Crônicas de conteúdo histórico-cultural sobre artistas, personalidades, políticos e acontecimentos em Duque de Caxias, RJ, projeto concebido pelos jornalistas Alberto Marques e Josué Cardoso.

domingo, dezembro 14, 2014

ARMANDA ÁLVARO ALBERTO E A ESCOLA REGIONAL DE MERITY                                                            Guilherme Peres

Naquela manhã do ano de 1920, uma locomotiva puxando alguns carros de passageiros envolvidos no vapor, parou na pequena estação de Merity, hoje Duque de Caxias. Dentre os poucos passageiros que desembarcaram estava uma jovem bem vestida, que olhava curiosa as casas aninhadas ao longo da via férrea. A visita seria breve. Seu pai, tenente da Marinha, Álvaro Alberto, a convidara para conhecer a fábrica de explosivos “Rupturita”, funcionando em uns barracões a poucas quadras afastada do centro, onde hoje se ergue o edifício “Giupponi”. 

Ao chegar àquele lugarejo, ficou sensibilizada com a população marginalizada que revoava em torno do pequeno comércio ali estabelecido. Crianças pedintes, jovens em andrajos, alcoólatras, mulheres e homens envelhecidos prematuramente no trabalho diário do corte de lenha para abastecer os balões de carvão que salpicavam ao longo da via férrea.

Armanda Álvaro Alberto, professora, 28 anos, nascida no Rio de Janeiro, filha de um médico, Dr. Álvaro Alberto, professor e homem de ciência, trazia uma experiência em 1919 na região de Angra dos Reis. Durante sua permanência ali, iniciou o ensino para cerca de 50 crianças, filhos de pescadores “para as quais não existiam escolas em toda a redondeza”, diz a própria D. Armanda, “adolescentes mesmo, que não sabiam sequer dar nomes às cores, salvo as das frutas verdes e maduras, que ignoravam sua condição de brasileiros”.
“Aquela escola ao ar livre, à sombra dos bambus, sem mobiliário, se foi a escola que iniciou alguns brasileirinhos foi também a nossa própria escola, a que preparou essa outra, a de Merity”, diz D. Armanda.                  
Em um barracão doado por Bernardino Jorge, pai de D. Ondina Jorge Romeiro, esposa do Dr. Romeiro Júnior, que se notabilizou como médico e político no município, situado no alto de um morro, D. Armanda instalou a Escola Proletária Merity. O jornal “Tópico” editado em Duque de Caxias, datado de 23 de agosto de 1958, em reportagem de página inteira, intitulada “Uma Instituição que Honra a Cidade”, exibe uma fotografia desse barracão sem paredes onde se vêem os alunos sentados nos bancos e a cobertura de sapé. Ao fundo uma casa humilde coberta com telhas de canal.
Estação de Caxias no Estado Novo
 Inaugurada a 13 de fevereiro de 1921, foi a “célula mater da Fundação Álvaro Alberto”. No discurso apresentado pelo Dr. Belizário Pena na “Primeira. Conferência Nacional de Educação” realizada em Curitiba em dezembro de 1927, D. Armanda assim se expressou: “sem um só programa escrito, tomou desde o começo, no entanto, a feição de um lar-escola, embora externato com número limitado de alunos, a quem não se dão notas, prêmios ou castigos. A orientação geral apresentava-se resumida em quatro cartazes com os dizeres: Saúde – Alegria – Trabalho – Solidariedade”.
 Anexo à escola foi fundada a Biblioteca Euclides da Cunha e organizado um museu “com contribuições trazidas pelos alunos, da natureza local”, todos mantidos por um grupo de amigos da fundadora e pela firma F. Venâncio & Cia. (Explosivos Rupturita), da qual nasceu também um time de futebol, o “Rupturita Futebol Club” composto de operários da própria fábrica.
Desde o início, dona Armanda havia planejado dar aulas noturnas para os operários da fábrica de Rupturita. Entretanto, as dificuldades encontradas esbarravam na falta do professor e a ausência de luz elétrica que, naqueles idos de 22, ainda era uma esperança; “É questão de tempo”, diz D. Armanda, “desde que a luz elétrica está a chegar”. 
 Em seu relatório no final do primeiro ano letivo, dona Armanda registra fatos curiosos em relação aos alunos. A modificação do horário das aulas no próximo ano “será das dez da manhã às duas da tarde”, justificando que muitas crianças precisavam prestar serviço em casa, já que era rotina a excessiva ausência por ter que “tomarem conta da casa”, “estarem sujos seus vestidos” ou “terem ido fazer lenha”. 

                                  ENDEMIAS
 As doenças também eram causas de ausência. Rodeada de regiões pantanosas onde proliferavam os mosquitos anofelinos, febres palustres motivavam a fraca assiduidade num universo de 40 alunos. “Em novembro, 17 alunos faltaram às aulas por esse motivo, num período de dois a sete dias cada um, ao lado do impaludismo, dos resfriamentos etc”, diz D. Armanda no final do primeiro ano letivo.    
 A partir de 1922, com a fundação da “Caixa Escolar Dr. Álvaro Alberto”, foi possível fazer visitas domiciliares periódicas às famílias dos alunos mais carentes, prestando-lhes assistência médica, com orientação sobre limpeza, higiene, alimentação e a valorização da vida instituindo o “1º. Concurso de Janelas Floridas”. “As crianças chegavam pela manhã” diz a prof. Maria José, ex-aluna e colaboradora de d. Armanda, “e já encontravam um tabuleiro de angu doce e um latão cheio de mate, que lhes eram oferecido”, surgindo daí o apelido carinhoso: “Mate com Angu”. A escola era alcançada por uma trilha coleando entre o capim. “O barro escorregadio dificultava a subida em dias de chuva”, o que era compensado na chegada, pelo visual da imensa buganvília florida no portão.
“Uma das mais importantes criações de dona Armanda na Escola Regional de Meriti foi o “Círculo de Mães”, continua a profª. Maria José, “onde os alunos e as mães aprendiam trabalhos manuais e recebiam noções de higiene. Para isso ela distribuía com os participantes do curso, sabonetes, pente fino (nesse tempo havia muito piolho), mercúrio e tamancos. Insistia no banho diário com as pessoas e que as crianças usassem lencinhos para suar o nariz. Os alunos ela chamava “meus passarinhos”. Era incapaz de aborrecer-se com eles”.  

                                   NOVO PRÉDIO
Com a transformação da “Caixa Escolar” em Fundação Álvaro Alberto mantenedora da Escola, da biblioteca e do museu, a escola em 1924 passou a chamar-se Escola Regional de Merity, lançando um ano depois, a pedra fundamental para construção do prédio próprio, no amplo terreno doado pelo Dr. Bernardino Jorge e o Sr. Manoel Vieira (40 x 50), sob o projeto do arquiteto Lúcio Costa.
Sede da escola o projetado pelo recém
formado arquiteto Lúcio Costa
Nascido na França em 1902, filho de pais brasileiros que exerciam atividades diplomáticas, Lúcio Costa estudou as primeiras letras na Europa, vindo formar-se em arquitetura pela Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Amigo de D. Armanda aceitou o convite para elaborar o projeto de construção da Escola, o que fez gratuitamente. 
 Erguido com donativos em dinheiro e material de construção “angariados pela” Campanha de Nossa Casa” na então Capital Federal. O município de Nova Iguaçu ofertou 500$000 (quinhentos mil réis), o único dinheiro do governo recebido pela Escola”, (diz Custódio de Aquino), sendo entregue ainda inacabada à comunidade em 1928.
Infelizmente ao longo dos anos, com os processos de reformas e ampliação, teve seu projeto original de linha simples em estilo rural descaracterizado, perdendo assim a Baixada Fluminense a oportunidade de possuir em sua área, o único exemplar arquitetônico elaborado pelo famoso arquiteto.   
Vencida mais essa etapa de sua luta a favor do ensino gratuito, D. Armanda assim se manifestava: 
       “Pretendemos, sim, caminhar passo a passo, de acordo com os recursos que de que formos dispondo. A base material da obra está aí...Agora...Um símbolo...encontrado, e de pronto bem interpretado pelas crianças, faz pouco tempo, numa excursão, exprimirá melhor do que a minha pobre palavra. 
       Era um formigueiro em plena, em ordenada atividade. O grupo de alunos parado, observando. De repente, a professora bate de leve com uma varinha no formigueiro, lançado pânico entre os insetos. Mas não se deu um “salve-se quem puder”! Cada formiga adulta, ao fugir, apanhava primeiro na boca uma larva ou uma ninfa, na ânsia de salvar os pequeninos de sua comunidade. Evidentemente é este o mesmo mistério sentimento que anima quantos trabalham pela Escola Regional de Meriti”. (1)
               Antigas colegas do Colégio Jacobina se revezavam na coleta de donativos angariados com pessoas e instituições, participando também a Liga Feminina Contra o Analfabetismo e a Associação Cristã Feminina, divulgando que essas doações não tinham cunho caritativo, e sim uma tomada de consciência da sociedade contra o abandono em que se encontrava o ensino público na área da alfabetização.
            “O trabalho de Armanda traduziu um novo olhar para a criança num momento de valorização social da infância. Ela deixava de ser vista como um adulto em miniatura passando a ser considerada em sua especialidade. Em 1921, quando a escola começou a funcionar, resultava muito mais dessa compreensão e do entusiasmo pela educação, do que de um projeto específico que se desejasse colocar em prática. O objetivo, no entanto, era claro: promover a educação integral. Lourenço Filho chamou a atenção para a independência intelectual de Armanda, característica que permitiu a singularização de sua obra”. 
Abandonando os métodos do ensino convencional, D. Armanda usava uma nova forma de lidar com os alunos. Respeitando sua realidade sócia econômica, a educação era dirigida em forma de liberdade, porém, associando-se às famílias das crianças, delegava também para eles, a responsabilidade de conceder seu tempo de recreação, higiene e deveres.      
Sem nenhum auxílio oficial, a Escola Regional de Merity nasceu e cresceu graças ao trabalho abnegado de um grupo de amigos liderado por D. Armanda, recebendo prestimosos auxílios que nunca faltaram desde o início: seu irmão almirante Álvaro Alberto e Francisco Venâncio Filho. Seguindo-se Belisário Pena, Corina Barreiro, Heitor Lira, Coriolano Martins, Otávio Veiga e o jovem professor Edgard Sussekind de Mendonça, que se tornaria mais tarde seu esposo, todos pertencentes à Associação Brasileira de Educação em apoio pedagógico à “Escola Nova”, baseada na pedagogia Montessoriana criada na Itália por Maria Montessore, e aplicada na Escola, adaptada às condições sociais brasileiras. “Aprender a fazer, fazendo”, eliminando-se competições tão presentes na sociedade capitalista. 

                                      PROGRESSO
Ainda em 1928, novas realizações vieram melhorar as condições físicas da região, com a inauguração da nova estrada Rio-Petrópolis cortando o centro do Distrito, e a construção da ponte de acesso sobre o rio Meriti, completava com a via férrea, a ligação definitiva ao antigo Distrito Federal. Acompanhados das professoras, os alunos dessa escola fizeram-se presentes ao ato festivo organizado pelo povo, recebendo naquela ocasião, a promessa do governo quanto à chegada da água encanada para o próximo ano. Promessa não cumprida, e contornada com ajuda da comunidade na abertura de um novo poço mais profundo. O combate à saúva era preocupação constante, pois a destruição das hortas e jardins trazia desânimo ao trabalho de professores e alunos.
O início dos anos trinta encontrou Getúlio Vargas no poder. Seu interventor no Rio de Janeiro, Ary Parreiras, tomou conhecimento do trabalho realizado na Escola Regional de Merity, nomeando em abril de 1932 duas professoras para ali estagiarem, e levarem a prática do ensino rural às escolas públicas.   
Também nesse mesmo ano foi saudada a chegada da água encanada, junto com a reforma que o prédio exigia a expensas do Dr. Flávio Lyra. “Finalmente o combate às saúvas, com o auxílio do Horto Frutícula da Penha, novas mudas puderam ser plantadas, reconstituindo o “Calendário da Árvores Floridas”. Além de ser iniciada a criação de galinhas”, diz Ângela Machado em sua monografia: “A Escola Regional de Meriti”.     
Bem relacionada no Rio de Janeiro, dona Armanda levava frequentemente pessoas ilustres dos meios artísticos e intelectuais para conhecerem a Escola. “Cada um plantava uma árvore”, diz ainda a profª. Maria José, “Entre as muitas personalidades que subiram o morro para ver o trabalho que ela realizava com meninos pobres, de duas me recordo muito bem, plantaram árvores e retornavam sempre: Roquette Pinto e o professor Lourenço Filho”.
Em 1934, com a chegada da luz elétrica, novo ânimo animou aquele empreendimento, com a instalação de um motor na oficina de carpintaria. Junto com um projetor de cinema (Kodascópio), oferecido pelo Dr. Roquette Pinto, que exibia semanalmente filmes educacionais fornecido pelo Instituto Nacional do Cinema Educativo, a Escola também recebeu um rádio.
Médico, antropólogo, etnólogo e professor, Edgard Roquette Pinto é considerado o pai da radiodifusão brasileira. Junto com Henrique Morize, ambos criadores e dirigentes da Academia Brasileira de Ciências, fundaram a primeira emissora do Brasil: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro.
Lutou para que os equipamentos de radiotelefonia instalados na Feira Internacional de 1922 no Rio de Janeiro, para comemorar o centenário da independência não voltasse para os Estados Unidos. Convicto do valor educativo e cultural do sistema foi ao ar no dia 1º. de maio de 1923 sob sua direção: a Rádio Sociedade. Explorando sua potencialidade para a instrução e educação, serviu de referência para várias emissoras que surgiram pelo país com o título de “educadora” até 1932, quando através de um decreto federal criou-se o modelo de radiodifusão comercial que predominou desde então.    
Outro amigo da Escola era o professor Manoel Bergstrom Lourenço Filho, educador e escritor brasileiro nascido em São Paulo em 1897 onde, depois de formado, organizou o ensino normal e profissional desse Estado. Mudando-se para o Rio de Janeiro, planejou e estruturou as atividades do Instituto de Educação, dirigindo mais tarde o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Deixou alguns trabalhos publicados: “Testes” (1933) “Tendências da Educação Brasileira” (1940); “Pedagogia de Rui Barbosa” (1954) e livros de literatura infantil: “Histórias do Tio Damião” (1946); “Pedrinho” (1953).     
“Além da educação gratuita”, diz Custódio de Aquino, acompanhante do trabalho de D. Armanda desde o início, em artigo escrito para o jornal “Folha da Cidade”, nos trinta anos de emancipação do município “a Escola Regional de Meriti fornecia merenda, calçados e assistência médica; promovia campanha pelo saneamento através de conferências populares, sempre realizadas na sala do cinema local, proferidas quase todas pelo Dr. Belizário Pena – Apóstolo do Saneamento Rural”. Esse cinema a que Custódio se refere, era com certeza o “Cinema Merity”, o único que existia na Cidade, cujo prédio fica próximo à Escola, na Av. Duque de Caxias, transformado na década de cinquenta em um Hospital Municipal, e onde hoje funciona um supermercado.     

                                      REPRESSÃO
Foram muitas as decepções sofridas por dona Armanda. Vítima de perseguições políticas injustas no governo Getúlio Vargas, foi presa em dezembro de 1935 junto com seu marido, o Prof. Sussekind de Mendonça e com as dirigentes da União Feminina do Brasil, Maria Werneck e Eugênia Álvaro Moreira, e várias personalidades militantes políticas do mundo acadêmico e intelectual, entre as quais Olga Benário, mulher do líder comunista Luiz Carlos prestes. O ”crime” de preocupar-se com o povo era considerado subversivo. “Mesmo na prisão pedia que lhes mandassem os cadernos de seus passarinhos”, que era como tratava carinhosamente seus alunos, que acreditavam estar doente durante sua ausência.  
Ainda nesse período, escrevia cartas a eles dirigidas: 
“Rio de Janeiro, 1 de março de 1937

Como não posso ir hoje aí para receber vocês todos no dia da reabertura da nossa Escola, ao menos em pensamento quero estar perto de vocês.
Sei que D. Zulmira e D. Dulce vão fazer tudo para que vocês não sintam a minha falta.
E sei que vocês também vão fazer um esforço muito grande para trabalhar, para estudar, para brincar, para viver na Escola como se eu fosse aparecer de um momento para o outro e abrir os braços, dizendo o que sempre digo quando chego aí: Bom dia meus passarinhos!
Meus queridos: alunos não há de custar muito a chegar o dia em que vocês vão me ver de novo. Enquanto esse dia não chega, quero ter a certeza de que vocês se lembram de mim: quero receber cadernos com exercícios feitos por vocês, todas as vezes que o professor Edgar for dar aula aí.
Lembre-se mais uma vez que em nossa escola todos os alunos são irmãos, brancos pretos e mulatos; quero ver todos trabalhando juntos, ajudando-se um ao outro, brincando sem brigar.
Tudo que vocês quiserem de mim, é só me pedir por carta, que para vocês faço com alegria o que é possível fazer. Que cada semana um aluno, ou mais de um, me escreva, contando o que se passa por aí: Excursões jogos. Comissão de cada um, doenças etc.
Escutem: organizem as comissões de trabalho muito direitinho, por eleição. Só podem votar os alunos de 10 anos em diante. Os menores podem ser votados, porém não podem votar. Muito cuidado com o museu, com os livros, com a vitrola. E o nosso jardim? As nossas árvores de frutas? As nossas flores?
Para as mães do círculo de mães e para todas as mães dos meus alunos mando um abraço de amiga.
Para vocês minhas crianças, todo o carinho de sua professora muito amiga.                                                                                              Armanda.                                                                                                                       
    
                    SANEAMENTO E AMPLIAÇÃO                                                                                                                           
Os anos quarenta foram férteis para a Escola. A Diretoria de Obras e Saneamento, cujo diretor em 1944 era o engenheiro Hildebrando de Araújo Góis, mandou abrir a rua dando melhor acesso à escola e capinar periodicamente o matagal que vicejava nas encostas. Elogiado por dona Armanda em um de seus registros, assinala que “dentre as campanhas em que se tem empenhado a Escola em favor da comunidade, certamente a do saneamento é a mais importante. Este ano satisfez-nos essa aspiração – a maior do povo meritiense – a Diretoria de Saneamento Rural”.
Em 1946 comemorando o Jubileu de Prata, inaugurou-se com a varanda do prédio que abriga a Escola o pavilhão da biblioteca, a oficina de trabalhos manuais, e a Rua Belizário Pena recebeu uma placa com essa justa homenagem, sendo calçada em 1950, pelo então prefeito Gastão Reis. Anteriormente denominada Rua Santos Dumont, por sugestão da própria Dona Armanda.  
 Inserido em sua monografia a “Escola Regional de Meriti”, a Professora Ângela da Conceição nos mostra um texto original em manuscrito, que fez parte do programa das festividades do dia 21 de abril do ano de 1947, realizadas na Escola. Após a abertura da alvorada com o canto do Hino Nacional, falou sobre a data o Dr. Edgard Sussekind de Mendonça, como presidente de honra do Centro Cívico. Seguiu-se a leitura do texto da sentença condenatória de Tiradentes, inauguração do retrato do patrono do Centro, José Bonifácio de Andrada e Silva, distribuição de doces etc. Dentre os presentes identificados pela assinatura, destacamos encabeçando a lista: Abdias Rodrigues, Solano Trindade, o poeta que viveu alguns anos nessa cidade e seguindo-se a de D. Armanda Álvaro Alberto, inúmeros visitantes.
A primeira subvenção do Governo Fluminense deu-se na festa dos trinta anos, quando Roberto Silveira, Secretário do Interior em visita à Escola, ofereceu Cr$ 10.000,00 do Orçamento Estadual, seguido na promessa pelos vereadores Waldir Medeiros e Zulmar Batista que submeteram um projeto ao plenário, e aprovado (o primeiro do Município) oferecendo uma subvenção de Cr$ 20.000,00, recebida integralmente no primeiro mês, a metade desse valor no segundo mês e no mês seguinte, cortado do orçamento.
Mais uma vez sem nenhuma ajuda do governo, “a Escola conseguiu terminar seu prédio atual de dois pavimentos, com amplas dependências. O mobiliário de suas instalações foi oferecido pelos moradores de Duque de Caxias, numa campanha organizada por D. Martha Ignês Rossi, senhor Albino Vaz Teixeira com a colaboração do jornal “Folha da Cidade”, segundo o jornal “Tópico” de 23/08/58.
 Com inauguração festiva no dia 18 de setembro de 1955, “marcada pela presença de muitos convidados e amigos, entre eles os professores Zilda Farriá e Luiz Alves de Mattos, da Associação Brasileira de Educação; Sra. Dina Venâncio Filho, da Associação Cristã Feminina; Sra. Heloisa Medeiros, Liga Pró-Fraternidade; Sr. José Giupponi, do Clube dos Quinhentos, em Caxias; Sr. Plínio Armando Baptista, da Congregação Mariana; Sr. Santos Lemos, do Jornal Luta Democrática; Sra. Gilda Sussekind de Mendonça e o professor Ovídio Gouveia da Cunha”.       
O pavilhão da Biblioteca Euclides da Cunha assim como a Oficina de Trabalhos Manuais Heitor Lyra, que passou a funcionar num prédio anexo, foi valorizada com a chegada do saudoso José Montes, professor de marcenaria e entalhador das oficinas Leandro Martins, que permaneceria fiel a Escola até 2003, quando uma doença ceifou-lhe a vida.  
Estive presente a esse evento aceitando o convite do Dr. Ruyter Poubel. Jovem estudante escrevia uma crônica semanal no jornal “Folha da Cidade”, e apesar da memória me falhar um pouco, lembro-me de ter encontrado a Escola festiva como uma adolescente no dia de seu aniversário. A figura de D. Armanda, com óculos de lentes grossas e vestido florido era envolvida por todos. Dirigi-me a ela me identificando e recebendo carinhosa atenção. Apesar da idade, mantinha nos lábios finos um baton carmim, que realçava seu sorriso e irradiava uma simpatia que até hoje se mantém em minhas lembranças.

                                 ECOLINHA DE ARTE
Vilma, irmã da professora Olga Teira, Barboza
Leite, Josias, Menezes, Guilherme, e Nélio
Menezes, ao término de uma aula na
Escolinha de Arte, que funcionava aos
 domingos pela manhã no "Mate-com-Angu"
.
A Escolinha de Arte iniciada em 1957 e que permaneceu em atividade quase dois anos, dirigida pelo artista plástico Barboza Leite, reunia aos domingos pela manhã, inúmeras crianças que se espalhavam em mesas ao ar livre, agitando pincéis com plena liberdade de criação. Participei a convite de Barboza como seu “assessor”, dissolvendo e distribuindo tintas, selecionando trabalhos etc., recebendo freqüentemente visitas de incentivo dos amigos: Josias Muniz, Newton Menezes, Custódio de Aquino, Waldair José da Costa, Plínio Baptista, Alberto Marques, Nélio Menezes e outros.   
Plínio Armando Baptista, Nilton Menezes,
Waldair José, Alírio, Alberto Marques
e Guilherme Peres, fundadores
do movimento cultural "Grupo"
Em 24 de fevereiro de 1958, uma grande perda entristeceu os amigos da Escola. Edgar Sussekind de Mendonça falecia deixado uma lacuna difícil de ser preenchida. O jornal “Tópico” na edição de 10 de maio daquele ano dedicou-lhe um necrológio afirmando que “perdemos mais que um mestre e escritor. Perdemos um amigo que compreendia e incentivava os moços... Caxias muito deve a este homem. Aí está a fundação Álvaro Alberto, mantenedora da Escola Regional de Meriti, que o tinha como secretário e principal colaborador. Assim Edgard Sussekind de Mendonça, que em vida foi além de professor do Instituto de Educação, membro da Academia Carioca de Letras, presidente do Grêmio Cultural Euclides da Cunha, colaborador do Instituto Nacional do Cinema Educativo, deixa entre os amigos e sua família uma profunda saudade”.   

                                                    DESPEDIDA
Em 1963, cansada e sem condições físicas para continuar o trabalho, dona Armanda resolveu doar a instituição ao Estado. Entretanto, as exigências burocráticas foram tantas que, em reunião, a Assembléia Geral Extraordinária dos sócios por unanimidade votou pela retirada da proposta, aprovando a doação para o Instituto Central do Povo.
Em sua festa de despedida no dia 15 de dezembro de 1963, quando ainda havia a esperança de sua aceitação na rede de ensino Estadual, a ex-aluna Raquel Solano Trindade, filha do poeta Solano Trindade, escolhida para proferir o discurso assim se expressou:
“E lhes peço, senhores representantes do Estado, quando dirigirem esta Escola, deixe-a como está: com esses móveis, com esses quadros, com o balanço e as flores daquelas árvores lá fora, com os concursos Monteiro Lobato, Euclides da Cunha, com as músicas de natal e São João.
Tornem a fazer a horta, o pomar, a sopa do meio dia feita pelos próprios alunos. Voltem ao antigo horário da Escola, de 9 às 17 horas. E então, senhores, assistirão a outros dois grandes milagres, o primeiro será ver uma geração de caxienses mais esclarecida, mais culta, mais trabalhadora. O segundo milagre é que vai dar nova vida a um coração cansado, que confiou nos senhores, Se os senhores fizerem isso, darão alegria e juventude ao coração desta grande mulher que é dona Armanda Álvaro Alberto”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
“Edgard Sussekind de Mendonça” – Jornal “Grupo” – 10\05\1958
“O Rádio Educativo no Brasil” -  Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro -  Série Memória – Volume 6 – 3\2003
Silva, Ângela da Conceição Machado da – “A Escola Regional de Meriti:  Uma Experiência Pioneira na Educação” – Monografia.      FEUDUC – 2002 - RJ       
Dutra, Maria José Trindade – “Lição de Mestre / Lição de Vida” Depoimento (Fragmento s\ identificação)
Aquino, Custódio – “Escola Regional de Meriti” “Folha da Cidade” - 1973 – Duque de Caxias
Morais, Dalva Lazaroni de – “Esboço Histórico Geográfico do Município de Duque de Caxias”. Arsgráfica -1978 RJ
“Mate com Angú” – Jornal “Grupo” – Junho 1957 – Duque de Caxias RJ
“Uma Instituição que Honra a Cidade” – Jornal “Tópico” – 23\08\1958 Duque de Caxias RJ
 (Fotos: Arquivo da Escola Armanda Alvaro Alberto e do Instituto Histórico da Câmara de Vereadores de Duque de Caxias)