NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM BURRO (Coluna 146)

O caso Lula - do analfabeto orgulhoso da sua própria inaptidão para os estudos - deveria ser melhor estudado pelos nossos sociólogos (aqueles que justificam a ação dos pivetes como uma reação à pobreza a que foram relegados por um sistema político carcomido, dominado pela política econômica neoliberal do Ministro Pedro Malan, agora sob a batuta do seu sucessor, Antonio Palocci). Seria interessante para o País saber por que o Senhor Presidente da República, que deveria ser um parâmetro para todo o País, um exemplo a ser seguido, faz questão de se confessar despreparado para as graves responsabilidades de gerir os destinos de mais de 170 milhões de pessoas.
Essas reflexões nos levam ao primeiro Governo Moacyr do Carmo, nos idos de 67-71. Um cidadão, morador no Parque Lafaiete, telefonou para o Gabinete do Prefeito para denunciar a existência do cadáver de um burro, que morrera atropelado na Rua Washington Luis, mais tarde rebatizada como Henrique Valares. Ao contrário do que hoje ocorre, era fácil falar com o prefeito e mais fácil ainda conseguir ser imediatamente atendido. De pronto, o Dr. Moacyr do Carmo determinou ao responsável pelo Serviço de Limpeza Urbana, um daqueles operários considerados "pé-de-boi", aqueles que não recusam missão, por mais impossível que pareça, nem trabalhos modestos, como remover o cadáver de um burro que estava atrapalhando o trânsito. Ao volante do velho jipe que atendia à chefia do DLU, o servidor partiu célere para o Parque Lafaiete, em busca do burro morto.
No local, o chefe do SLU deveria fazer um pequeno relatório sobre o "achado", antes de remover o cadáver para o "lixão", local que mais tarde se transformaria numa movimentada favela em pleno Centro de Duque de Caxias, hoje rebatizada de "Vila Nova". De bloco de papel e prancheta, o eficiente servidor começou a fazer as anotações de praxe, como a cor do animal, marcas do proprietário (gravadas a ferro e fogo numa época em que não se ouvia falar em chips) e, a parte mais difícil, o local exato em que o animal morrera, isto, é o nome da rua com indicação do imóvel fronteiriço ao "achado".
Depois de muito tentar escrever o nome da rua – Washington Luiz - o zeloso chefe do Serviço de Limpeza Urbana optou por uma solução ao mesmo tempo radical e inusitada. Com a ajuda de populares, ele arrastou o corpo do burro até um cruzamento próximo, exatamente com a Avenida Nilo Peçanha. Só então ele pode concluir o relatório e determinar que o caminhão da limpeza urbana removesse o cadáver do burro para o "lixão".
Embora eficiente e dedicado, o servidor era semi-analfabeto, daqueles capazes até de ler as manchetes dos jornais, mas incapazes de escrever sem ter alguma coisa em que se basear, isto é, liam pouco e, em matéria de escrita, só o que era rotineiro, como cartas para os amigos e bilhetes para algum funcionário. No presente caso, o chefe do SLU empacara, literalmente, na grafia do nome do último Presidente da chamada República "Café-com-Leite", dominada que era pelas elites de Minas e S. Paulo, que se revezavam na chefia do Governo até que, em outubro de 1930, um gaúcho de pouca estatura física, mas de grande visão política - Getúlio Vargas - assumiria o Poder, onde ficaria por longos 15 anos.
Diante da dificuldade de informar que o burro morrera na "Rua Washington Luis", o diligente e dedicado servidor não teve dúvidas em arrastar o corpo do animal até uma rua próxima, cuja grafia era mais fácil. Afinal, Nilo Peçanha era também uma figura ilustre da vida política fluminense, que presidira o País e que mandara construir as duas primeiras bicas d'água ao lado da Estação ferroviária da Vila Meriti. Omitimos o nome do chefe do SLU, já falecido, porque ele não tinha culpa de ser semi-analfabeto num País que, em 1960, era deficiente de escolas e professores. Como, 45 anos depois, redescobrimos.
(Coluna publicada em "O Municipal", Edição Nº 9047 (4 a 11-11-2005 , pg. 5)
CONCEPÇÃO: ALBERTO MARQUES e JOSUÉ CARDOSO.
Foto: acervo O MUNICIPAL