Crônicas de conteúdo histórico-cultural sobre artistas, personalidades, políticos e acontecimentos em Duque de Caxias, RJ, projeto concebido pelos jornalistas Alberto Marques e Josué Cardoso.

segunda-feira, maio 12, 2008

PEDAÇOS DA NOSSA HISTÓRIA

DUAS PENSÕES MARCARAM
A VIDA DE DUQUE DE CAXIAS

Recentemente, o Governo do México resolveu restabelecer a exigência de visto de entrada no País de brasileiros, como forma de dificultar a entrada ilegal nos EE. UU. Para as autoridades brasileiras, o Governo mexicano se dobrou às pressões do governo norte-americano. Quem se espantou com essa medida, na certa não se lembra do que ocorreu por aqui nos anos 50. Dezenas de pessoas chegavam diariamente ao Rio de Janeiro, então capital federal, em busca do Sul Maravilha. Eram retirantes do Norte-Nordeste, atraídos pelas notícias de que aqui era mais fácil “enricar”, isto é, ganhar dinheiro. Ao chegarem à cidade grande, os migrantes eram empurrados para a periferia e para empregos de pouca ou nenhuma qualificação, principalmente na construção civil. Foi então que um prefeito do então Distrito Federal teve a “luminosa” idéia de proibir a entrada dos caminhões, conhecidos como “paus-de-arara” na cidade do Rio de Janeiro. Como a viagem no sentido Norte-Sul era feita pela Estrada Rio - Bahia, que terminava na Avenida Brasil, a passagem por Duque de Caxias era obrigatória. Assim, com reforço do policiamento na barreira de Vigário Geral, era fácil impedir a chegada dos caminhões com os retirantes, que faziam ponto final junto ao Campo de S. Cristóvão, um imponente prédio construído para comemorar o Centenário da nossa Independência, em 1922.

Foi aí que entrou em cena a “Pensão do Norte”, uma residência na Avenida Nilo Peçanha, na divisa da Vila Meriti com o Parque Lafaiete, nas proximidades da Estrada da Várzea. Era ali o ponto final para muita gente que deixava Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Rio Grande do Norte e até o distante Ceará. A atração da cidade do Rio de Janeiro em relação aos nordestinos se devia a um fator histórico: sendo capital federal, sempre era possível chegar até um deputado no Palácio Tiradentes ou um senador no Palácio Monroe, oriundos do Norte-Nordeste, com a carta de um parente ou um político do interior, cabo eleitoral dos nossos congressistas. E um dos mais procurados era o deputado Tenório Cavalcante, um alagoano que fez fortuna e carreira política em Duque de Caxias, dono da famosa “Lourdinha” e que se apresentava em público com uma vistosa capa preta.
Em pouco tempo, a “Pensão do Norte” passou a ser o ponto de encontro dos que aqui residiam e dos que chegavam. Era um abrigo provisório muito perto da Capital e muito conhecido da numerosa colônia nordestina, que incluía figuras de prestígio nacional, como os irmãos, Zé e Luís Gonzaga, Chico Anísio, Ratinho e, mais tarde, o próprio Jararaca, Jackson do Pandeiro e Almira. Era na “Pensão do Norte” que os caminhões deixavam os “paus-de-arara”, que deixavam a miséria provocada pela seca e o latifúndio, como ainda hoje ocorre, em busca de fortuna nas grandes cidades do Sul, com o Rio de Janeiro em primeiro plano.
A outra pensão que fez parte da nossa história era de outro tipo. Era a “Pensão da Olinda”, um bar que funcionava na Avenida Rio Petrópolis, bem em frente à Prefeitura e à Câmara de Vereadores. Era o ponto de encontro das “Secretárias da Calçada”, como eram chamadas as prostitutas que desfilavam pelas calçadas da Rio - Petrópolis e da Praça 23 de Outubro, atual Emancipação, nos anos 50. A “Pensão da Olinda” era o local em que se discutia a distribuição do cimento, monopólio da Prefeitura que causou diversas mortes na cidade, ou a nomeação de uma nova leva de funcionários numa época em que concurso público era palavrão.
Cada uma a seu modo, essas duas pensões fazem parte da história de Duque de Caxias, uma por ser ponto de reencontro de famílias de retirantes; a outra, de encontros de políticos que traçavam os destinos da cidade segundo seus próprios interesses. Nenhuma das duas sobreviveu ao progresso da cidade e às mudanças políticas que sacudiram Duque de Caxias a partir dos anos 60-70, com a transferência da Prefeitura e da Câmara para o bairro 25 de Agosto e o surgimento de novas lideranças políticas e empresariais no Município.
Entre as duas, só a “Pensão do Norte” deixou saudades, pois foi a responsável pela formação de dezenas de famílias, que ali se conheceram. Já a outra, a “Pensão da Olinda”, foi destruída pela chegada dos “motéis” às margens da “Variante”, a hoje perigosa Rodovia Washington Luís. (Ilustação do artista plástico Pedro Marcílio, filho do também artista plástico Barboza Leite, mais um cearense radicado em Caxias desde menino).

2 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Bom dia Alberto.
Excelente reportagem! Este é um capítulo da história da nossa cidade que assim como eu, acredito que a maioria da população não conheça. Quanto ao deputado Tenório Cavalcanti, adorado ou odiado, temos que reconhecer que ele é uma peça fundamental desta História. E sempre sofreu perseguições em virtude das suas origens e pelo fato de contrariar as elites caxienses. Podemos citar como exemplo o fato de não existir sequer uma foto 3x4 do "Homem da Capa Preta" no Instituto Histórico, apesar de ele continuar vivo no inconsciente coletivo do povo brasileiro após tantos anos de sua injusta cassação e posterior falecimento. Saudações.

2:58 AM, novembro 08, 2008

 
Anonymous E.Alvaredo disse...

Cheguei ao mundo em 1940. Onde? Esquinas da Rua Itabira com Av. Itatiaia,onde cresci,estudei e até bem pouco tempo,era zoado pelo fato de não negar minha origem duquecaxiense..o município,até hoje paga sério tributo gerido pelas fanfarronices do Natalício..ainda hoje, Caxias é zoada como "Cidade do Crime"...pílula amargosa, dura de dissolver...prefiro continuar lutando por lembranças mais amenas e otimistas...pena, que Natalicio tenha deixado fanzocos tipo Zé Camilo,verdadeiras viuvas do passado..vade retro...xô!!!

8:29 AM, maio 25, 2011

 

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