pau-Ferro, hoje Avenida Presidente Vargas; Estrada do Pau-Ferro, que ligava a Estrada do Sarapuí-Pequeno ao Caminho da Trairaponga, depois de passar pela Jaqueira (Centenário) até a Chacrinha”.<br /><em>Antes de 1897, quatro trens trafegavam diariamente, na única linha que até então existia, com desvios: em Bonsucesso, Penha e na Parada de Lucas. Em Meriti, as obras da construção da ferrovia exigiram extensos aterros, dificultando a drenagem de uma região pantanosa, onde florescia a tabôa, fonte de renda de uma população escassa que se limitava a extraí-la para confecção de esteira e lenha para fabricação de carvão, transportando-os para a capital, aproveitando o deslocamento rápido da nova ferrovia. Os trabalhos continuaram com a extensão da ferrovia até o entroncamento da sua linha em Inhomirim, principal tronco para a subida da serra em conjunto com a Companhia Estrada de Ferro Príncipe do Grão Pará, que partia do Porto de Mauá até sua chegada em Petrópolis.<br />Saneamento - No principio do século XX, Meriti (Caxias) era um abandono completo. As obras de saneamento iniciadas com a República nunca foram continuadas. No governo Nilo Peçanha, verificaram-se alguns ensaios, abandonados na gestão Hermes da Fonseca. Esta região de charcos e pantanais estava entregue aos focos de malária, que o mosquito anofelino teimava em contaminar. Até que em 1933 foi criada a Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense, subordinada ao Departamento de Portos e Navegação do Ministério da Viação e Obras Públicas, dirigido pelo engenheiro Hildebrando de Góis. Com o dessecamento do solo e desobstrução dos rios, obras que se arrastaram até o final desta década, sob a direção do DNOS - Departamento Nacional de Obras de Saneamento, deixaram a Baixada pronta para receber sua ocupação através dos loteamentos.<br />Nos anos seguintes, a região começou a sentir os efeitos da expansão urbana: </em>“O primeiro loteamento feito em Meriti foi realizado pelo engenheiro Abel Furquim Mendes, que em 1918 dividiu uma área ao longo da via férrea, entre as ruas Pinto Soares e Manoel Reis. Estes lotes foram oferecidos a cinqüenta mil réis cada. Entretanto, a venda foi um fracasso”.<br /><em>Em 1922, começariam a surgir loteamentos que dariam origem a alguns bairros. O primeiro foi a Vila Centenário, de propriedade de D. Francisca Tomé, no local do antigo sítio da Jaqueira. A seguir, veio o loteamento da Vila Itamarati, de propriedade de Antônio Gonçalves Ferreira Neto, que hoje constitui o bairro Itatiaia. O terceiro loteamento foi o do Parque Lafaiete. A primeira rua calçada foi a José Alvarenga, que na época se chamava Rua do Ingá, devido à presença de um frondoso ingazeiro nas imediações. Em 1911, já funcionavam as estações de Gramacho, São Bento, Campos Elíseos, Primavera, Saracuruna e Parada Angélica.<br />O nome de Merity continuava denominando a estação local, apesar da população passar a chamar-lhe Duque de Caxias, por haver sido descoberto nesta região, o local de nascimento do herói nacional, localizado na fazenda São Paulo, bairro da Taquara. Liderado pelo Dr. Manoel Reis, influente político em “Iguassú”, município ao qual pertencia Merity, foi feito em 1932 um “abaixo-assinado” ao então interventor do estado Dr. Plínio Casado, pedindo “a troca das tabuletas” da antiga estação. O Correio de Iguassú, “vanguardeiro das grandes causas”, assim registrou o “grandioso” evento no dia 22 de maio de 1932. “Apesar de oficializada a nova designação, o nome de Merity continuava no alto da Estação local, causando a mais justa estranheza”. Procurando corrigir essa verdadeira anomalia, o Sr. Jayme Fischer Gambôa entrou em entendimento com os diretores da Companhia, não lhe sendo difícil conseguir aquiescência imediata para a mudança da referida tabuleta. (Guilherme Peres, pesquisador e membro do IPAHB)<br /><br /></em><span style="font-size:85%;"><em><strong>Bibliografia</strong>: GOULART (Sílvio, “Correio de Iguassu” nº 59, Nova Iguassu, 1932, RJ),<br />SANTOS (Noronha, “Meios de transporte no Rio de Janeiro”, Biblioteca Carioca, 1996, RJ) e<br />TORRES (Rogério, “As histórias de machadinho”, Revista Caxias Magazine nº 175, Duque de Caxias,2000, RJ)</em></span></span></div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-1143807458958562062006-03-31T09:10:00.000-03:002006-03-31T09:20:45.376-03:00VOCÊ CONHECE O DISTRITO DE XERÉM? (Coluna 161)<div align="center"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/3349/1732/1600/PEDA??OS"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/3349/1732/320/PEDA%3F%3FOS%20161%20Ru%3F%3Fnas%20Igreja%20Velha%20Xer%3F%3Fm%20%28blog%29.jpg" border="0" /></a><em><strong><span style="font-size:85%;"> Ruínas da Igreja Velha de Xerém – Capela de Santa Rita da Posse, fundada em 1766, em propriedade do Capitão-Mor Francisco Gomes Ribeiro, senhor da Fazenda e do Engenho da Posse e também administrador do Oratório de Santo Antônio da Posse</span></strong></em></div><br /><span style="font-family:arial;">► Contestando a definição do "Aurélio" para a origem de Xerém, os pesquisadores Armando Valente e Nélio Menezes (este, já falecido), garantem que a origem do topônimo que identifica o Quarto Distrito de Duque de Caxias não passa de uma corruptela aportuguesada do nome do barqueiro inglês Jonh Charing (cuja pronúncia é "Xérim"), que, nos idos do Século XVII fazia transporte em seus barcos do porto do Pilar para o interior da região, em direção ao Sítio do Couto, na divisa com o hoje município de Petrópolis. Segundo o "Aurélio", o topônimo Xerém seria derivado do produto conhecido popularmente como "Xerém" ou canjiquinha, resultado do esmagamento incompleto do milho, muito utilizado na culinária nordestina e na alimentação de aves recém-nascidas, Segundo os pesquisadores Armando Valente e Nélio Menezes, em trabalho publicado no Guia de Xerém (http://www.guiaxerem.com.br/), desde a descoberta do Brasil os colonizadores portugueses tinham dificuldade de atravessar o paredão rochoso da Serra da Estrela, o que só foi conseguido quando, em fins de 1,669 e a partir do interior do Vale, foi aberto um novo Caminho das Gerais, que terminava no porto do Pilar.</span><br /><span style="font-family:arial;"><br />"A natureza pujante e hostil que impedia a penetração de aventureiros, foi vencida, não por esforço dos nossos, de baixo para cima, mas sim, pela intrepidez do paulista Garcia Rodrigues Pais, filho do legendário caçador de esmeraldas Fernão Dias Pais. A custa de seus próprios recursos, com grandes sacrifícios e perdas de muitos escravos, o bandeirante abriu uma picada de cima para baixo, vindo com sua gente de Paraíba do Sul, em fins de 1669, mais ou menos em linha reta, até a freguesia do Pilar. (Armando Valente e Nélio Menezes)<br /><br />Com a abertura do "Caminho Novo das Gerais", em substituição ao Caminho Velho (que começava em Paraty e era alvo dos piratas que circulava pela costa brasileira) a região entre o Pilar e os contrafortes da Serra do Mar ganhou um novo status, com a colonização das áreas às margens dos rios que cortam a região, o que exigia canoas mais rápidas e de maior porte. É quando entra em cena o piloto de barcos londrino John Charing, um dos primeiros súditos da Coroa Inglesa a se fixarem no Brasil. Com a sua experiência em transporte marítimo, o novo morador da região logo percebeu que, com a quantidade de rios que ali havia, o futuro apontava para o transporte em barcos, mais rápidos e eficientes que o lombo de mulas e burros, muito utilizados pelos colonizadores para vencerem a Serra do Mar em direção ao Vale do Paraíba.<br /><br />Com apoio da Corte, logo John Charing era dono de uma frota de velozes barcos, que transportavam até o porto do Pilar ou do Rio de Janeiro (atual Praça XV de Novembro) tudo que era produzido na região, como café, açúcar, cachaça, feijão, cerâmica e farinha. Com o passar dos tempos, a população da região, que não conhecia nem falava Inglês, começou a mudar a pronúncia do nome do barqueiro, que logo foi rebatizado de João Cherém. Com as mudanças ortográficas de meados do Século XX, chegamos à atual grafia de Xerém. "Mais seguras, eficientes e rápidas do que as outras, as canoas de Charing eram as preferidas do público, todos queriam viajar com ele. O tempo foi correndo e seu nome foi se associando indelevelmente, não só ao trajeto que fazia, mas, também, ao local para onde a cada viagem se dirigia”.<br /><br />Por vontade popular e a tradição oral, estava assim batizado com o nome do barqueiro inglês, o rio e todo o pé de serra que o cercava. Convivendo com escravos e mais pessoas, em sua maioria, de pouca ou nenhuma instrução, Charing teve seu nome corrompido para Chérem, e posteriormente corrigido pela ortografia oficial para Xerém. João Xerém casou-se duas vezes e deixou o primeiro matrimônio com larga descendência. Muitos dos seus netos nasceram na Freguesia do Pilar" (obra citada)<br /><br />Xerém entrou definitivamente no mapa econômico do País no final da II Guerra Mundial, com a instalação de uma empresa para fazer revisão dos motores de avião, uma área de transporte que se desenvolveu muito a partir da transformação do invento de Santos Dumont em arma de guerra. Com a derrota do trio Itália-Alemanha-Japão, em maior de 1945, a fábrica de Xerém foi adaptada para a produção de caminhões sob licença da italiana "Alfa Romeo", dali saindo os veículos que, nos anos 60, dominavam o transporte rodoviário nacional, ganhando do povo o apelido de "João Bobo", pois era um veículo lento para os padrões de hoje, mas o único capaz de vencer as "rieiras" e atoleiros da velha Rio-Bahia e de outras estradas que demandam o interior do País. Nos anos 70, a fábrica foi vendida à Fiat, que logo desativou a sua linha de produção, de onde também saiam os automóveis "Alfa Romeo", que aqui ganharam um novo título, "JK", em homenagem ao homem que construiu Brasília.<br /><br /><em><span style="font-size:85%;">(Publicada em "O MUNICIPAL", Edição Nº 9062, 24-03 a 07-04-2006, pg. </span></em><br /><em><span style="font-size:85%;">CONCEPÇÃO: ALBERTO MARQUES E JOSUÉ CARDOSO. FOTO: TÂNIA AMARO)</span></em></span><br /></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-1142625994477582282006-03-17T16:59:00.000-03:002006-04-04T16:08:10.483-03:00DO Nº 311 À DELEGACIA LEGAL, VIOLÊNCIA E IMPUNIDADE (Coluna 160)<span style="font-family:arial;">► Editado no início dos anos 40, em pleno Estado Novo, o Código Penal tinha, entre seus objetivos não confessados, punir rigorosamente três tipos de criminosos: pretos, pobres e prostitutas. No Estado do Rio, sob o comando do Interventor, o Comandante. Ernani do Amaral Peixoto, genro de Vargas (nepotismo descarado e deslavado), as Subdelegacias de Policia eram cargos muito disputados, embora não fossem remunerados. Através deles, os políticos ligados ao Governo colocavam nos "seus devidos lugares" os cabos eleitorais dos adversários.<br />Em Duque de Caxias, Distrito emancipado de Nova Iguaçu, a Sub-delegacia foi erigida à condição de Delegacia, com direito a delegado e meia dúzias de soldados da Polícia Militar, os conhecidos "meganhas". Localizada no nº 311 da Avenida Plínio Casado, em frente à Estação ferroviária, a Delegacia era abastecida com a água de um poço, que o ex-repórter de polícia, colunista social e delegado Silbert dos Santos Lemos, já falecido, no livro "Sangue no 311", denunciou que ali era um "sumidouro" onde eram jogados os presos com diversas passagens pelos xadrezes infectos da tal Delegacia, isto é, os Delegados consideravam esses presos como "irrecuperáveis". Santos Lemos confessou, inclusive, que dera o tiro de misericórdia num marginal, que estivera preso na 59ª DP, execução comandada pelo delegado Amyl Rechaid e realizada na subida da estrada para Petrópolis.<br /></span><span style="font-family:arial;"><br /><span style="font-family:arial;">Ocorre que a mobilidade social criou nova categoria social, a dos novos ricos, aqueles que, por um golpe de sorte, por competência ou esperteza, conseguiam ganhar dinheiro e, com ele, buscavam projeção social. Desse grupo participavam os "banqueiros do bicho", os donos de hotéis que exploravam o lenocínio, os donos de fábricas de bebidas que sonegavam e fraudavam o Imposto de Consumo, os donos de mercadinhos que vendiam feijão, arroz e açúcar no chamado "câmbio negro", os pecuaristas que adicionavam água ao leite e os donos de lotação, entre outras categorias menos importantes.<br /><br />A partir da construção de Brasília, com o golpe do "caminhão no cavalete", um engenhoso truque para fraudar a fatura sobre transporte e que foi revelado pela minissérie "JK", os novos ricos começaram a diversificar as suas atividades "empresariais" como contrabando, tráfico de armas, de drogas e de influência e, mais recentemente, fraudes contra a Previdência Social e o SUS. Como era de se esperar, a taxa de descaramento nacional aumentou mais do que a inflação e os "novos ricos" passaram a debochar dos "manés", pessoas comuns como a imensa maioria do povo brasileiro que insiste em registrar suas empresas sem apelar para os famosos "laranjas", assinar as carteiras dos seus empregados, recolher as contribuições ao INSS, PIS/PASEP, pagar o Imposto de Renda devido, entre outras obrigações do Cidadão de Bem!<br /><br />A concorrência predatória dos "piratas" e "laranjas" acabaram levando alguns setores do empresariado e da sociedade civil a denunciarem os golpes contra o Patrimônio Público e, a partir de 88, com os novos poderes, o Ministério Público passou a investigar e abrir inquéritos sempre que alguma falcatrua era denunciada. Com isso, os homens de colarinhos impecavelmente brancos passaram a ser presos e, depois de algemados, jogados em camburões, como ocorreu com o deputado Jader Barbalho e com o ex-deputado Sérgio Naya. Nesse meio tempo, a Juíza Denise Frossard, com apoio do Ministério Público, rasgou o véu de proteção dos banqueiros do "jogo do bicho" e, com isso, foram parar na cadeia figuras até então consideradas intocáveis, como Castor de Andrade, Carlinhos Maracanã e outros integrantes da máfia do jogo do bicho.<br /><br />Rapidamente, nossos congressistas articularam janelas para impedir que as cadeias fossem dominadas pela "nova classe". A primeira foi criar a figura da prisão especial para quem tenha diploma universitário. Com a proliferação das Faculdades de fins de semana, não foi difícil para muitos marginais conseguirem o "canudo". Também foi criada a figura do cidadão com endereço conhecido, atividade econômica permanente para que tivesse direito a responder a processo em liberdade até condenação final. Mais uma vez a população que mora no "porão da sociedade" ficou de fora desses privilégios! Uma mulher que more numa favela e trabalhe como diarista, se for presa pelo furto de uma lata de leite num supermercado ou pelo seqüestro de um bebê, aguardará na cadeia até o final do processo. Afinal, quem mora em favela não "tem bons antecedentes", nem endereço fixo e diarista não tem carteira assinada. Já o garotão, que mora numa cobertura na Barra ou no Jaraguá (SP) e faz tráfico de drogas (o chamado "comércio exterior"), se for preso, logo terá a prisão relaxada, pois ele dirá que os 500 quilos de drogas em seu poder eram para "consumo próprio".<br /><br />Depois do frio assassinato da sua filha, por um colega de elenco da TV Globo, Gloria Perez liderou uma campanha nacional e conseguiu mais de 1,2 milhão de assinaturas para o primeiro projeto de lei de iniciativa popular, aquele que criou uma nova categoria de crimes: os chamados hediondos. No rastro da comoção nacional diante da tragédia pessoal de Gloria Peres, foram elencados diversos crimes, cujos autores não teriam direito, como antes, à progressão da pena a partir do cumprimento de um sexto ano da pena, isto é, quem fosse condenado a 30 anos de prisão, pena máxima no Brasil, não poderia mais ir para o regime da prisão albergue (apenas dormir na cadeia) a partir do cumprimento de apenas cinco anos. Agora, nem isso mais acontecerá, pois os ministros do Supremo Tribunal Federal, que impediram a quebra do sigilo dos abastecedores do valerioduto, acabam de decidir que a figura do crime hediondo é inconstitucional. Isto mesmo: falar em crime hediondo no Brasil é violar os direitos de criminosos, como aquele deputado que "passava na motosserra" quem se atrevesse a desafiá-lo!<br />Da mesma forma que nunca se investigou o "desaparecimento" de presos da Delegacia do tristemente famoso "311" de Caxias, também não se poderá esperar que fiquem na cadeia, por muitos anos, os grandes criminosos. Até os bens dos traficantes, apreendidos pela Polícia Federal, estão sendo devolvidos aos bandidos por ordem judicial! Que país é este.<br /></span><span style="font-size:0;"><br /><em><span style="font-size:85%;">(Publicado em "O MUNICIPAL", Edição nº 9061, de 17 a 24-03-2006, pg. 5.<br />CONCEPÇÃO: ALBERTO MARQUES E JOSUÉ CARDOSO. FOTO: REPRODUÇÃO)</span></em></span></span><br /></span></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-1142014293640925022006-03-10T15:09:00.000-03:002006-03-10T15:14:25.150-03:00OLGA TEIXEIRA, UMA HEROÍNA DA EDUCAÇÃO EM DUQUE DE CAXIAS (Final) (Coluna 159)<p><span style="font-family:arial;">► No Colégio Municipal Marechal Castelo Branco, em 1974, foram incrementadas as atividades esportivas, com a criação de times de Futebol de Salão, de Vôlei, de Handebol e de Queimada, tendo o "Castelo" sido vice-campeão no Torneio Municipal naquele mesmo ano. Em 1975 iniciaram-se obras de ampliação, que iriam ser concluídas em 1977. Boa parte dessas construções, ampliações, melhorias foram feitas com o que a Caixa Escolar arrecadava. Em 25 de outubro de 1976 foi incorporada à escola, uma área de 12.500 m², destinada à construção da quadra de esportes. Isso se deve à persistência da Professora Olga Teixeira em constante disputa com os vizinhos pela posse da área.</span></p><p><span style="font-family:arial;">Em 1977, foi completada a construção da ala nº 2, tendo também sido implantado o primeiro segmento do 1º grau, com cinco turmas, atendendo o mesmo nº de alunos de 1974. Em 1979, foi iniciada a construção de um Minicentro Esportivo, com três quadras polivalentes, vestiários masculino e feminino, refeitório e o Auditório, da nova cantina e uma sala para os professores de Educação Física e introduzido o atendimento aos portadores de necessidades especiais. Com isso, criam-se as primeiras turmas de deficientes auditivos do Município. </span></p><p><span style="font-family:arial;">Em 1980, o Colégio Municipal Marechal Castelo Branco sagrou-se Campeão dos Jogos Infantis de Duque de Caxias, competição promovida pelo Departamento de Esportes da Secretaria Municipal de Educação. Com essa conquista, vários alunos, que se dedicavam ao atletismo, foram encaminhados (convidados) para fazer parte de equipes como: Universidade Gama Filho, Clube de Regatas Vasco da Gama, Fundação Roberto Marinho. Neste mesmo ano, tivemos a participação do VIMA - Vigilantes do Meio Ambiente, no desfile cívico de 25 de agosto, uma atenção pedagógica voltada para o meio ambiente, o que já demonstrava, à época, a preocupação com a ecologia, preparando jovens para a preservação do meio ambiente, preocupação esta prioritária nos dias de hoje.</span></p><p><span style="font-family:arial;">Apesar do sucesso do "Castelo Branco" tanto na parte da educação formal, quando na esportiva, a sua manutenção deixou de ser, com raras exceções, prioritária para os prefeitos nomeados a partir de julho de 1971. Com isso, reduziam-se os recursos orçamentários para investimentos na melhoria das instalações, equipamentos e projetos do colégio, culminando com a proibição de cobrança da taxa de contribuição para a "Caixa Escolar", fundamental para a manutenção da unidade, face à secular "falta de verbas" orçamentárias.</span></p><p><span style="font-family:arial;">Em 7 de maio de 1990, aos 60 anos, a Professora Olga Teixeira de Oliveira veio a falecer, vítima de um atropelamento, na Av. Rio Branco, na cidade do Rio de Janeiro. Na ocasião, dois ex-alunos ocupavam postos de destaque na vida política do Município: o prefeito Hydekel Freitas e o Secretário de Agricultura, Getúlio Gonçalves. Encerrava-se, ali, uma brilhante carreira de 42 anos dedicados ao Magistério, que fizeram da professora Olga Teixeira de Oliveira uma figura querida e respeitada por alunos e colegas e um marco na Educação em Duque de Caxias.<br />Por decisão do prefeito Hydekel Freitas, o nome da escola foi trocado, passando a se chamar "Colégio Municipal Professora Olga Teixeira". No mesmo ato, o nome do Marechal Castelo Branco foi usado para batizar uma escola no bairro Santa Lúcia, no 3º Distrito.<br /><br /><strong><em><span style="font-size:85%;">(Publicado em "O MUNICIPAL", Edição Nº 9060, 10 a 17-03-2006, pg. 5. CONCEPÇÃO: ALBERTO MARQUES E JOSUÉ CARDOSO)</span></em></strong></span><br /></p>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-1140174848474958112006-02-17T09:08:00.000-02:002006-02-17T10:41:59.670-02:00OLGA TEIXEIRA, UMA HEROÍNA DA EDUCAÇÃO EM DUQUE DE CAXIAS (Parte 1) (Coluna 158)<p align="center"><a href="http://photos1.blogger.com/blogger/3349/1732/1600/Prof.%20Olga%20Teixeira%20e%20Dr.%20Moacyr%20do%20Carmo.1.jpg"><img style="WIDTH: 334px; CURSOR: hand; HEIGHT: 221px" height="203" alt="" src="http://photos1.blogger.com/blogger/3349/1732/200/Prof.%20Olga%20Teixeira%20e%20Dr.%20Moacyr%20do%20Carmo.0.jpg" width="364" border="0" /></a></p><div align="center"><span style="font-family:arial;"><em><strong>A professora Olga Teixeira (esqueda) e o Prefeito Moacyr do Carmo durante uma solenidade nos anos 60</strong></em></span></div><span style="font-family:arial;"></span><br /><span style="font-family:arial;">► Depois da criação do Colégio Municipal Aquino de Araújo, no final dos anos 50, pelo prefeito Francisco Correa, a Educação em Duque de Caxias passou por um momento de letargia até que, na segunda metade dos anos 60, uma feliz união de propósitos entre o prefeito Moacyr do Carmo e o governador Geremias de Mattos Fontes possibilitou que, através dos recursos do Salário Educação, Duque de Caxias recebesse mais de 35 Grupos Escolares, a maioria com 10 salas de aula, distribuídos, principalmente, pelos 2º e 3º Distritos, os mais carentes na época devido à distância entre os bairros mais populosos daqueles Distritos e o Centro da cidade. A multiplicação de escolas do então denominado Curso Primário pressionava, no entanto, as autoridades a criarem unidades voltadas para o Curso Ginasial. </span><br /><span style="font-family:arial;"><br />A partir de fevereiro de 1967, coube à Secretária de Educação Hilda do Carmo Siqueira a tarefa de melhorar a rede e ampliar o número de vagas nas escolas municipais. Em 9 de março de 1970, começou a funcionar no Parque Lafaiete um segundo Ginásio Municipal, para onde foram transferidas nada menos de 12 turmas do "Aquino de Araújo", sendo três da 4ª Série e nove da 3ª Série. No dia 30 daquele mês, o quadro foi completado com a transferência de mais seis turmas, totalizando 720 anos, distribuídos em dois turnos, manhã e tarde. Face às pressões das autoridades do Estado e do MEC, o prefeito Moacyr do Carmo decidiu dar à nova unidade de ensino o nome do Marechal Castelo Branco.<br /><br />A nova unidade surgia com algumas novidades em matéria de equipamentos, pois dispunha de uma biblioteca, formada por livros doados por donos de papelarias, além de uma sala de música, onde foi criado um Coral, e uma sala de Ciências. Fato notável para a época foi que as duas salas foram equipadas com recursos gerados pela "Caixa Escolar" mantida por contribuições de pais e alunos. A ajuda da Caixa Escolar também serviu para a compra de mapas, do mobiliário da sala dos professores, de vidros e persianas para as salas de aula e a montagem de uma cozinha, onde era preparada a merenda servida aos alunos.<br /><br />Fiel ao dito popular de que, "em casa de ferreiro, o espeto é de pau", a Escola Municipal Marechal Castelo Branco, embora funcionando desde 9 de março de 1970, só em 25 de maio daquele ano foi legalmente criada, através do Decreto nº 721, sendo oficialmente inaugurado em 23 de agosto daquele ano, já com uma brilhante apresentação do seu Coral. Para dirigir a nova unidade, a Secretária de Educação, professor Hilda do Carmo Siqueira, foi buscar a professora licenciada em Línguas Neo-Latinas (Português, Latim e Francês), Olga Teixeira de Oliveira, dona de um currículo invejável, com destacadas passagens pelos Colégios Santo Antonio, Duque de Caxias (Ely Combat) e Aquino de Araújo, do qual fora, inclusive, diretora.<br /><br />Em 1972, o Colégio já contava com 42 turmas, atendendo 1.764 alunos e um corpo docente de 96 professores, contra apenas 43 em 1970 e 81 em 1971. Em 1973, foram construídas mais duas salas de aula, para atender aos excedentes de um concurso de admissão dos mais concorridos da cidade, passando a funcionar, em 1974 com 48 turmas e 2200 alunos. A preocupação com o desenvolvimento do potencial artístico dos alunos era enorme, possuindo a escola, nesse ano um Coral, um Conjunto de Percussão, Banda Marcial, além de Grupos de Pintura e de Teatro As atividades desses grupos eram intensas, com apresentações em diversos eventos promovidos pelo Município.<br /><br /><em><span style="font-size:85%;"><strong>(Publicado em "O MUNICIPAL", Edição nº 9059, de 17-02 A 10-03-2006, pg. 5.<br />CONCEPÇÃO: ALBERTO MARQUES E JOSUÉ CARDOSO. FOTO: ACERVO DA ASSOCIAÇÃO DOS EX-ALUNOS DA ESCOLA MUNIPAL PROFESSORA OLGA TEIXEIRA DE OLIVEIRA</strong></span></em></span><br /></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-17996845.post-1139567323107431562006-02-10T08:26:00.000-02:002006-02-10T08:34:10.776-02:00HÁ 85 ANOS, CAXIAS INICIAVA UMA REVOLUÇÃO COM A ESCOLA "MATE COM ANGU" (Final) (Coluna 157)<p><span style="font-family:arial;">► A Escola Regional de Meriti era, em tudo, inovadora. Começou a funcionar sem Programas ou Projetos, servia almoço aos seus alunos, dispunha de uma biblioteca e montou o seu Museus de História Natural com material recolhido aqui e ali pelos próprios alunos e professores. Ganhou um projetor de cinema do professor Edgar Roquette Pinto, fundador da Rádio MEC, responsável pela primeira transmissão de rádio no País.<br /></span></p><p><span style="font-family:arial;">Na tese de doutorado da professora Ana Chrystina, para a UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sobre o papel das mulheres na Educação do País, foi destacado o fato da professora Armanda Álvaro Alberto ter sido, juntamente com Noemi da Silveira e Cecília Meirelles, as únicas mulheres signatárias do "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, assinado por outros 23 educadores, entre os quais Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Edgard Sussekind Mendonça, Roquette Pinto e Venâncio Filho. Datado de 1932, o documento fazia a defesa intransigente da escola pública, gratuita e de qualidade para todos, sem quotas e sem bolsas de estudos como hoje pretendem os "gênios" responsáveis pela Educação no País. </span></p><p><span style="font-family:arial;">- O Manifesto é visto como um marco da educação brasileira em favor da democratização do ensino. Ele é um dos documentos mais estudados do Brasil e, no entanto, ninguém se preocupou até agora em analisar o papel das mulheres - explica a professora Ana Chrystina em sua tese.<br />Depois de ganhar dos seus antigos proprietários o terreno onde funcionava, a "Escola Regional de Meriti" teve uma ajuda importante de um recém formado arquiteto: Lucio Costa, um dos criadores de Brasília. Foi dele o projeto da primeira sede da escola em alvenaria, que continua de pé, na Rua Deputado Romeiro Júnior, mais de 80 anos depois.<br /></p></span><p><span style="font-family:arial;">Infelizmente, em 1964, vendo que lhe falavam forças físicas para continuar a sua obra, a professora Armanda Álvaro Alberto tomou a difícil decisão de buscar uma entidade que, comungando os mesmos objetivos que sempre perseguira, pudesse dar continuidade ao seu trabalho. Depois de ver recusada a sua oferta de doação de todo o acervo da instituição por parte do Governo do Estado, ela optou por doá-la ao Instituto Central do Povo, uma instituição ligada a uma igreja evangélica norte-americana. Logo a professora perseguida por todas as Ditaduras que infelicitaram o País no Século XX, sempre com a acusação de que a professora era uma perigosa agente comunista! </span></p><p><span style="font-family:arial;">Hoje, dá pena ver a situação em que vive a Escola Armanda Álvaro Alberto, nos fundos da Catedral de Santo Antonio, mesmo local onde fora edificada nos anos 20, em traços do jovem arquiteto Lúcio Costa. Ali, nada lembra a efervescência em que vivia a escola, que tinha como padrinhos personalidades como Roquette Pinto, Tristão da Cunha (ou Alceu Amoroso Lima), Edgar Sussekind de Mendonça (marido e parceiro de idéias de Da. Armanda), Francisco Lourenço Filho, Belisário Pena, Albino Vaz Teixeira, Custódio Aquino, Francisco Barboza Leite, Martha Rossi e Anísio Teixeira. Hoje, ela é apenas mais uma escola da rede municipal, ministrando o Curso Fundamental nos moldes ditados pelos burocratas de Brasília. A idéia de uma escola viva e participativa, sonhada pela jovem professora que trocara o conforto da Zona Sul do Rio de Janeiro pelas ruas empoeiradas da Vila Meriti, ficou para traz. Pior para a nossa juventude!<br /><br /></span><em><strong><span style="font-family:arial;font-size:85%;">(Publicado em "O MUNICIPAL", Edição Nº 9058, de 3 a 17-02-2006, pg. 5.<br />CONCEPÇÃO: ALBERTO MARQUES E JOSUÉ CARDOSO</span></strong></em></p>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/16615171731564492522noreply@blogger.com1